quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Preserve seus links

Nunca esqueça de suas referências;

Olhe para trás apenas para buscar bons exemplos;

Pare de se programar tanto, e aprenda a se decepcionar;

Não duvide das coisas simples da vida, sempre achei que são elas o nosso indicador de mudança;

Escolha músicas para marcar momentos, pesquise músicas para novos momentos;

Encontre um tempo para caminhar sozinho, seja lá qual for a interpretação que você faça desta frase;

Nunca negue um abraço, pois até com um passo a frente você não estará mais no mesmo lugar (Grande Chico);



Encontre sua alegria

Beijos/ Abraços
Jeff

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

aquele abraço!


Diferente da maioria a curiosidade por aqui só atingiu nível máximo no primeiro turno, pois estava ansiosa para saber o tipo de eleitor que mais se destacaria nas eleições, principalmente em São Paulo.

 E quando divulgado quais candidatos receberam o maior número de votos pude confirmar algumas dúvidas e esclarecer impressões que nitidamente apontavam os rumos do segundo turno.

Antes considero importante desvincular a espantosa e horripilante ascensão do conservadorismo nas eleições de 2014 com as Jornadas Junho de 2013 e para isso venho concordar plenamente com o integrante – Legume do MPL:

“Quem aposta na via eleitoral para explicar a Junho está completamente equivocado. Se você espera que é a mobilização popular que vai alterar as eleições, você não entendeu nada sobre mobilização popular nem sobre eleições. A grande questão de junho é que foi uma via não institucional, que a gente apostou e que a gente continua apostando”, explica.
Legume reforça que a esquerda tinha que fazer uma autocrítica e rever sua ausência dos movimentos de base. “Então, se o projeto eleitoral não se realizou, isso não tem a ver com as mobilizações de junho. Junho foi a prova de que a esquerda precisa voltar a fazer trabalho de base, se organizar diretamente, para a partir daí poder crescer.”
O membro do MPL ainda ressaltou que o legado das Jornadas de Junho estimulou as pessoas a lutarem ainda mais e a se articularem de maneira autônoma. Legume também declarou que o posicionamento do movimento no segundo turno "será o mesmo."
“Não são das urnas que virão as transformações reais para a população, e sim da organização popular. As ruas não estavam pedindo um novo salvador, mas estavam se organizando para se criar outra coisa”, conclui.
(José Francisco Neto – Brasil de Fato – 10/10/2014)

Feita a divisão compreendemos porque determinado deputado em São Paulo recebera cerca de 1 milhão, veja, se trata de um milhão de votos, sendo um dos representantes do alto escalão de determinada igreja, que lembre-se recentemente esta igreja inaugurou um dos maiores se não o maior templo erguido neste país. Haja dízimos, ofertas, propósitos e demais contribuições.

Fico aqui na minha reles mentalidade medíocre pensando quantas minha casa minha vida 1,2 e 3 bem como quantos prédios de locação social não seriam construídos com todo dinheiro arrecadado para a construção da casa do senhor.

Escrevo senhor no minúsculo, pois creio não ser o mesmo Senhor que conheço que não precisa de templos com pedras vindas de Israel ou de cerimônia do antigo testamento do qual Ele aboliu que se fizesse referenciando-nos em apenas dois grandes mandamentos que se diga são dificílimos de praticar ou é necessário ainda que se faça cartilha de moda para comparecer ao templo e falar com Ele.

Acontece apenas com esta igreja cujos donos têm uma emissora que está em busca de ser uma rede globo gospel? Não. É impressionante como está acontecendo noutras, chegou ao cúmulo do absurdo de nas eleições termos a presença de excelentíssimos cristãos norte americanos com pronunciamento de profecias que não se cumpriram, fiz questão de assistir bem como de observar que não aconteceu nada do que fora dito, então quem foi mesmo que falou?

Se alguém pergunta se acredito em Deus mesmo após diversas decepções quando no passado era atuante e ativa enquanto membro de determinada igreja (e conhecendo a doutrina de várias igrejas) se mesmo assim ainda acredito em Deus após conhecer através de leituras Marx, Foucault, Pepetela, Rosa e outros, digo sem titubear que acredito no Pai, Filho e Espírito Santo e ainda confirmo que mantenho relacionamento íntimo com direito a oração e tudo mais. Coisa de louco? Pode ser. Talvez mude, mas creio ser difícil. E porque não juntar o que é bom e me cabe ao invés de separar ou ser isso ou aquilo que dizem que devo ser e não ser nada, nem mesmo o que quero, posso ser.  E permito que tire suas próprias conclusões, pois o que pensam e acham de mim não é um problema meu, pode acreditar.  

Com isso declaro guerra contra o povo de Deus? Não.

Mas compreendo ser necessário avaliar o grande progresso dos templos, tornando-se verdadeiros caixas eletrônicos no somente pedirem ofertas, dízimos, propósitos, carnês, pagamento em prestação usando a função crédito; tanto é que os comparo com as agências do banco Bradesco a cada esquina do cabrobrorô do sertãozinho existe uma, mas na questão do dízimo está resolvido darei o meu na seguinte divisão 10% do salário dividido para organizações que fazem caridades ou associações que visam outra sociedade (exemplo AAENFF – Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes) e o que sobrar entrego para igrejas com projetos sociais provavelmente as católicas pois são as que mais se envolvem nas expressões da questão social mais do que as evangélicas/cristãs. Pior é notar a constante ocupação da política como forma de angariar ainda mais espaço na sociedade.

Torna-se mais evidente esta ocupação política quando na inauguração do novo templo são convidados duas figuras políticas importantes, governador e presidente.

Neste ínterim o governador curiosamente já se erguera após os acontecimentos de Junho de 2013 quando fez péssimo uso da segurança pública contra manifestantes (um dos motivos de ter engrossado os atos), ao controlar as manifestações que tinham “pessoas violentas” (ou na verdade os P2) que compareciam aos atos não para manifestar, mas com objetivo de acabar com a festa da Copa.

Através da judicialização (e criminalização do direito de greve) controlou a greve dos metroviários como bem lembrado pelo programa Roda Viva da TV Cultura no debate sobre as eleições de 2014; através do veto de qualquer informação e divulgação sobre a crise da água afirmando várias vezes que não ocorreria racionamento; através da atuação na Copa unindo policias civis e militares mesmo precariamente; e principalmente através da segurança pública usando-a como curral eleitoral ao designar batalhão especializado (ROTA) no combate à violência no interior paulista (onde recebeu maioria de votos), também pelo uso da segurança tão bem exposto pelo ex-secretario de segurança  que não somente falou da gestão do atual secretario de segurança resumindo como lixo bem como do governador e da porcaria ou falácia que é o detecta carro chefe da propaganda eleitoral. É uma pena ter mencionado sua opinião e terem divulgado apenas após as eleições.

Mas independente disso a visita na inauguração do templo havia lhe garantido milhares de votos mesmo se o citado fosse divulgado antes das eleições de nada adiantaria. Portanto pode-se compreender porque e quem perdeu no primeiro turno ao acreditar que apenas com presença do eleitor histórico (Lulalá) e na crença que ainda exista base política forte na periferia como antigamente e a favor do seu partido pudesse eleger candidato a governador, senador e presidente facilmente, sem grandes entraves. 

Ou iludiu-se ao julgar que os cristãos ultraconservadores seriam fieis à senhora porque visitou o templo e marcou presença como autoridade máxima, os números do primeiro turno mostraram que não, tanto é que pretendem ser oposição com o mar de lama instaurado na política e obviamente contra a capetada que usa vermelho, a cor do diabo (portanto são os filhos do cão, são eles os sovietis, venezuelitas, bolivaristas, cheguevaristas, comunis, socialis, anarquis bem como todos do petê e humpft haja paciência eim com tanta ignorância, ainda bem que encontro teses defendidas por cristãos com viés marxista às vezes até mesmo anarquista, o que ajuda a ter esperança na vida e nos outros).

Mas rapaz, vê se não é de lascar! E dá uma vontade danada de dizer -  vai orar e buscar o conhecimento de Deus e dos homens que faz bem e ajuda a viver e tomar vergonha na cara! Pois Deus não muda você, se assim você não quiser, pois Ele tem mais o que fazer, é muita gente para olhar e transformar se assim quiser, do que insistir com gente que não enxerga o cisco ou trave nos próprios olhos. Fica só no vem com Deus no vai com Deus e ignora o mundo ao redor servindo de servo para homens que não querem saber de nada além de dinheiro. Não é apelo para sair da igreja mas sim compreender que Deus não se resume em dinheiro e no ter na forma mais capitalista e selvagem impossível. Vai se converter em cristão diacho de gente sem noção!

Não bastasse isso resta também à ascensão de outra ala ultraconservadora. Não tenho outra palavra para definir quando policiais reacionários ocupam cargos públicos com disseminação da defesa da violência para redução da criminalidade, redução da maioridade penal (a discussão iniciou aqui) e principalmente ao querer revitalizar ideias já ultrapassadas, resolvidas pelas linhas da história do país. Ou alguém acredita ser possível em pleno século XXI dividir o país ao meio, com a união do sul e sudeste separando-os do restante do país. E posso concordar desde que toda mão de obra e todos trabalhadores nordestinos (domésticos, prestação de serviços, pedreiros, garis etc) e descendentes possam ir embora e deixá-los a morrer no mar de ignorância e cemitério de cidades.

Não sou contra a ocupação de policiais em cargos políticos desde que não sejam retrógrados, reacionários e ultraconservadores principalmente ao tentar culpar nordestinos e culpabilizar os 30 milhões de votos nulos (fruto da decepção com políticos e partidos) como responsáveis pelas mazelas do país ou do resultado das eleições (ganha democraticamente e sem dúvidas quanto à vantagem) como o coronel julgou e acusou de forma equivocada.

É necessário se desprender de roupagens velhas da década de 30. E compreendo que exista avanços na perspectiva de segurança pública para repensar algumas questões, prova disso são as discussões promovidas por um grupo de policiais baianos na divulgação de ideias, propostas, indagações através do site abordagem policial para melhor compreensão de como podemos crescer intelectualmente e politicamente seja no debate ou no intuito de nos organizar politicamente principalmente enquanto pessoas que querem de fato uma mudança e não a conveniência de alguns privilégios apenas para poucos e de maneira restrita.

E não se enganem há de ser anos difíceis principalmente pela cegueira que insistem em se manter para não enxergarem que as injustiças e mazelas sociais acontecem justamente pela manutenção dos setores reacionários e ultraconservadores. Mas como explicar isso para quem acha que Deus é caixa eletrônico que o templo é banco, que segurança pública  pode ser curral eleitoral e policial reacionário pode ocupar cargos públicos e políticos, porque embora acredite que não deve satisfação a ninguém mais do que seus eleitores o cargo do qual ocupa é público e portanto é direito de todos reivindicar e reclamar se assim precisar. Talvez agora possa também compreender o discurso do guardei a carreira,  a fé e o cinismo. É de doer e gritar feito louca.

Então resta mandar AQUELE ABRAÇO para àqueles que cooperam (especialmente as pessoas do norte, nordeste, minas e rio) de alguma forma seja no voto, seja na luta, na disseminação de boas ideias e propostas que notaram a importância de se posicionar contra determinados tipos de conservadores e setores reacionários, AQUELE ABRAÇO, bem apertado com direito a cheirar o ombro de tão forte, AQUELE ABRAÇO.  

terça-feira, 28 de outubro de 2014

It's evolution, baby

Reciclando textos de 2008, por falta de tempo (e programação adequada, porque 26-quase-27-anos-nas-costas não significam nada se tu não se lembra das coisas, mesmo que tenha uma agenda com tudo anotado).

Aviso aos navegantes: conto + escrita automática. Dê desconto. Ou não. Call me mad. Não seria novidade mesmo.



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Diário de H. R. - dia 37

- Você fez bem em vir para casa, meu amor, se estava tão cansado.
- There's not a place like home - disse Oliveira.
- Tome outro matezinho, acabou de ser feito.
- Com os olhos fechados parece ainda mais amargo, é uma maravilha. Se você me deixasse dormir um pouco, enquanto lê uma dessas suas revistas.
- Sim, querido - respondeu Gekrepten, secando as lágrimas e procurando "Idílio" por pura obediência, embora se sentisse incapaz de ler o que quer que fosse.
- Gekrepten.
- Sim, amor.
- Não se preocupe com tudo isto, minha velha.
- É claro que não, meu bem. Espere que vou colocar outra compressa fria.
- Dentro de um instante levanto-me e vamos dar um passeio por Almagro. É bem possível que esteja passando algum musical colorido.
- Amanhã, meu amor, agora é melhor que descanse. Você veio com uma cara...
- São coisas da profissão, que posso fazer? Não se preocupe. Escute com o Cem Pesos está cantando, lá embaixo.
- Devem estar trocando sua comida, animalzinho de Deus - disse Gekrepten. - Está agradecendo...
- Agradecendo - repetiu Oliveira. - Agradecer a que o tem engaiolado.
- Os animais não se dão conta.
- Os animais - repetiu Oliveira.

(Jogo da Amarelinha, Cortázar, Capítulo 77)


As horas, horas, horas... But I still have to face the hours, don't I? I mean, the hours after the party, and the hours after that... Minha trilha sonora imaginária de piano continua tocando... a mesma batida.. madness...

O silêncio.

O Diário do Esquecimento continua sendo escrito, e não sei ainda se sou eu quem controla esta mão. Não sei onde o limite da minha consciência se encontra. Está tudo nublado. "São os remédios, coração..."

O piano. pam. pam. pam. pam.

A marcha segue.

Não, não que esteja pirando ou algo assim. É que a batida é a mesma, como as de um relógio, e é uma cronometração dos instantes que se passam, como se fosse um tempo controlado, como se.. como se houvesse um controle do tempo. Convenções. O que pode ser escrito pode ser controlado. Neh, only in your mind, baby. O tempo é escrito. Descrito. Mas não existe. Não é controlável. Like DamnGod. O Amiguinho Imaginário de todas as horas de ignorância ou pânico. Onde acaba a explicação ele começa. Não que negue ou aceite Sua (in)existência, apenas nego Sua prepotência, Seu poder sobre tudo, a habilidade de ser absoluto. 

Sua infinitude não me convence. Não concebo em mim a ideia de infinito. Há o conceito, mas não consigo imaginá-lo. Mesmo que um conceito exista, não há a garantia de sua existência de fato. E se, por mim, eu juro, existisse um Deus tão ridículo a ponto de querer controlar tudo, ter esse poder e, ainda assim, obrigar a partir de votos, as pessoas a Lhe adorarem e cumprirem Suas ordens, como se fosse algo natural e previamente estabelecido num contrato onde não estive presente, mas assinaram por mim, eu juro por Sua existência, se pudesse, Lhe cuspiria na cara.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Funk ostentação


No final de semana passado, quase ninguém que mora na minha rua pôde dormir. Até às 4 da manhã, dois carros com som potente (as janelas estremeciam pela vibração) estiveram ligados por umas 8 horas ininterruptas.  A altura do som estava num nível insuportável (pelo menos pra mim), de total perturbação, que abre as portas do inferno que existe dentro da gente. 

Não apenas no meu bairro, mas em diversos pontos da periferia da cidade de SP se realizam os chamados “fluxos” (desconfio que o nome “baile funk” só é usado no RJ), geralmente aos finais de semana, mas não necessariamente. Já vai completar dois anos que ocorrem esses eventos na rua onde moro. Todos os finais de semana eles estão aqui. TODOS. Sinto falta do silêncio e da paz, de poder curtir um lazer tranquilo na minha casa...

Desde que o funk chegou a São Paulo, vindo do Rio de Janeiro, ele abarcou (não apenas, claro) uma boa parcela da juventude pobre e se tornou mais do uma curtição musical, ele é um estilo de vida. Sei que há diversidade dentro do movimento, mas o que ouço no “fluxo” são apenas músicas do tal “funk ostentação”. Basicamente, seguindo a batida forte, jovens e até crianças narram experiências sexuais e ostentam o poder econômico.

Eu sofro vários conflitos a respeito dessa situação, porque sou a favor da ocupação dos espaços públicos, de manifestações culturais e não acredito na resolução de conflitos pela violência. No entanto, ser privada do sono noturno e do descanso do caos da cidade faz a razão ceder lugar às emoções mais do que eu gostaria...

Não sou nenhuma estudiosa do assunto nem nada assim, mas uma possível interpretação desse movimento é que ele revela uma autoafirmação. Se os pais e avós abaixavam a cabeça e entendiam “qual o lugar deles”, esses jovens querem ser reconhecidos pelas cartas do jogo; afinal, não se é “vencedor” quem pode consumir certas marcas e produtos? Seja fruto da imaginação, endividamento de seus pais, etc, não importa: eles vão reescrever suas histórias a partir de um ponto de vista vencedor. Inegável que as músicas ficarão registradas pra posteridade.

Em geral, mudanças sociais começam por uma alteração subjetiva. Colocar-se como sujeito com poder, ainda que objetivamente possa não ser, é um avanço. Contudo, falta o passo seguinte... falta destruir esse jogo imundo e construir outro, não querer ganhar com as regras dadas. Porque esse jogo está com os dias contados, seja pelo fim do capitalismo, seja pelas condições ambientais que põem em risco o Planeta habitável.

sábado, 25 de outubro de 2014

O Amor Não Tem Futuro?

Há pouco, assisti a um documentário chamado O Amor Após Análise, onde uma senhora que creio ser a psicanalista diz que “o amor não tem futuro”. No mundo onde somos bombardeados com a informação que ‘só o amor constrói’, como é possível acreditar que este amor não tem futuro? Meu espanto foi tamanho que precisei pausar o filme e me preparar para o momento que ela diria que tudo não passava de uma grande mentira e que sim, o amor tem futuro, inclusive para mim.
No consultório desta psicanalista, os pacientes contam sobre seus encontros afetivos e passageiros, sempre seguidos da decepção, de alguma frustração imediata e a frase que já ouvimos e dissemos inúmeras vezes: “Esse daqui não tem futuro!”. Futuro pra quem? do que? E onde? Que futuro é este? É o casamento, o filho, a relação duradoura, a estabilidade? Quantas perguntas precisarei fazer e quantas respostas terei de procurar para descobrir que aquele fulano, com quem saí uma única vez, não tem futuro?
“O amor não tem futuro porque é dito no presente. Não é o amor do passado que virou lembrança, tampouco o amor que pode vir a acontecer no futuro que desconhecemos”.
Finalmente, encontro a frase que me faz respirar um pouco mais aliviada, embora assustada com a desmistificação do amor. Ele que é amplo e sem fronteiras. Já reparou que somos nós quem o limitamos? Não se pode amar por uma noite, por uma semana, com mais de uma pessoa, nem de maneira inusitada. São em situações como esta, quando deparo-me frente a frente com as marcações que coloco em cima do amor que lembro da canção de Marisa Monte Nando Reis, gravada pelo Cidade Negra: “Amor que não se pede, amor que não se mede, que não se repete“.
E se o amor chegar em algum momento inconveniente, não se preocupe. De amanhã não passa, ele não tem futuro.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O Facebook, as eleições e a falácia do voto nulo

Esta é minha primeira eleição presidencial no Facebook. Estou me divertindo. Não tinha ideia do tamanho do furor com que as pessoas se atacavam na busca de convencer aquele amigo da pré-escola de que ele é um tamanho idiota por suas escolhas retrógradas e escrotas. Por um lado eu fico feliz porque, ao menos por algumas semanas, os “cientistas políticos” tomaram o lugar dos “comentaristas esportivos” e minha tia deixou de me informar quantos dias, afinal, faltavam para sexta-feira e passou a me enumerar os prejuízos que eu teria ao não votar num candidato cristão. Por outro lado, aporrinha-me o fato de que as discussões, na grande maioria dos casos, são vazias e despolitizadas, baseando-se em toda a sorte de preconceitos e argumentos que não passam por qualquer tipo de reflexão crítica, mas que, pelo contrário, apenas reproduzem o que os donos dos grandes veículos de comunicação dizem.

Assim, nestas últimas semanas têm desfilado por minha timeline todo tipo de eleitores despolitizados. Digo isso porque entendo que despolitizado não é apenas aquele que não se interessa por assuntos políticos, mas também aquele que vota valendo-se de argumentos alheios à política (“votei na Marina em homenagem ao Eduardo Campos” ou “não voto no PT porque o Lula é cachaceiro”), aquele que vota baseado no cômodo senso comum (“voto no fulano porque ele é a favor da diminuição da maioridade penal e, se pode fazer filho, pode ir preso” ou “não voto em petralha, porque ali é tudo corrupto”) e aquele que vota baseado unicamente em pesquisas eleitorais que, diga-se, são encomendadas pelos já citados grandes veículos de comunicação (“prefiro o Fulano, mas voto no Beltrano porque o Fulano está ganhando e Beltrano não tem chance”).

No meio de tanta tonteria, uma das coisas que mais me chamou a atenção é a quantidade de amigos meus que está fazendo apelo pelo voto nulo. A princípio, não acho que o voto nulo seja ilegítimo. Dentro de um contexto democrático, o voto nulo (ou branco) representa o direito pela escolha de não escolher. Também acredito no poder que o voto nulo tem de manifestar o protesto de uma camada de insatisfeitos. Para citar um exemplo, a soma de votos nulos, brancos e abstenções (eleitores que não foram votar) superou o número de votos de quase todos os candidatos para presidente, ficando atrás apenas da candidata Dilma Rousseff. Isso é bastante significativo e pode servir de sinal de alerta de que as coisas não andam bem. A despeito disso tudo, entretanto, acredito que o voto nulo pode significar um tremendo tiro no pé.


Digo isso porque no Brasil os votos brancos e nulos não possuem efeito prático algum. Diferentemente do que alguns dizem, os votos brancos e nulos não têm o poder de anular uma eleição, já que somente são considerados os votos válidos, aqueles que são dedicados a algum candidato ou candidata. Se em uma eleição houverem 100 votos, sendo que 99 destes forem nulos, será eleito o candidato contemplado pelo único voto válido. Não digo que acho justo, mas isso é o que prevê nosso atual Código Eleitoral. Apenas para constar, o mito de que uma eleição é invalidada caso mais da metade dos eleitores optem por anular seu voto, veio da interpretação equivocada do artigo 224 do Código Eleitoral que prevê a remarcação de novas eleições, caso seja constatado que mais da metade dos votos de um pleito foram oriundos de fraude, o que caracterizaria a “nulidade” destes votos. 

Assim, quem vota nulo acaba por fazer com que os votos de quem escolheu algum candidato tenham um peso matemático maior. Pensando de modo totalmente pragmático, podemos dizer que os votos brancos e nulos fazem com que os candidatos precisem de menos votos para ganhar no primeiro turno, fazem com que um deputado precise de menos votos para se eleger, etc, ou seja, o voto branco e nulo torna mais fácil a vida de quem não vota nulo. Isso, ainda pensando de maneira completamente pragmática, soa um grande contrassenso.

Digo isso porque a grande maioria das pessoas que conheço e que vão votar nulo são justamente pessoas que chegaram a esta decisão por reflexões totalmente politizadas e que teriam escolhas, caso optassem por tê-las, bem mais interessantes do que as pessoas que escolhem algum candidato. Dando nome aos bois, tenho certeza que a última opção de meus amigos que votaram nulo no primeiro turno, era ter votado no Geraldo Alckmin para a reeleição em São Paulo. Caso tivessem votado em algum partido de esquerda, por exemplo, mesmo que não o agradassem em sua integralidade (isso é impossível, creio), talvez estaríamos tendo um segundo turno agora.

Os defensores do voto nulo que me perdoem, mas nesta escolha está implícita a ideia de que todos os candidatos são iguais, o que está bem longe de ser verdade. Concordo com a tese de que a democracia não se resume ao ato eleitoral e de que devemos brigar por direitos seja qual for o nome que estiver assumindo o papel de governante, no entanto, é sempre bom poder escolher quem será "o inimigo". 

***

Bom, o fato é que no próximo domingo mais uma eleição terá chegado ao fim e as luzes de natal que já observo de minha janela me informam que o ano também segue o mesmo caminho. Estou curioso para saber como vai ser segunda-feira, quando minha tia voltará a me lembrar quantos dias faltam para sexta-feira e quando os comentaristas esportivos voltarão a discutir se a bola bateu na mão ou se foi a mão que, zombeteira, bateu na bola...


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Um dia narrado em multimídia!


05:00, aqui no ponto de ônibus.
Vai demorar para o sol nascer ainda. Frio. Frio não: gelado mesmo. Um vento de cortar.

05:01.
Finalmente o ônibus veio.
Geralmente são as mesmas carinhas, as mesmas pessoas que sempre acordam nesse horário pra trabalhar.
Quando esse post for ao ar, espero poder estar acordando lá pelas onze de novo, após uma madrugada intensa de missões em um dos meus games!

Li, acho que um mês e pouco atrás, que o importante para qualquer texto feito para a internet seria o foco.

Foi numa das edições da revista Superinteressante!
Eu tava prestando serviço à Jovem Pan, e decidi ir até a banca, comprar um lanche e algo pra ler, pra fazer com que o tempo passasse mais depressa.

Qual não foi minha surpresa, a reportagem de capa tratava sobre organizar sua vida, nessa correria que se transformou o nosso dia-a-dia.

O autor dizia sobre seu bloqueio de jornalista, que tinha um prazo pra entregar o texto, sua reportagem, mas do branco que o atrapalhava terminar as últimas linhas.

"Escreva quando puder. Quando estiver inspirado. Faça anotações. Se for pra escrever uma linha por dia, o faça. Mas não deixa de traçar metas!"

E aqui estou eu. Sentado ao lado de um cara que não conheço, às 05:09 da manhã, do dia 23 de setembro de 2014. Primeiro dia da primavera desse ano.

Também passo por esse branco.
Inúmeras vezes tentei voltar ao meu blog, sem sucesso.
Comecei a reparar que sempre me frustrava. Ia lá, escrevia pros leitores que dessa vez era pra valer, caprichava no post, e já no dia seguinte... Cadê o ânimo?!

Aqui, no blog das 30 pessoas, busquei por blogueiros na minha mesma situação. Pessoas que tinham suas páginas, mas que resolveram escrever uma vez por mês. Para não deixar de redigir de vez.

E encontrei!

Tem alguns que gostei tanto que cheguei a pensar: "Que pena que ele/ela não escreve mais todos os dias.
É uma delícia de texto!"

Mas entendo bem.

Cheguei à rodoviária de minha cidade.
Tirei uma foto pra mostrar que não tem quase ninguém aqui hoje, nesse horário.



Também fiz um print da tela do meu celular pra mostrar o quão frio tá aqui.
Um vento de gelar a espinha.
15°C?!
Sensação de -5°C!!!



Acho que darei uma pausa na escrita agora.
Ficar um pouco quieto.
Seguir a recomendação do jornalista da Superinteressante. O qual, obviamente, fiz questão de agradecer e parabenizar pelo Twitter.

Escreva quando tiver vontade.
Não se sinta obrigado.
Por agora, acho que tá bom!
Bora esperar o segundo busão dessa fria manhã de setembro!

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Resolvi voltar só pra registrar que já tô dentro do ônibus que me levará até a cidade vizinha, onde tô fazendo freelance (não lembro se escreve junto ou separado).



Parando de novo!
Vou ouvir música!

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Comecei com essa: "Meu vício agora" - Kid Abelha


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Tá rendendo!
Meio-dia e nove.
Acabo de ouvir no horário eleitoral "gratuito" obrigatório algo que"tirou" a paz de um amigo meu, no Facebook, há uns dois dias: "Estão propondo acabar com a polícia?! Foi isso mesmo o quê ouvi?!"

Sim, querido. Foi.

Tem coisa que, se eu não ouvisse, eu não acreditaria.

Penso que nunca antes na história desse país, a internet tenha sido tão importante numa eleição.

Por exemplo: um ator contratado, fazendo um sotaque nordestino, acabou de dizer no programa do partido dele que a candidata dele tá liderando isoladamente em todas as pesquisas.

Não é bem assim não, meu filho.

Eu sempre disse da importância da população ter acesso à rede mundial de computadores.

Mas fiz uma "pesquisa", durante as eleições, pra saber se as pessoas buscavam informações sobre seus candidatos na internet.

O quê mais ouvi foi "não! Prefiro ver sobre novelas e afins!"

Não sou contra novela, e nem nada.
Mas eu acredito que também seria importante informação.

Aqui em São Paulo, dois candidatos que lideram nas pesquisas me fazem sentir vergonha alheia e me levam a pensar que o povo realmente não tem memória.

Um, só faz palhaçada (se bem que a grande maioria nos fazem de palhaços mesmo). Dos poucos projetos que criou (todos sobre o circo, literalmente), não defendeu nenhum na bancada.

O outro que lidera, assim que pôr um dos pezinhos lá fora, a Interpol pega.

Dá pra entender?!

Inclusive, esse candidato aí (o segundo que exemplifiquei) já está inclusive com a eleição impugnada, porque caiu na ficha limpa.

Quando esse post for publicado, vamos ver como estará o nosso país, nosso estado. Espero que aí onde você mora, tudo tenha corrido bem.
E que se você me lê fora do Brasil, torça por nós.
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Show. Ônibus superaqueceu.
E é o mesmo carro que pego de manhã. E sentei na mesma poltrona. Olha a foto aê!



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Muito bem!

Depois de ter tentado fazer o melhor possível, acho que se me estender mais, o negócio vai ficar massante! Por isso vou terminando por aqui!

Agradecendo a você que teve a paciência em ler esse meu dia aqui. Partilhando comigo essa experiência de postar pelo celular, e de uma maneira "multimídia".

Lembro que uma vez, uma das blogueiras escreveu pra mim, num comentário num dos meus posts, que seria legal, quem sabe, num futuro próximo, postar através de áudio, num dia qualquer!

Vou amadurecer a idéia!
Já imaginou? Eu ligando pra vocês, ou quem sabe via Skype (pra ficar mais barato, porque... Né?!), rolar uma entrevista com a galera que faz o blog acontecer?!

Seria demais!

Aquele abraço!


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Eu odeio política!

"O homem é por natureza um animal político"
(Aristoteles)

Aquela turma de alunos estava junta desde o início dos estudos, ainda na pré-escola, quando amarrar o próprio tênis é um desafio semelhante a uma equação de terceiro grau.

Entre uma brincadeira aqui e outra ali a turminha começava a aprender o conteúdo escolar. Corria nos bastidores da escola que o pequeno Hassan era o mais inteligente. Diziam na sala dos professores que ele já sabia matemática. Matemática! O terror dos alunos mais velhos era brincadeira para Hassan.

O pai, árabe, tinha um armazém onde o menino passava as tardes. Desde que nascera estava habituado a receber dinheiro, calcular o troco, pesar mercadorias, somar, subtrair, multiplicar, dividir, etc. Um prodígio, dizia tia Vera, professora do pré. O problema todo começava quando começavam as letras.

Avesso à escrita, o pequeno gênio decidira não aprender português. Não importava os esforços de todos na escola, a censura dos professores e os castigos dos pais. Irredutível, Hassan crescera um exímio matemático, que mal conseguia encadear as letras para formar uma palavra. O máximo que avançou nessa área foi identificar as letras que usava nas equações.

Thierry, seu amigo, também se destacava na sala por sua inteligência. Filho de pai poeta e mãe redatora, enquanto as crianças folheavam os livros para admirar as figuras, Thierry já lia as histórias para a sala, enquanto os olhos da professora brilhavam com tamanho talento.

O problema chegava com a matemática, e não era apenas um enunciado com incógnitas a serem resolvidas. O garoto escrevia os números por extenso, citava cada um nominalmente, mas se recusava terminantemente a aprender os cálculos mais simples.

Ninguém entendia como um menino tão inteligente e aplicado não conseguia aprender a calcular. Logo o encanto com o prodígio das letras foi minguando até sumir diante da inabilidade para calcular. Escrevendo cada vez melhor, chegou ao ponto de produzir textos fantásticos, que ainda devem estar empilhados em alguma gaveta.

Sem o brilhantismo de um, tão pouco o talento de outro, Fernandes seguia o curso entre os intermediários da sala. Como nunca fora um grande destaque em alguma matéria, passava despercebido ao olhar da professora, que na hora de corrigir as provas sempre custava a lembrar de quem era aquele aluno.

O tempo passou, a turma se formou e logo Fernandes ganhou um cargo de destaque na empresa de seu pai. Ninguém sabia ao certo o que ele fazia, mas pelo fato dele sempre andar de terno por aí, o comentário era que tinha vencido na vida.

Nos encontros de turma fazia questão de sempre deixar claro, com um copo de whisky em riste e ar imponente: “eu detesto política”. Em meio aos sorrisos e apoio da turma não havia espaço para a indignação com que encaravam Hassan e Thierry, mesmo depois da escola.

A turma costumava se reunir a cada dois anos, tudo organizado por Fernandes. Depois da famigerada afirmação sobre a aversão à política sobrava muito tempo para opinar sobre as eleições.

Hassan mostrava gráficos e tabelas desmentindo as informações de Fernandes, mas ninguém entendia muito de matemática, além do mais ele mal sabia ler e escrever. Thierry, especialista em história, ainda que se atrapalhasse com os números das datas, fazia longos discursos para mostrar as incoerências do discurso de Fernandes, mas ninguém lhe dava ouvidos. A maioria achava história uma matéria chata – e pouco importante.

Quanto a Fernandes, não havia indignação por ele se recusar a aprender política, havia até complacência. Seguia criticando alguns candidatos, apoiando outros e cumprindo o papel de formador de opinião da turma. Ninguém lembrava muito bem de como havia sido sua participação na escola, mas era incontestável que ele tinha o melhor emprego entre todos da turma. Isso sem dúvida deveria ser graças às boas escolhas que fez ao longo da vida.

Fernandes segue irredutível em sua aversão. Não quer nem pensar em aprender um pouco sobre política, mas está cada vez mais decidido a concorrer nas próximas eleições. Não pela política, mas para livrar o país disso tudo que está aí. Seus amigos de escola já garantiram o voto no mais bem sucedido da turma.

sábado, 18 de outubro de 2014

Privação dos Sentidos

Talvez você não tenha percebido ou até mesmo “sentido” (perdoem o meu sarcasmo), mas nós já não queremos sentir as coisas como realmente o são. Quem sabe seja por medo ou comodidade, nós seres humanos sempre interrompemos, reprimimos, ocultamos nossas percepções. O meu propósito aqui não é generalizar as coisas (mais do que já estão), porém sinto essa particularidade na maioria das pessoas, pois não estou a cá a falar de superficialidades, mas de coisas que desde sempre vem acompanhando a espécie humana. Já não nos permitimos algumas sensações, emoções e instintos.
Quem nunca notou que já não suportamos o frio? E, ironicamente, o calor também. Caso o contrário os aquecedores e ar condicionados nem existiriam. E o que falar da intolerância a escuridão? Basta olhar o mapa-múndi noturno e verá que nas grandes cidades há mais regiões iluminadas do que escuras. E opostamente as pessoas também não suportam a luz do sol, pois se essa excede um pouco, num dia de calor, nós vamos correndo passar protetor solar colocamos nossos óculos de sol, chapéus ou guarda-sol. E quando o calor intenso da areia da praia nos faz rapidamente colocar o chinelo para nos abstermos daquela sensação? Incrivelmente andar descalço nos parece uma loucura e nos dá grande agonia o simples fato de pensar em fazê-lo, imagine, não abrigar os pés no asfalto quente?! E logo nós, que nascemos descalços e que naturalmente não teríamos sandálias para acolher nossos pés. E o choro que aqui é sinônimo de fraqueza, descontrole e tristeza. A pessoa o engole e sente a amargura de uma lágrima reprimida, mas não se permite deságua-la, pois o outro não suporta saber a vulnerabilidade sem criar uma malícia.
 E o que dizer dos instintos? É tão feio sentir prazer? Quantos orgasmos reprimidos, por vergonha do outro, do que ele irá dizer?! O que irá pensar?! Quantas risadas disfarçadas literalmente ocultadas pelas mãos desesperadas a cobrir aquela inconveniência! Aquela falta de respeito!
Quantos sabores renegados pelo medo de um quilo a mais de um quilo a menos. Quantos amores perdidos, esquecidos! Pelo medo de se envolver, se apaixonar e padecer... Privamos-nos até da felicidade que tanto lutamos para alcança-la através do dinheiro, dos produtos, das viagens e blá blá...
E os odores, no entanto os odores naturais que hoje fedem, que não admitimos e com uma perseverança divina tentamos loucamente disfarça-los tomamos banhos todos os dias e nos utilizamos dos mais variados perfumes, colônias, desodorantes...
Uma dor que seja é rapidamente interrompida com a cartela de remédios, nos medicamos com aspirinas que não fomos nós que fizemos e, pior ainda, às vezes não sabemos nem o que temos.  E não é de hoje que acreditamos mais na mentira, porque não aguentamos a verdade. Mas aí eu me pergunto: Um povo que aguenta tanta coisa não consegue conviver com sua própria humanidade? Pois aguentamos a escola, a faculdade, o trabalho, o ônibus lotado, aguentamos Nagasaki, Hiroshima, aguentamos essas leis, aguentamos as prisões, aguentamos ser escravos por nossa cor de pele, aguentamos o capitalismo, o socialismo, o comunismo, o feudalismo, aguentamos campos de concentração, aguentamos os pesticidas, aguentamos o salário mínimo e o desemprego, aguentamos tantas guerras e não aguentamos a humanidade, não aguentamos algumas vontades e fazemos algumas mentiras virarem absolutas verdades.
 Nós seres humanos, membros dessa sociedade, renegamos a Terra e a usamos como não tivéssemos saído dela e como se não tivéssemos usando nós próprios para uma mentira inventada por nós, o dinheiro. 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Alguns motivos para conferir a garota exemplar de David Fincher

Até poucos dias atrás tinha certeza de que este post trataria das eleições 2014, mas o senhor David Fincher fez o favor de mudar tudo e agora me sinto na obrigação de falar sobre o seu filme mais recente. Adaptação do best seller homônimo de Gillian Flynn, Garota Exemplar (Gone girl, 2014) começa nos levando ao aniversário de casamento de Amy (Rosamund Pike) e Nick (Ben Affleck), que, não por tanta coincidência assim, é no mesmo dia do desaparecimento de Amy, mulher que transmite a imagem da mais absoluta perfeição, e que inclusive inspirou a criação de uma personagem de livros infantis que parece nunca cometer erros (a Amy Exemplar); enfim, uma mulher metódica o bastante para concretizar qualquer plano e carismática o suficiente para convencer qualquer um de qualquer coisa. Amy é, definitivamente, o tipo de pessoa cujo desaparecimento causaria uma comoção nacional, o que, de fato, acaba acontecendo, levando inclusive muitas pessoas a se voluntariem para ajudar a encontrá-la. Em oposição a isso, temos Nick, um sujeito tranquilo, sossegado até demais, que não teve nenhum grande feito na vida além de ter se casado com Amy e, que por nunca saber o que dizer ou fazer em público e aparentar certa indiferença em relação à esposa, acaba sendo apontado como principal suspeito do desaparecimento. Além de não passar exatamente a imagem do marido perfeito, as evidências encontradas pela polícia passam cada vez mais a indicá-lo como culpado e, diante da necessidade de provar-se inocente, Nick começa sua própria investigação sobre o paradeiro de Amy.

A partir desse momento, começa uma série de reviravoltas sobre a qual não vou falar aqui, pois grande parte do impacto do filme se deve ao fato de o espectador não ter a menor ideia do que está acontecendo até os momentos finais da projeção. Durante todo o filme, sempre que começamos a acreditar em alguma das versões da história, somos apresentados a alguma informação que nos leva a questionar as impressões que tínhamos até então; é como se o tapete sobre o qual descansamos os nossos pés estivesse sendo puxado o tempo todo. Tal efeito se deve, em grande parte, à excelente direção de David Fincher, que já vem nos tirando da zona de conforto desde os tempos de Clube da Luta (Fight Club, 1999) e Seven (Seven, 1995), sempre mostrando o fundo do poço a que o ser humano pode chegar em situações extremas. Vale destacar também as atuações de Rosamund Pike, que provavelmente chegará como forte candidata às premiações do próximo ano, e de Ben Affleck, que, apesar de não estar tão excepcional quanto a sua esposa da ficção, mostra uma das melhores atuações de sua carreira.

Além de todas as qualidades técnicas de Garota Exemplar, o filme ainda nos brinda com uma série de discussões sobre temas como o amor, o que somos em oposição ao que aparentamos ou queremos ser, as pequenas mentiras que contamos todos os dias para manter nossos relacionamentos vivos e as enormes mentiras contadas pelos meios de comunicação para manter a audiência e os leitores. Enfim, Garota Exemplar é um filme que pode gerar assunto para várias conversas e temas para ótimas reflexões, sendo um dos grandes lançamentos de 2014, e que merece ser visto e revisto.




quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Sobre comer barriga...

A única diferença entre um nada e um quase é a expectativa.

Uma pedra a menos não dá o direito de gritar "bingo!". A proximidade entre a trave e a rede não garante o gol. O sorriso da Miss Simpatia não bate a cintura fina da primeira vencedora do concurso. A intenção da piada não garante os risos. Quem quase compra, não leva para casa. Quem quase ama não vê o charme de voltar a ser ridículo. Quem quase vai chega tão longe quanto quem nunca desejou sair do lugar.

O quase é o consolo de quem arrisca, mas tem o mesmo gosto da derrota.

Medalha de prata para o primeiro perdedor.


*Texto de 2010 retirado do meu outro blog "Não enviadas". Pois minha vida está muito cheia de quases, inclusive a quase vontade de não escrever mais.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Um silêncio se fez ouvir



O silêncio no subterrâneo da pele é o silêncio da madrugada.
Das 2:30 às 3:15 da manhã nem os pássaros cantam.
E é tão surpreendente o não buzinar dos carros que me assusto e acordo.

Os meu  ouvidos acordam primeiro, imagino. Depois quem desperta é o meu coração, batendo de uma maneira desconfortável. Logo depois meus dois olhos abrem-se de uma só vez  e, como a luz do poste nunca dorme no escuro, sempre é possível ver sombras.

Acordo e observo. Meus olhos abertos pouco enxergam, mas ajudam a escutar.
Fico imóvel escutando e logo acorda a minha memória. 

Lembro onde estou e quem eu sou (mas só o suficiente para não ter que me preocupar com isso). Escuto e gosto de pensar que estão todos dormindo. Até os pássaros.

Ainda querendo me encontrar no mundo, vejo no relógio "2:47" e penso que não  há motivo para acordar.

Quando consigo me acostumar com o silêncio, meu coração volta a bater mais leve. Meus olhos se fecham sem esforço.Então, sem querer pensar nos meus afazeres do dia que começa, sem querer pensar em mais nada, durmo como uma pedra, como mais uma pedra.

domingo, 12 de outubro de 2014

O país das crianças

Algumas coisas revelam um país. Espero que o Facebook não seja uma delas.
Mantenho minha página ligada ao meu blog e evito comentários que possam colocar fogo na minha timeline. Tenho conseguido fazer isso muito bem, pelo menos durante um tempo.

Mas agora entramos no segundo turno das eleições presidenciais e meu barco virou por lá.  Fiz um comentário sobre os candidatos e de repente algumas pessoas começaram a discutir. O que não entendo é o teor das ofensas de ambas as partes, acho justo o debate e confronto de ideias, até porque é nosso voto o que vai decidir o próximo presidente, mas ofender os candidatos e quem vota neles me parece primário e infantil.

E vi que isso se repetiu em vários perfis, quem manteve seu Facebook cheio de ursos e algodão doce conseguiu ficar longe da baixaria virtual, mas quem se posicionou acabou levando uns tapas virtuais.

Tudo isso me leva a pensar que não somos ainda um país pronto para o debate, aberto a discussão, tudo fica polarizado e apoiado em argumentos pequenos e ofensivos. Não me parece o momento certo para discutir o caráter de quem vota, mas sim de quem está concorrendo a presidência.
A nossa posição política ainda é frágil e fechada a sugestões, o comportamento infantil que tantos insistem em manter atrasa o país.

E hoje o comércio recuperou um pouco o fôlego com a venda de brinquedos para o dia das crianças, reflexo puro de quem somos, esse país que ainda age e pensa como neném e na hora de votar corre atrás de um pai ou de uma mãe. Presidente é uma coisa que ainda não conhecemos, para chegar a isso primeiro temos que aprender a dialogar, até lá vamos ter que votar na mamãe ou no papai e defender eles das ofensas, como fazíamos na escola. De longe o Brasil parece um grande país, mas não passamos de uma creche lotada.