quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

convite

Na última mensagem mencionei que o fato de não conseguir por semanas e meses movimentar [para sentir as correntes que prendem] foi um dos motivos do ano passado não ter sido totalmente incrível. Hoje, ano de 2015 praticamente um mês depois reafirmo e mantenho a seguinte conclusão - não movimentar-se é terminantemente prejudicial à saúde, ao cérebro e a vida. 

E para realizar qualquer movimento seja qual for e para onde é essencial o ir e vir com dinheiro, ou por acaso você acreditou na estória da liberdade [democrática]? Mas que dó meu Deus, na verdade, sinto é muita pena da ingenuidade alheia. Confesso que até tentei creditar alguma verdade nisso, mas a realidade [do não movimento na liberdade] foi mais forte.  Tanto é que de 2013 a 2014 me tornei - livre - de algumas obrigações cotidianas para me tornar - prisioneira da liberdade sem dinheiro.

Então depois de perceber que a liberdade de ir e vir não são nada sem o dinheiro só posso concluir que o ato de se movimentar é essencial para manter-se ativo e vivo. E sendo os princípios democráticos tão alinhados ao princípio de ir e vir e da liberdade só posso concluir que o ir e vir não pode ser cobrado ou se cobrado deve ser um preço tão acessível que até mesmo as pessoas que estão à margem, na total exclusão de quaisquer direito [por exemplo, uma pessoa em situação de rua] possa ter condições mínimas de acesso. Então falamos de $1 real?

 Mas são tantas vezes em que se procura um real no bolso e não se têm. Perdi a conta de quantas vezes no ano passado não pude ir a locais que queria muito por falta de dinheiro para passagem.  O ir e vir no ano passado não se tornou mais restrito porque tenho pessoas especiais na vida, por exemplo: ela um laço de amor e sangue para toda vida, ele ao conceder o vento no rosto, passeios inusitados e fora de hora e por fim elas: amigas [as de sempre e queridas] que cooperou ao disponibilizar crédito no bilhete; se não fosse com certeza teria enlouquecido por completo e sem direito à lucidez mínima, tamanha era a liberdade sem dinheiro.

 E qualquer desejo, vontade ou sonho requer um [ou vários] movimento. Por exemplo, todo início de ano existe aquele hábito de fazer a lista dos desejos a serem realizados, normalmente aliados ao futuro [como se o cotidiano não existisse]. E normalmente a lista é feita no começo do ano quando o sujeito está mega animado e acredita que naquele ano existe [como se todos os dias não tivessem] uma nova oportunidade de realizar o que não conseguiu durante toda vida.

Daí parece que muitos esperam pela fada dos desejos ou o papai dos pólos que estão derretendo para realizar suas vontades, desejos e sonhos; ou na pior das hipóteses acredita no menos provável, na chance uma entre milhões e realiza o tal bolão e fazem figas e pulinhos e pensamentos positivos para ganhar na Mega Sena que nunca antes soube de quaisquer amigo do amigo de outros amigos distantes de alguém ter ganhado o almejado prêmio. E se acaso ganhe, pronto, acredita que está resolvido todos os problemas da lista dos desejos, pelo menos aqueles que têm cifrões. Mas apenas um problema está solucionado e os problemas dos outros? Será que cada um vive numa redoma e não estou sabendo, podendo se isolar e achar que quando o seu problema está resolvido o dos outros pouco importa?

Em algum instante o movimento destes [ excluídos pela liberdade sem dinheiro] irão atingir o[s] ganhador[es], seja num plano macabro  de assassinato para tomar posse da herança ou alguma situação de violência decorrente da liberdade democrática sem dinheiro. E normalmente estes planos são formulados por parentes malignos, sabe aqueles  parentes que são íntimos do chifrudo que vivem atrás de conversinha e não tem coragem para debater o assunto cara a cara. Destes quero distância, pois só atrasam o lado para não dizer que em nada acrescentam apenas sugam energias e o restinhos de quirelas dos pobres. Mas antes pobretões assumidos do que zé polvinho  que come arroz e feijão e arrota caviar é melhor se assumir do que se achar os burgueses porque tem uma casa ou algumas, um carro ou algum dinheiro e se acha os ganhadores [fala sério pelo amor de Deus né pequenitos burgueses].

 O pior é que você não ganha nada, nem rifa de escola quem dirá na Mega Sena e infelizmente  não faz parte dos 67 premiados mundialmente [isso é burguesia o resto é apelido e conversa mole!!!] que acreditaram no poder da grande [e iluminada] ideia ou ainda na força do trabalhe [por toda vida] e conquiste o mundo. Acreditar que alguns afortunados do globo terrestre são verdadeiros ganhadores da Mega Sena é um enorme descalabro.

Mais ou menos como acreditar nas informações de alguns jornais sabe; do tipo, em toda existência nunca conheci alguém que fora entrevistado, mesmo assim é anunciado que tal informação data-alguma-coisa foi baseada em tantos e lá vai cacetada e a margem de erro é reles, portanto considere como verdade. Então será que são realizadas via internet, inclusive há uns 40/50 anos atrás, vai ver é por isso que a gente nunca sabe de alguém ou conhecido deste século e de outros que foi entrevistado. Pois é. Mas tenho que admitir um rastro de avanço ao ver a cobertura das manifestações deste ano, também pudera e o medo de ser chamado [de novo] de mídia golpista

E retirando do campo da individualidade se não isso aqui vai longe e re-passando para o coletivo considero [sem pestanejar] as Jornadas de Junho de 2013 o maior e mais importante movimento coletivo dos últimos anos. Exagero? Vaidade? Literalmente nos achando os únicos revolucionários? Não. Nada disso. Mas explico depois pode ser?

No momento não posso perder tempo, porque vou à pé buscar o Bilhete Único Mensal, ativá-lo pela internet e ler com a máxima atenção aquele contrato que assinei virtualmente e saber exatamente como funciona, por quanto tempo e quais os reais benefícios para o usuário,  depois preciso ir para outros lugares resolver questão domésticas de preferência à pé para que sobre, se bem que ao acessar a net pela Lan House não sei se vai rolar.

Pois é faço parte também dos que não conseguiram pagar a internet neste mês e portanto foi cortada mais precisamente ontem ou que pagam a fatura atrasada; enfim quem sabe sobre algum, os exatos $3,50 para lá pelas 18:30/19 horas compareça na Paulista para movimentar e ao mesmo tempo organizar o meu tempo e voltar pra casa sem gastar mais; ou seja tenho que me programar para que tudo aconteça em três horas. E caso aconteça de ir vou e digo não ao aumento, se não conseguir me comprometo para outra vez que seja no centro. 

Na lista dos desejos deste ano consta uma vontade imensa, inenarrável e indescritível de movimentar bastante, ademais e muitíssimo. Nunca é demais mencionar que para que esse movimento ocorra é obrigatório ter os famigerados $7,00 reais [para ida e volta, dependendo da distância e do tempo, se for mais longe é bem mais].

Tem sido importante ver alguns movimentos, certa apropriação dos espaços públicos mesmo que mínima, mas não se pode esquecer que para cada um é tratado de modo diferente. Não posso determinar o seu movimento talvez possa criticá-lo, mas dependendo da pessoa isso não faz diferença; também não posso exigir que se livre da inércia e aproprie-se do movimento, no máximo posso realizar algum movimento – como o que faço agora em te escrever na tentativa de fazê-lo compreender o quanto é importante e essencial, o ato.

E quando penso em movimento é automático aliá-lo ao estudo de uma forma geral [e óbvio obrigações cotidianas] sendo mais específica tenho prazer quando o movimento significa ir às aulas públicas, atos, seminários, palestras, cursos, shows [porque ninguém é de ferro] museus, teatros, parques ou simplesmente estar em qualquer canto que queira para apenas observar, contemplar, sentir, ouvir, ver e para isso preciso [minto, na verdade necessito] que o direito de ir e vir não seja aprisionado ao dinheiro, portanto que a passagem custe ZERO; se não, que ela estagne em mais quatro anos em três reais até que ocorra aquele movimento geral para unir todos na redução [para zero] da passagem e consequentemente no custo de vida.   

Ainda não compreendeu?

É uma pena, mas sou péssima em desenho, normalmente são todos fora do contexto e padrão básico e aceitável, então segue o convite [para liberdade]:
PS: A data já foi, mas a chamada é massa e o dia do ato é hoje no vão do Masp às 17 horas, bora?

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O Lagarto

No ônibus, Antônio sintonizou o rádio numa estação que tocava Jazz e, quando percebeu, estava no volume máximo dos fones de ouvido. Gravou mentalmente as músicas que passavam. Johnny Rogers era o saxofonista. Johnny Rogers era um homem de poucas palavras, o rádio disse. Chegou em casa, e tudo o que pensava era em Johnny Rogers.

Casa-trabalho, trabalho-casa, esta era a rotina do cidadão. Não era importante, não era notado. Mas agora, se perguntassem alguma coisa, poderia dizer de Johnny Rogers. Ao menos, não o achariam ignorante.

Agora, todo dia ouvia a rádio. Escutava a música, mas queria Johnny Rogers, o homem de poucas palavras.

Em casa, acendia o cigarro e ficava ouvindo Johnny Rogers em sua cabeça. Tocava um saxofone imaginário, mas com a cautela de nunca imitar com exatidão, não porque não quisesse, mas porque achava que não merecia. Johnny Rogers era um homem de poucas palavras, era inteligente, com certeza. Quem fala pouco, erra menos. Johnny Rogers não errava. Ele, Antônio, errava. Não falava muito, não sabia o que falar, olhava pra baixo, evitava olhar nos olhos, por medo de ofender, falava quase que para dentro, pra não incomodar demais. Acabava, então, com um andar desajeitado, de quem tem medo de ofender até a grama em que pisa.

Sonhava com Johnny Rogers. Sonhava eles dois sentados, ouvindo a música em suas cabeças, e não falando nada, porque não precisavam falar, se entendiam. E Johnny Rogers achava que Antônio era um sujeito digno. Que não se pode desprezar camaradas assim, que são eles que mexem nas rodas do mundo. E admiravam as músicas.

Ao longo do tempo, depois de tanto entender Johnny Rogers, achou que poderia ser mais ele. Afinal, um cidadão de poucas palavras erra pouco. Começou olhando as pessoas nos olhos, e foi ficando quieto. Se lhe perguntavam algo, olhava para o infinito, pensando na resposta mais curta possível, e se decidindo por um aceno de cabeça, no final. Com uma certa expressão de quem tem mil e um nós dentro dos miolos, prestes a entrarem em pane total. Um pouco mais saxofonista, e foi enfrentando as pessoas do ônibus de cada dia. Já que não era certo tratar um cidadão de bem no empurra-esmurra-sai-pra-lá.

Johnny Rogers, pensava ele, não devia ter medo de ninguém. Se lhe ameaçavam alguma coisa, já devia tascar um olhar de quem consegue ler os pensamentos, soltando um “não” indiscutível. Johnny Rogers poderia beber doses e doses de conhaque e continuar sóbrio. Johnny Rogers não discutia, porque sabia que ele estava com a razão. Johnny Rogers falava pouco, então, quando falava, era apenas uma vez. Quando ameaçava, também. Johnny Rogers não ficava onde não queria. Johnny Rogers sofria de um incrível amor por si mesmo. Johnny Roger podia até matar. Porque Johnny Rogers podia. Ninguém enfrentava Johnny Rogers. Ele tinha seu saxofone dourado e brilhante, que tremeluzia como um lagarto dançando por entre a luz das velas. 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Amorosa


No sertão nordestino, os vaqueiros usam roupas de couro grosso para se protegerem da vegetação árida e espinhosa que machuca.  Elas são imprescindíveis para enfrentar a dura rotina na caatinga.

Amorosa é o nome de uma dessas plantas contra as quais os vaqueiros se defendem. Impossível conter o riso no canto da boca quando ouvi e vi a tal planta. “Amorosa... amorosa...” Sim, como duvidar que o amor fere? Como criticar aqueles que se aproximam dele com capa protetora, afinal, já foram feridos antes?

O amor dói. O amor pode levar a loucura. Ou será o desejo? A culpa é do desejo? O amor é generoso e o problema é a paixão que deixa as pessoas obcecadas e egoístas? Dizem que o amor romântico é uma criação relativamente recente, talvez a vida fosse mais fácil sem ele. Mas também mais monótona.
Amorosa

Há poucos dias saiu uma matéria no “El país” comentando sobre um teste realizado pelo psicólogo Arthur Aron, cuja proposta era fazer dois estranhos se apaixonarem. Como? Uma série de 36 perguntas capazes de promover a intimidade entre os dois. Ao que parece, a experiência é bem-sucedida.

Será mesmo possível se programar para amar alguém? Será mesmo que a paixão é apenas uma combinação de processos bioquímicos e, portanto, manipulável?  Se for apenas isso, só não me sinto tão ridícula por todas as vezes em que "cai de amores" por alguém, porque o mundo das artes está repleto de tolos como eu...


Para quem quiser conferir: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/01/21/ciencia/1421856772_939357.html

sábado, 24 de janeiro de 2015

Pede água

Gosto de lavar as mãos quando chego da rua. Às vezes, o rosto. Tendo nascido em um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, sou muito calorento. O que não quer dizer que eu tenho muitos calos, mas que sinto muito calor. E acho normal fazer isso. A gente anda de metrô, ônibus, carro, táxi, encosta em lugares onde todo mundo segura e depois vai comer alguma coisa. Melhor lavar as mãos. Ainda que garanta menos anticorpos no organismo, acho uma medida sensata.

Soube de alguns casos no norte do país - lá, onde é muito mais tropical do que onde moro - em que os donos das casas recebem seus familiares com uma toalha e uma indicação: "vá lá, tome um banho". Gostaria muito de saber se isso é uma prática de mais pessoas ou uma coisa isolada. Se o corpo humano é composto de 70% de água, eu provavelmente suaria uns 30% de mim num lugar assim. De repente diminuiria de tamanho, como uma esponja. 

Divago.

Muito se fala em crise hídrica e em como as pessoas não perceberam ainda a profundidade desse problema. A falta de profundidade dos reservatórios de água. Um de meus irmãos e sua única esposa foram a um restaurante outro dia que não tinha água no banheiro, só aqueles frascos de álcool gel. Ficaram se perguntando de onde viria a água para lavar os alimentos, os pratos. Na dúvida, acharam melhor não pedir suco. Vira e mexe alguém comenta sobre um restaurante que não abre no almoço por falta de água. É, a piada do restaurante fechado para almoço perdeu muito de sua graça. 

Prevejo finais de relacionamentos movidos pela falta d'água. Namorados deixam para tomar banho na casa do outro, sob o agora falso pretexto de aproveitarem o tempo juntos. É o prejuízo mascarado de sacanagem. E não para por aí. As visitas terão acesso apenas a uma pia ou a uma caixa de lencinhos umedecidos, colocada às vistas de todos. Dar descarga, nem pensar. As discussões de família serão em torno do tempo que cada pessoa passa no banheiro alheio. Reuniões de condomínio, Deus me livre, acabarão em quebra-quebra pelo consumo do sujeito do 102.

Como disse um grande filósofo, vai faltar água para apagar os incêndios.
Uma parte boa da situação é que as pessoas pararam de regar as calçadas com a mangueira. Porque é mais fácil fazer a coisa certa por saber que está sendo vigiado. Lembram do caso do tigre no Paraná que arrancou o braço do menino? Pai e filho se aproximaram da jaula do tigre porque, afinal, ele estava preso, vive em um zoológico, é só um gato grande, que mal pode haver? E ainda se falou em sacrificar o tigre. 

Olhar não tira pedaço, como o menino aprendeu. Com sorte, o pai também. Parece que o zoológico tem a obrigação de colocar placas de "Você está sendo vigiado atentamente pelo tigre". Parece que assim todos ficariam a uma distância segura.

Sejamos todos fiscais de nós mesmos, então. É disso que o povo gosta, afinal de contas.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O curioso caso de Matilde - Um conto para se ler antes de dormir

Naquela noite, Matilde decidiu que iria dormir cedo.

A manhã seguinte não admitiria insones, razão pela qual Matilde adiaria mais uma vez o capítulo final de seu livro sobre a voo das borboletas - era bióloga - e se jogaria na cama estivesse ou não com sono. Seu marido ainda não havia voltado da emissora - era animador de auditório  - o que daria à Matilde a oportunidade, ao menos passageira, de ter o monopólio de sua cama de casal.

Banhou-se meticulosamente porque não queria macular a cama com tudo aquilo de mais fétido que a vida pública lhe havia legado durante aquele dia suarento. Pulverizou o lençol com essência de amêndoa fresca, a mais nova maravilha da linha de cosméticos que um dia ainda a levaria ganhar prêmios na TV. Programou o celular para as seis e três - lhe abominavam os números redondos - de modo que teria pela frente 8 horas e 12 minutos de puro regojizo. Deitou-se.

Enquanto afofava o travesseiro e o ajeitava de modo a lhe proporcionar o maior deleite possível, ia planejando, mentalmente, o dia seguinte, aquele em que receberia a comissão estrangeira para apresentar os últimos resultados da pesquisa que ela liderava. Iria sair meia hora mais cedo do que o habitual para não correr risco de chegar atrasada. Dispensaria o café da manhã com os colegas da universidade para dar mais uma repassada no material que iria apresentar para os russos - sim, eram russos... pensando bem - pensou bem, Matilde - era melhor ligar para a intérprete russa para confirmar se estava tudo certo para a manhã seguinte. Ainda eram pouco mais do que dez e era melhor ligar agora do que correr o risco de pegar a intérprete em pleno sono.


Levantou-se. Ligou para a intérprete que a atendeu com nítido mal humor na voz. Detestava ser interrompida de seus exercícios de calistenia. Sim, estava tudo certo para amanhã. Estaria na universidade às sete e meia, portanto, meia hora antes da reunião com os russos. Sim, ela sabia falar russo. Sim, ela sabia o endereço da universidade, já que tinha sido lá mesmo onde aprendera russo, no Departamento de Letras Orientais, nos anos 90. Não, ela não precisava ficar preocupada. Depois de um "desculpe-me o incômodo" de um lado e de um completamente falso "não foi incômodo algum" de outro, a ligação foi encerrada. Uma poderia voltar para os exercícios de calistenia e a outra - a que aqui nos interessa, quem tiver disposição que escreva a versão da intérprete - voltou para a cama, já que ainda teria 7 horas e 54 minutos para se refestelar em seu colchão King Size com molas ensacadas. Deitou-se. 


Já não precisava preocupar-se em não ser compreendida pelos russos. Agora, podia dormir em paz. Mas, com tantas horas de sono pela frente, o mais prudente era garantir que suas necessidades fisiológicas fossem atendidas de antemão. Urinaria o que já estivesse a disposição em seu sistema excretor e encheria um cantil de água para que ficasse ao alcance da mão para o caso de acordar sedenta pela madrugada. Levantou-se. 

Serviu-se do banheiro como de costume e partiu para a cozinha para encher o cantil. No caminho escutou a maçaneta da porta mover-se. Era o marido que chegava da emissora, ou seja, não conseguiria passar ilesa a uma boa meia hora de conversa. Se tivesse ficado na cama, esse inconveniente não seria necessário, já que teria fingido que estava dormindo e teria ganho um tempo precioso de sono. Entretanto, as necessidades fisiológicas se impuseram e lá estava ela, no meio da cozinha, conversando com o marido sobre seu dia.

- Terminou o livro?
- Não... quero dormir cedo. Deixarei as borboletas pra outro dia. Os russos vem amanhã...
- Que russos?
- Ora, os russos para quem eu apresentarei a pesquisa sobre os aracnídeos...
- Arac... o quê?
- Aracnídeos... bom, deixa pra lá. Não estou com cabeça pra isso agora. E você? Como foi hoje?
- Uma merda...
- Nossa, que boquinha, hein?
- Só teve pereba no concurso de calouros hoje... tive que pular feito macaco pra arrancar meia dúzia de aplausos daquele monte de gente desocupada... riram mesmo foi de mim quando a Maria Eduarda, aquela pentelha do Show Infantil, arrancou minha peruca e saiu correndo com ela na mão "hahaha... o tio é careca... o tio é careca.... tio cabeça de kinder ovo... hahaha"... e o apresentador ainda tentou intervir mas...

Daí pra frente Matilde começou a fazer um chá de flores de macieira e já não ouvia mais nada o que o marido falava. Só concordava com discretos murmúrios e arqueares de sobrancelha. Ela só pensava em acabar logo com aquela conversa enfadonha e tentar dormir um pouco. Mas ele estava disposto a desabafar.

O casamento não ia nada bem. Ela achava que ele jamais tinha que ter largado a repartição onde trabalhava para tentar a sorte como animador de auditório. A vida de escriturário, se não lhe proporcionava regojizo intelectual, ao menos lhe possibilitavam algum conforto material. Ele, por sua vez, achava que ela se interessava mais por besouros do que por ele. Às vezes, sentia-se um inseto perto dela. Ou melhor, sentia-se um animador de auditório mesmo, porque se fosse um inseto, ainda teria alguma chance com ela. O fato é que não estavam na melhor das fases. Talvez tudo se resolveria depois desse encontro com os russos, evento que estava tornando Matilde uma pessoa pior.

- Podemos dormir agora? Você sabe... os russos...
- Sei, sei... os malditos russos... vamos, vamos dormir...

A cantilena do marido havia durado mais do que o esperado - mais do que o humanamente suportável, pensou Matilde - de modo que já passava da meia-noite quando deitou novamente na cama, desta vez ao lado do marido que pulara a parte do banho, desanimando assim o auditório de Matilde.

Agora eram menos de seis horas o tempo que Matilde tinha para descansar e estar fisicamente apta para o grande dia do ano. Agora, o cheiro de amêndoas começara a ficar enjoativo, sobretudo misturado com o cheiro de suor seco que o corpo do marido exalava. As molas ensacadas revelavam-se, por fim, propaganda enganosa, já que  cada virar de lado do marido a lançava mais para a beirada da cama. Que noite!

O ambiente nauseabundo a incomodava. Abriu a janela para que o ar puro fizesse alguma frente ao ar corrompido pelo fedor do marido. O ar puro entrou, é verdade, mas trouxe com ele os pernilongos. Eram muitos e vorazes. Matilde estapeava-se na tentativa de acertar algum, mas o máximo que conseguia era provocar vergões em sua pele alva. Levantou-se. O marido não acordava por nada.

Alcançou a raquete elétrica e pôs-se a provocar curto-circuitos noite adentro. Já não tinha mais seu costumeiro amor pelos animais. Queria vê-los mortos! Queria poder dormir para não ficar feito sonâmbula diante dos russos, daqueles malditos russos! Fechou a maldita janela. Preferia morrer sufocada com o fedor que vinha do corpo do marido e daquela amêndoa podre do que ser devorada viva por aqueles insetos! Quem sabe agora dormiria as três horas e dezessete que lhe restavam antes do maldito despertador começar a cantar...

Virava-se, virava-se e virava-se quando chegou a conclusão de que não iria dormir mais, que passaria a noite em claro e que, quando desse a hora falaria com os russos. Entupiria-se de café e cobriria o rosto com camadas e mais camadas de maquiagem para esconder as olheiras e os hematomas causados por aqueles terríveis animais.

Foi quando ouviu a Lady Gaga. Estava pensando nos russos e, quando menos esperava, ouviu os primeiros acordes de "Poker Face". Tempo esgotado. Era o despertador. Levantou-se da cama com cuidado para não despertar o marido. Já nem sentia mais o odor da amêndoa azeda, já devia ter se amalgamado a seus sensores olfativos. Tomou um banho rápido e se emplastou de maquiagem de uma marca concorrente à da essência maldita. Olhou-se no espelho e até que gostou do que viu. "Não tem tu, vai tu mesmo" - pensou. Saiu para o quintal e subiu no patinete - há tempos que largara a bicicleta e passou a ir trabalhar de patinete - partindo em direção ao trabalho!

O trânsito estava bom. Desde que a prefeitura introduziu as faixas exclusivas para patinetes, sua vida melhorara bastante, ainda que essa medida de cunho altamente populista tivesse deixado os usuários de bicicleta profundamente irritados. Em dezenove minutos chegou na universidade. Estacionou seu patinete no patinetário e rumou em direção ao laboratório.

Encontrou-o vazio. Ainda eram sete e três, de modo que ainda tinha vinte e sete minutos para rever o material antes da chegada da intérprete e cinquenta e sete antes da chegada dos russos. Mal colocara o computador sobre a mesa, no entanto, a intérprete assomou à porta... vestida de odalisca.

- O que significa isso? - perguntou Matilde, completamente atônita.
- Ah, desculpe-me. É que o trânsito estava melhor do que eu previa, por isso cheguei mais cedo que o combinado mas, se quiser, aguardo lá fora...
- Me refiro a sua fantasia! Por acaso é carnaval?
- Não entendo... você veio fantasiada de bióloga e eu vim fantasiada de odalisca. É como me sinto bem - disse isso e começou uma performance ali mesmo, convidando Matilde pra dançar também...

Matilde desvincilhou-se da odalisca e saiu pela porta atrás dela. Foi atrás de um segurança. O posto onde o segurança costumava ficar estava vazio.

- Olá, amiguinha! Só tinha dado uma escapadinha para ir ao banheiro, mas aqui estou eu!

Matilde virou-se. Era o segurança. Só que vestido de palhaço.

- Aaaaaahhhhhh - gritou Matilde, deixando escapar toda sua estranheza.
- Calma, amiguinha - disse o palhaço, enquanto tirava uma moeda da orelha de Matilde.
- O que está havendo? Você não era o segurança deste posto?
- E ainda sou! E tenho até uma arma! - disse o palhaço, sacando uma pistola do bolso, apertando o gatilho e deixando Matilde completamente ensopada.
- Ah, minha maquiagem, você estragou minha maquiagem!
- A-há! Você também está maquiada! Quem é o palhaço por aqui? Hahahahaha - ria o palhaço, enquanto enfiava uma bola pelo nariz.

Matilde já estava em prantos. Nunca passara por situação semelhante. Tudo estava dando errado e os russos ainda nem haviam chegado. Resolveu voltar para o laboratório e esperar os russos por lá. A odalisca continuava dançando e assim continuou, parecendo nem perceber a presença de Matilde.

De repente, aparece na porta um caubói - era o secretário, já não estranhava mais nada - dizendo que os russos já tinham chegado e que estavam a caminho do laboratório. Matilde respirou fundo e tentou se recompor como pôde. Até que um barulho vindo do corredor deixou Matilde em estado de alerta. Seriam os russos? Saiu para o corredor para recebê-los mas, para seu total desespero, não eram figuras humanas que vinham ao seu encontro, mas aranhas monstruosamente grandes! Matilde entrou em estado de pânico e começou a correr em direção contrária. A odalisca gargalhava diabolicamente enquanto dançava de maneira frenética. Matilde corria e quando estava chegando no final do corredor, percebeu que estava cercada. Um enxame de borboletas inacabadas vinham em sua direção. Um cheiro insuportável de amêndoas tomou conta do ambiente, até que Matilde ouviu a Lady Gaga.

Um pesadelo. Matilde, afinal, havia dormido e sonhado com tudo aquilo e agora estava atrasadíssima. Que vergonha! Os russos já deviam estar esperando por ela há um tempão. Não terminava o livro sobre as borboletas e agora passaria vergonha na apresentação sobre as aranhas. Que vergonha!

Nem banho Matilde tomou. Deixou o marido dormindo, trocou de roupa, subiu no patinete e partiu para o trabalho. Antes tarde do que mais tarde - aprendera com o marido, que ao menos para lhe ensinar frases de efeito, prestava. Estava mais de uma hora atrasada para a reunião quando estacionou o patinete no patinetário. Entrou no edifício e foi direto para o laboratório. Com olhares entediados, todos os russos estavam lá.

Completamente nus.

***


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Sobre algumas coisas e "Homens, mulheres e filhos"!

Quase três horas da manhã, resolvo entrar aqui no blog pra escrever meu texto, e eis que havia um que redigi em setembro e sei lá por quê programei pra hoje!

Falo de saudade nesse texto. Resolvi jogá-lo mais pra frente. Quem sabe um dia o use!

Mas decididamente, hoje não é dia dele!

Olá, pessoas!
Como foram de final de ano?
A virada e tudo o mais?

Comigo também tudo suave, obrigado por perguntar.
À medida que ficamos mais velhos, essas reuniões de FDA vão perdendo a magia.
Mas o que manda é que estamos aqui, iniciando mais um ano.

Queria ter falado pra vocês, no ano passado ainda, da rádio online que criei, a Rádio Blog Cast (e se não me engano, falei, não falei?). Mas devido à preguiça correria, parei de fazer.

O carro que era pra ter vindo no ano passado, também miou. Nunca fui de fazer projetos para o ano. O único que fiz, não vingou. Sempre fui adepto do "deixa acontecer naturalmente". Aaaah, amigos... Mas em 2015, ele há de vir! Bem como o trampo novo, com o qual conciliarei o de hoje.

Falado isso, quero comentar sobre um filme que baixei hoje via torrent (preferia alugar na operadora que assino e que me custa os olhos da cara, mas fui informado pela mesma que esses "on demand" ainda não estão disponíveis para a minha praça, sendo assim, f***-se).

Tava meio entediado, e resolvi acessar um site de filmes de minha confiança, pra ver se o mantenedor havia publicado algo de novo, interessante.

Daí, amiguinhos, esse trailer me saltou aos olhos:


Trata-se de "Homens, mulheres e filhos", mais uma daquelas obras escritas e que depois alguém tem a ideia de passar para a tela grande.

Sei não, mas acho que o livro rende mais que o filme.
O trailer vende muito bem o longa. Longa mesmo! Duas horas de muito assunto "educativo" até, podemos dizer assim, mas narrado e contado de uma maneira um tanto quanto devagar demais.

Nomes de peso como Adam Sandler, Jennifer Garner e até o carinha do "A culpa é das estrelas", Ansel Elgort, estão nele. Mas olha... 

Fala sobre relacionamentos humanos nessa era maluca de internet.
Os riscos, os perigos, os "descaminhos" que acabam acontecendo...

É bem legal a ideia. Mas confesso que o trailer criou uma expectativa beeeem grande em mim, e o resultado final, pelo menos para mim, não foi lá grande coisa. Nota 6/10.

Terminando o primeiro post do ano, quero parabenizá-lo por chegar até aqui!
É sabido que as pessoas fogem de textos grandes. Olham e pensam "capaz mesmo que vou ler uma coisa tão grande assim"!

Depois de um trailer maravilhoso (mais belo que o próprio filme), a galera do Linkin Park canta pra gente sobre a história de uma menina que não se encaixava bem nesses padrões de sociedade. Pelo menos é o quê sinto no clipe! Numb!


Excelente 2015 pra gente!
Nos falamos em fevereiro!


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Je suis Saramago

No dia 19/09/2001 foi publicado e se espalhou pela internet um texto de José Saramago chamado “O fator Deus”. Uma semana antes o mundo havia sido abalado pelo choque de dois aviões contra torres que vieram abaixo, gerando um terremoto nas estruturas sociais.

O que me espantou no texto não foi sua sensatez ou coerência, pois isso vindo de Saramago é o mínimo que podemos esperar, mas sim a rapidez com que toda a turbulência histórica havia sido processada e traduzida pelo escritor.

Treze anos depois o desenrolar da história parece ter seguido a risca a análise de Saramago, ao invés do contrário. A árvore do terror plantada onde havia as duas torres gêmeas continua a dar frutos amargos e venenosos. Grande parte desses frutos enviados a contragosto para países que se por um lado não tinham nada de inocentes – como o Iraque de Saddam Hussein – por outro não tinham nenhuma relação com os atentados contra os Estados Unidos.

Nem todos esses frutos foram para o oriente. Como uma espécie exógena, que sem predadores naturais demora para ser assimilada e combatida, as consequências do 11 de setembro chegaram em vários países, sendo o conflito interpretado e combatido de forma errônea.

Os frutos recém-colhidos na França proporcionaram dois extremos, um maciço “Je suis Charlie” por uma ampla maioria que nunca havia ouvido falar na revista ou seus cartunistas, e outro composto pelos que se incomodaram com algumas charges pesadas da revista e sugerindo que outro atentado, na Nigéria, havia deixado dois mil mortos com muito menos repercussão, o que sem dúvida é revoltante.

É triste ver pessoas mortas por terem feito um desenho, seja ele qual for; inaceitável centenas, talvez milhares, de nigerianos mortos sem sequer uma justificativa fajuta. O que faz com que andemos em círculos é a divisão entre “je suis” ou “je suis pas” Charlie.

2015 não começou violento por estes atentados. Essas mortes são a realidade de iraquianos e afegãos há vários anos. A África que foge dos atentados terroristas também deve driblar o ebola, a fome, a miséria. Se não quisermos fazer longas viagens para assistirmos aos atentados diários, temos nossas próprias mortes.

Nossas religiões não fuzilam os que fazem a caricatura de deus (ou qualquer nome que queiram dar), sequer se organizam em milícias que matam para conquistar territórios. Nessa abençoada terra da tolerância e convivência não há preconceitos religiosos! Desde que os religiosos não sejam seguidores da Umbanda ou Candomblé. Também não podem ser homossexuais, independente da crença, já que estes não sofrem perseguição pela religião, mas da religião, e seguem morrendo em massa por uma intolerância hipocritamente negada.

Não tiro a razão de quem é ou não é Charlie, mas ainda (e cada vez mais) sou Saramago. Judeus matam palestinos, árabes matam católicos, católicos matam judeus, todos se matam, todos morrem. Todos estão certos, ou todos estão errados?

Quando eu era pequeno, entre tudo o que eu não entendia na religião estava o segundo mandamento: Não usar o santo nome de deus em vão. De repente esse parece o mandamento que, se respeitado, mais evitaria tragédias.


domingo, 18 de janeiro de 2015

Aquela Garota

Aquela garota ia caminhando pelo mundo. Pintava a paisagem que o sol dispensou, já que reconheceu que ela pintava melhor que ele. Essa menina nasceu como as frutas e quando estava madura o suficiente a Terra a acolheu. Quando ela amanhece qualquer constelação fica insegura e sua beleza cheira a manhã. 

Ela que ilumina a lua e faz escurecer a noite. Essa menina acalma o mar e faz dele chuva, faz da areia do deserto humanos para amar. A lua se guia por suas pupilas e o universo se revela um devoto de suas vontades. Sua sensibilidade faz baixar o Everest e a geleira mais fria derreter. 

O mundo conheceu a felicidade graças a você e a seus olhos. 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Férias?


Minhas férias começaram nesta segunda-feira. Tive que vender 10 dias para poder usufruí-las com um mínimo de dignidade, já que meu salário é irrisório, mal paga as contas. Então serão apenas 20 dias. Pode ser que eu viaje, se a criatividade permitir terminar a tempo aquele roteiro bem baixa renda que comecei. Mas será uma viagem bem curta, lá pro final das férias. Não tenho mais diarista, então como fico em casa mais tempo, sujo mais coisas e tenho mais coisas para limpar. E limpar duplica meu calor. E minha casa é uma miniestufa. Nesses dias que chega a fazer 37ºC, aqui dentro a sensação é de 50ºC. Sério. Nem a geladeira ligada no máximo dá conta de deixar a água gelada. Tenho que manter o ar condicionado funcionando constantemente para me manter viva. Imaginem a conta depois... Preciso economizar na viagem para pagar a conta de luz! Para não passar as férias inteiras neste chororô, decidi ir a casa dos meus pais. Lá, além deles, claro, a casa é fresca e posso rever minhas amigas queridas. Essa é a parte boa, junto com poder acordar mais tarde e não precisar encarar, durante 20 dias, algumas situações/pessoas inglórias do trabalho. Começo a me questionar onde foi que eu errei, já que nas redes sociais o que vejo é gente ostentando suas férias como se estivessem num episódio de novela. Enquanto não resolver o mistério, tentarei tirar minhas próximas férias em um mês bem frio, tipo Julho. Só que aí eu vou reclamar por achar difícil limpar a casa no frio e por ter que ficar o tempo todo sob as cobertas para sobreviver, enquanto vejo as pessoas que estarão de férias, no mesmo período que eu, curtindo um bom vinho com esqui em Bariloche. Bem que meu pai sempre disse: "Férias só são férias se você não precisa ficar contando dinheiro". Não sei se algum dia esse será o meu caso.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

FELIZ DOIS MIL E CRISE

Estou em crise com as minhas postagens.

Preciso de novos desafios.

Não sou escritora, não sou blogueira, não sou jornalista...

Não escrevo nas portas dos banheiros.

Nunca escrevi panfletos, roteiros, romances....

Escrevo. Digito. E só.

Meu objetivo não é ter muitos leitores, nem mesmo muitos elogios. Nos meus momentos de carência apelo para que meus amigos leiam o que escrevi. Qual é meu objetivo?

Escrevo no "Blog das 30  pessoas". É. E só.

Eu posto. Posso não postar se não quiser/puder. Posso escrever sobre o que eu quiser. Sou livre.

Não é o melhor dos mundos? Só que não.....

O incomodo é bem vindo.  É um jeito de olhar com mais cuidado para aquilo que já virou uma rotina e quem sabe encontrar novos sentidos, ou não encontrar nada.



Enfim, como ouvi em algum lugar: FELIZ DOIS MIL E CRISE! :-)



segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Eu também não estava ali.....

Fui à casa de uma amiga e ela não estava lá. Sentei na portaria e fiquei esperando.
O tempo passou e comecei a perceber que eu também não estava ali.
Semana passada tivemos um desentendimento, coisa boba, no Facebook, mas como somos amigas há anos ela me ligou e pediu para que eu passasse em sua casa para conversar.

Desde o começo não queria ir. Não gosto de conversas que já encerrei dentro de mim. Não foi o problema no Facebook, nos últimos tempos a amizade vinha azedando, mas não tive coragem de dizer isso a ela e aceitei passar em sua casa.
Mas sentada naquele sofá da portaria percebi que eu não estava presente, minha mente estava adorando o atraso dela, assim eu poderia ir embora sem dar explicações. Depois se ela me ligasse jogaria aquele jargão típico de São Paulo ''ah, não se preocupe, outro dia a gente marca um encontro’’.

Não seria mais fácil dizer a ela que não quero mais ser sua amiga? Não, essas coisas a gente não fala, faz. Pra que explicar, pra que escutar o outro lado se já não temos nenhuma vontade de continuar ali? Que preguiça essas conversas que não chegam a nenhum lugar! Tentei tantas vezes com diferentes pessoas e nunca deu certo. Cansei, hoje prefiro sair de fininho.....

Pensei em Freud e no inconsciente, será que minha amiga também deu um jeito inconsciente de se atrasar porque talvez não quisesse conversar?
Pode ser. Mas se não aguento ficar sentada pensando nisso vou aguentar sorrir e dizer que está tudo bem? Não.

Resolvi me levantar e ir embora.

O porteiro disse:

-Não quer deixar recado?

Não, que recado vou deixar, se nunca estive aqui......

domingo, 11 de janeiro de 2015

A Flor

Avistei! A mais bela simples flor com o mais completo perfume. Pequena, frágil e cheia de graça.  Me encantou em primeira vista.

E foi dessa que eu quis plantar. Comecei do princípio, da semente. Levei pro meu jardim pra poder me dedicar e ver florescer.

Plantei e cuidei, até que finalmente o primeiro broto saiu. Sorri! Saltei em alegrias em ver aquele pontinho verde espiando para o mundo, espiando para mim!

Enchi me de esperanças e sorria todos os dias pra ela.

Cultivava, cuidava e cresceu mais um tantinho assim. Mostrou me as primeiras folhas, que apareciam como se quisesse me dar um abraço!

Animava-me em vê-la crescer, mas parou. Não quis mais crescer, também não quis murchar.

Queria meu abraço, e eu lhe dava. Queria um carinho, e eu lhe dava. Estagnou ali, sem flor, sem graça, sem delicadeza nem perfume.

O que será que houve? O que será que há? Me dói no peito ver que pareces desanimada. Um dia eu hei de saber?

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Recebi um poema


*****

Recebi um poema!

Estava andando na rua perto de casa quando o recebi. 
Um rapaz magro, de óculos e calças engraçadas foi quem me deu. Nunca o vi na vida, ele não me conhecia.
Não perguntou meu nome, também não perguntei o dele.
Me deu uma folhinha rosa, enrolada e presa por uma fita. Coisa mimosa. Gesto simpático.
Dei um sorriso, agradeci, e fui atravessando a rua enquanto analisava a fita, já pensando se o nó era fácil ou difícil de desatar. 
Consegui soltar o nó antes de entrar no prédio. Consegui ler o poema no elevador.
Li novamente ao chegar em casa. Fiquei pensativa. 
Achei bonito. Falava sobre a beleza de envelhecer.
Gostei do poema, mas gostei mais ainda de ter recebido o poema, pois recebi um poema, e isso não acontece todo dia.
Recebi um poema de um estranho na rua e isso nunca me aconteceu antes - e nem sei se voltará a acontecer.
Era sobre o envelhecimento, mas poderia ser sobre a juventude. Ou sobre amor, ou sobre dor, ou sobre qualquer outra coisa. 
Mas era sobre a vida, sobre generosidade.
Uma delicadeza que a tão caótica e problemática cidade de São Paulo trouxe para mim. Um presente para tornar minha vida mais agradável.

Segue o poema:


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Felicidade Ridícula

   Sabe quando você está tão feliz que parece um completo idiota?
   Sabe quando aparece alguém para te mostrar o quanto você parece ridículo e exagerado e acaba com um dos poucos momentos de alegria genuína? Odeio esse alguém.

  Sabe quando tudo deu errado, seu chefe brigou com você, seu cachorro morreu, roubaram seu dinheiro e você está super mal, e quer ficar na sua, quieto e triste por que no momento nada vai te ajudar? Lembra que em várias dessas vezes, aparece alguém para mostrar que não é tão ruim e que você é exagerado, e não te deixa nem ficar triste em paz? Odeio esse alguém.

  Deixe que eu seja um completo idiota, eu sei que não é bonito de se ver. 

  E se não puder resolver meu problema, e eu estiver triste o suficiente para não querer nem desabafar, me deixe em paz.

  Que 2015 seja completamente ridículo!

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Estela

Refletia o sol amarelo.
Miolo de árvore passava
amarelo em cima do caminhão,
levantando poeira, secando,
mostrando o amarelo do chão.

A colheita crescia crespa,
refletia o milho amarelo.
Refletia o sol amarelo,
sentada ao pé da varanda,
da casa amarelada pela terra.

Passou caminhão,
em cima gente, arvore, bicho.
Poeirou, levantou,
mas era tudo dela,
lá dentro na cabeça amarela
de fios louros,
da plantação de milho, laranja, melão e girassóis.

Bateu vento,
saiu pelos olhos áridos,
areia, sem o molhado do mar.
Azul só no céu, amarelo em todo lugar,
do sol ao solo dela,
azul só nos olhos de Estela.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Pelas barbas de [complete a frase] !!!

Esses tempos eu cometi o primeiro - e último, ao que espero - barbacídio da minha vida. Lá fui eu, serelepe pimpão, DEPILAR MINHA BARBA COM CERA QUENTE. Ok que minha barba é dura [de crescer] e cheia [de falhas], mas é a única que eu tenho - quando fui na loja trocar tinham acabado as barbas ruivas e só sobraram as latinas e aí eu peguei essa aqui mesmo.
A barba é um dos mais "novos" ícones de masculinidade, num universo em que o homem paradoxalmente tem que ser algo de ambos os gêneros socialmente aceitos em um momento ou outro. Tem que ser macho, mas tem que ser sensível; tem que ser forte, mas tem que ser sensível; tem que ter barba, mas milimetricamente bagunçada para parecer que nasceu daquele jeitinho. Depilação a laser pros fiapos que saem da linha.

Fala sério: esse cara perde em masculinidade porque está sem barba?
É sério isso, produção?

Então. Tormund tá aí que não me deixa negar. Eta hómi que exala masculinidade em GoT. Mas eu fico pensando em como é que se processa na mente feminina - que eu particularmente acho um mistério da fé, a gente só acredita e segue com ela - o lance da barba. Até onde a moda dita a mentalidade de alguém? Quem tá girando em torno do dedo de Balzac como eu, parecendo uma bola de beisebol na mão do Magic Johnson, sabe que até um tempinho atrás os que eram bonitos eram os comerciais de Gilette caras sem barba. Aonde foi que eu perdi o fio da meada e a barba começou a ser bonita mesmo? Alguém me lembra?


Como toda pergunta lançada ao universo tem uma resposta, aparece essa imagem no Facebook e eu sou respondido. Ou não. Ter pelos ou não ter, eis a questão - no meu caso, ter a barba que posso, já que a que quero só com implante e a que mereço veio no meu DNA.

Nunca mais nessa vida eu depilo minha barba com cera quente. É ofensivo, machuca MUITO - meu bigode sangrou pra caramba - e a sensação de tirarem algo de mim foi dolorosa por semanas, até que meu cavanhaque encorpasse de novo. Me deixa.
Não vou fazer apologia a que você, leitor, se aceite como é, porque acho isso uma grande besteira. Aceite que você pode ser muitas coisas, e que algumas dela vão dar muito errado. Por isso, aceite que sem experimentar, você nunca vai saber. 
Que seus limites sejam transformados em possibilidades de transcendência.
Um abraço, seja você barbud@, lisinh@ ou depilad@. Isso é só uma parte experienciável de você. :D

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

maravida!

2014 certamente foi um dos melhores de toda minha vida. incrivelmente incrível e por isso, para 2015 eu só desejo:

um ano com menos mortes por homofobia, machismo, racismo. um ano com menos fanatismo religioso. um ano com menos fanatismo. um ano com mais gentileza e pegação. um ano com mais festas e bons trabalhos. um ano com mais encontros bacanas, mais filmes bacanas, mais livros sensacionais. um ano com tempo melhor aproveitado. um ano com beleza. um ano com cachoeira e praia. um ano com cerveja e cachaça. um ano com saúde e dinheiro. um ano com amor.

que todos possamos aproveitar a vida, (a mar)a vida!


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