domingo, 13 de setembro de 2009

Viagem

No muro da beira da estrada eu vi pichado o enigma:
Eu fui para Nicarágua
e recebi Jesus numa encruzilhada

E o carro corria solto feito o diabo

Era ponte
Barreira
Braço de rio
Lagarto estraçalhado
Entroncamento de estrada

A louca com carrinho de supermercado que tinha gatinhos tecidos na alma
instruía a moça cabeça-de-vento: “A paixão cega, minha filha”

E minha avó ensinando o papagaio a pedir esmola: “vai que eu lhe falte um dia.”

"Quem ama deixa."
- pregava a velha com catarata no peito.


"se quiser fugir, tropeça na primeira esquina"

[Tudo, sem saídas de computador]


Eu abasteci o carro e vi o céu azul de suely na pensão amaralina

Minha alma de segunda entendeu tudo
fiz o pelo-sinal-da-santa-cruz e passei a terceira marcha

Levantou um poeirão fenomenal

E eu vi Santana nunca mais me deixar, pelo retrovisor.





São Paulo, agosto de 2009

4 comentários:

  1. Achei um conto/poema estranho no computador. Não sei se era meu. Se recortei, colei, guardei. Faço isso, mas não tenho memória. Mexi muito, virou outra coisa, então postei. Eis.

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  2. decifrando... poesia, prosa, cinema e coisas vividas, tudo junto no liquidificador.

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  3. ...
    de tão bonito, deixa a gente estupefada.

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  4. não decifrei o enigma.

    terei que voltar e viajar novamente.

    .

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