Para mim a fotografia é um hobby recente e intenso. Faz apenas seis anos que comprei uma câmera digital, três que comprei uma Canon semiprofissional e desde então costumo dizer que não vou viajar, mas levo minha câmera para novos lugares.
Fico dividido quando ouço alguém dizendo que as pessoas tiram tantas fotos que até se esquecem de aproveitar uma viagem. Por um lado concordo. Me aborreço quando vejo um mar de paus de selfie disparando a esmo, registrando os mesmos sorrisos dezenas de vezes, acumulando fotos que serão esquecidas no fundo de algum HD. Por outro lado, tenho que defender meu hobby.
Fotografar pode ser muito mais que apertar um botão. Registrar uma paisagem bonita em um pequeno retângulo implica em identificar exatamente o que faz com que essa paisagem seja agradável, quais os elementos protagonistas e quais os figurantes.
Principalmente quando estou em um lugar desconhecido e com a câmera por perto, busco instintivamente uma boa foto, que já está lá, parada, a espera de um clique. Na contramão da ideia de dar atenção à fotografia e esquecer da viagem, buscar uma foto me faz olhar com mais atenção ao que me cerca.
Ver algo que vale a pena fotografar me obriga a parar, pensar em qual o melhor ângulo, como deve ser o enquadramento, o que deve aparecer na foto e o que deve ser omitido. Muitas vezes inclinar a câmera alguns milímetros faz toda a diferença na hora de esconder uma placa de trânsito, um emaranhado de fios, um carro estacionado, etc.
Não é tão raro eu implicar com a iluminação natural do lugar. Isso me faz, quando possível, voltar em outro horário, em que o sol incida por outro ângulo e ressalte as cores que a primeira vista estavam ocultas por sombras. Isso é algo que só a fotografia pode me oferecer.
É evidente que com a facilidade das máquinas digitais, a quantidade de fotografias ruins aumentou. Se você tem apenas 24 fotos para fazer durante uma viagem vai selecionar bem o que quer registrar, porém a facilidade de registrar milhares de fotos em um pequeno cartão de memória também facilita bastante na hora de buscar uma boa imagem.
Temos o direito de errar ‘n’ vezes, testar o melhor ângulo, fazer montagens – que podem ser bem mais criativas do que fingir que segura a torre de Pisa –, aderir à moda de reencenar fotos antigas e ver a ação do tempo, fazer pequenos stop motions trabalhosos e divertidos, etc.
Para além da diversão, existe também uma relevância histórica para as fotografias. Várias cidades europeias foram reconstruídas após a guerra com base em registros fotográficos, o uso profissional faz com que a análise de uma foto possa substituir uma longa e desgastante viagem para uma análise presencial, além da junção de fotografias digitais com a internet, que facilitou absurdamente o contato com o que não podemos conferir pessoalmente.
O exagero existe sempre e não atinge somente as fotografias. Assim como ainda existem pessoas que atendem ao celular dentro do teatro ou enquanto dirigem, existem pessoas que insistem em tirar foto em local inapropriado, sem nem se dar conta de que estão atrapalhando muita gente para conseguir uma foto ruim e sem sentido. É um ônus superado pelo bônus.
Acho um grande privilégio poder andar com uma máquina fotográfica no bolso, com um filme infinito que é revelado no instante do clique. Alguns lamentam que não existem mais a expectativa pela foto revelada, a espera para ver o resultado, etc. Eu nunca entendi muito bem esse saudosismo pela angústia, mas de qualquer forma acho um preço muito baixo a pagar pelo benefício da fotografia disseminada com extrema facilidade.
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