quinta-feira, 15 de setembro de 2016

De vinis ao Spotify

 
Desde que eu me entendo por gente tenho contato com discos de vinil. Meu pai tinha uma coleção bacana, com clássicos do rock, como Beatles, Dire Straits, Eric Clapton, Pink Floyd, Supertramp e diversos outros.
O som, antigo, com a vitrola, duas caixas de som e um toca discos eram centrais na sala lá de casa, onde não tinha televisão. Eu me lembro que quando era criança eu também tinha os meus, mas acho que eram ganhados de minhas primas, e não comprados, como alguns da Xuxa e da Turma do Balão Mágico. Eu tinha também, e acho que esses sim, minha mãe havia comprado, era uns disquinhos coloridos, do tamanho de EP’s que contavam histórias. Acho que tinha um do Pinóquio e mais uns dois ou três. Eu gostava muito de ficar olhando para eles, pois eram coloridos.
Meu contato com a música sempre foi muito forte. Meu pai é (ou era?) beatlemaníaco e lá em casa ele só deixava rolar “rock n roll”. “Sertanejo aqui não entra”, dizia ele. Mais ou menos em 1994 meus pais fizeram uma viagem aos Estados Unidos e voltaram com um aparelho que tocava CD’s. Trouxeram alguns CD’s junto também. Foi a sensação do momento!
Lembro de uma vez que fomos a Belo Horizonte em uma loja de CD’s, eu devia ter uns seis ou sete anos. Fiquei completamente maravilhada. Minha mãe deixou eu comprar um para mim, e claro, como toda filha rebelde não segui os passos dos pais. O meu primeiro CD foi da Daniela Mercury – influência de ter passado uma temporada na casa de uma tia minha que adorava a cantora. Acho que custo uns catorze reais na época. Me lembro até hoje.
Quando chegamos em casa eu fui correndo colocar o CD para tocar. Ouvi ele inteiro. Quando acabou, eu abri o aparelho, virei o CD de lado, mas nada acontecia. Chamei minha mãe e ela começou a rir muito, e eu não entendia porquê. Até que ela me explicou que CD’s eram de um lado só. Eu achei super esquisito aquilo. Se tinha dois lados, por que não aproveitá-los?
Eu sempre cresci com a música sendo um elemento central na minha vida, do tipo de ligar para a rádio, pedir uma música e ficar a postos com o dedo no REC do gravador do toca fitas. Durante minha adolescência fui descobrindo novos sons, ganhei meu próprio sonzinho e todo aniversário ou Natal era dia de entrar na Kim Som (uma loja antiga daqui de Lavras) e escolher meus presentes. Era um corredorzinho fino e CD’s ficavam dos dois lados.
Fui comprando bastante CD’s, mas dessa vez de rock n’ roll. Guns n Roses, Iron Maiden, coletâneas. Cometi meu pecado, como todo adolescente, de comprar alguns do Nirvana, mas a fase passou. Lembro-me que tinha uns quatro porta-cds, lotados. Dizia para meus amigos “se minha casa pegar fogo um dia, acho que a primeira coisa que eu salvaria seria meus porta-cds”.
Passei para um som mais pesado – Nightwish, Helloween, Angra. Eu sei, eu não entendia muito bem o metal. Nessa época queria cantar como a Tarja Turunen. (Ainda hoje brinco de karaokê às vezes quando estou bêbada tentando cantar Nightwish, mas não conta para ninguém, tá?).
Quando fiz uns 16 anos e comecei a experimentar as delícias do mundo psicodélico, voltei a ter interesse pelos clássicos em vinil. Sempre às 4:20. As capas se tornaram muito mais interessantes e a música também. Cheguei até a fazer aquele famoso combo sincronizado de colocar The Dark Side of the Moon junto à terceira rugida do leão da MGM do filme original do Mágico de Oz. É claro, se você quer que sincronize, ele sincroniza. Depende da sua força de vontade.
Aos 17 fui morar sozinha em Juiz de Fora para fazer faculdade de comunicação. Quando me tornei bolsista de um programa de pesquisa, juntei as minhas duas primeiras bolsas e comprei minha própria vitrola. Foi lindo! Comprei pela internet, toda modernosa. Como não tinha caixa de som, ligava-a na Tv. Fazíamos festas só ouvindo vinil, projetando filmes estranhos na televisão. De Freaks a Pulp Fiction. E era lindo e super cult.
Eu tinha duas lojas preferias para comprar meus vinis lá em Juiz de Fora. Uma era o Museu do Disco – sempre tinha coisa boa. A outra era o Pare Rock, onde torrei boa parte do meu dinheiro com uma boa coleção do Jethro Tull, incluindo o Thick as a Brick, lindo. Tudo bem que a primeira parte da minha coleção acabou sendo com alguns discos “roubados” do meu pai. Afinal, a vitrola dele não funcionava mais e ele nem gastava tempo ouvindo discos.
Vários Beatles, Supertramp, Pink Floyd e Led Zeppelin ainda tem o nome dele escrito na capa do disco. Hoje tenho minha própria coleção. Há alguns anos algumas fábricas começaram a (re)lançar vinis. Até hoje tenho aquele sonho de consumo dos discos dos Mutantes e do Arnaldo Batista. Acho que nessa época comecei a virar adulta e a ficar pão dura.
Para minha maravilha, quando me casei, meu marido tinha uma boa coleção também, e hoje sempre fazemos algumas festinhas ouvindo vinil e sempre temos que ficar o dia seguinte organizando-os. Uma pena foi termos um dia ficado completamente wasted e deixado os discos no sol. Perdemos um dos discos de uma das nossas bandas preferidas, The Band, todo retorcido pelo calor. Triste fato.

Confesso que por mais que ame os meus discos e por mais que gostaria de passar mais tempo escutando-os, a vida adulta tem sido muito corrida e quase não sobra tempo para isso. Nos mudamos de casa já tem mais de uma semana, e nem sequer ligamos as caixinhas de som na vitrola. Mas é assim mesmo. 
Que fã de vinil nunca teve aquela conversa sobre a qualidade do som? "Vinil é melhor"! "Tá doido? CD é muito melhor!". Por mais que a gente saiba que mp3 não é lá grandes coisas, ultimamente o Spotify tem reinado aqui em casa. Os discos, eles precisam de carinho e de atenção. Prometo reservar em breve um final de semana para eles, pobrezineos. 

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