Primavera
porque aquelas tantas flores e cores eram apenas exterior naquela primavera de um ano que não sei mais. dentro de mim era cinza de lembranças do fim pré-sentido. poeira nas fotografias em preto e branco e o antigo que faz-se presente irremediavelmente. o fado mais triste insistia, aqueles tão morte. e as pessoas que dançavam e rodavam e caminhavam pelas ruas eram bossa-nova. você com seu guarda-sol enorme colhendo flores, antes do temporal. sem perceber que era o temporal todos aqueles anúncios de alegria em out-doors invisíveis e aquele nosso amor que parecia tão contrário quando falávamos de fim. porque a vida insistia dessa maneira. um eterno rasgar a pele e sarar após e até no tempo e re-rasgar e nós numa repetição em acreditar. e desde então e agora. essas tantas flores e cores apenas exterior.
Verão
sempre esse mormaço verão me lembrando você. a maneira como penetra no corpo e aquece até o ponto quase desmaio de tantas lembranças. eu acordando sempre suada, o banho frio às 6 da manhã que nunca foi antes de você, mas que durante. e os vestidos leves, as pernas mostrando-se, o nosso cheiro sempre no ar. o meu pitanga e o teu homem. eu chegava no teu pescoço e te cheirava. eu parava de respirar para te cheirar. sempre ofegando, a sensualidade brotava. e depois de amar quando eu abria a janela, nenhum sol. nenhum. as nuvens meio cinzas cobriam tudo. eu não acreditava. era um calor com tristeza e eu não queria acreditar. uma tristeza que aquecia. uma transformação lenta. e era você. ainda é, mas hoje diferente e tão. como se eu estivesse preparada para não me entregar. os pés, os braços por pouco tempo na água morna. o rosto na água fria acordar só. o corpo todo coberto. as partes que não são, eu rabisco. até a indiferença aparecer, mas. depois de tanto tempo e você ainda. ainda no ar. eu desisto. desmaio.
Outono
e o outono insistia. batia portas, derrubava os quadros, estilhaçava as vidraças do que era frágil. o que poderia ser apenas e obviamente anúncio de tempestade ou da estação seguinte inverno ou qualquer qualquer outra coisa passageira era o alarme do adeus inevitável. e desde então e agora. essa ausência dentro. no silêncio e no meio de tudo que restou passado: teu retirar meus cabelos da face e segurar minha saia durante o vendaval e além de todas as coisas e principalmente me segurar porque eu nunca soube se permanecia ou não. tuas tantas mãos. teus tantos você. até o limite sustentável da conveniência. o acender da tristeza. a desfolhação era interna e minha, o resto insistia. as flores folhas e cores presas nos galhos fingindo-se intactas. quando percebi já era cinza o só eu. e desde então e agora essa mesma nuvem pairando. eu assisto essa estação em mim.
Inverno
o inverno sempre como teu abandono. minhas lágrimas caindo como e com a chuva. enquanto nossos corpos deitados na areia. esparramados no pouco que ainda restava do que éramos. e a eterna espera pelo além do presente. aquele mar em revolta nos alcançava como presságio e impossibilidade de fuga. a chuva nos molhando e o mar e minhas lágrimas, por quê chorar o fim que ainda não. minhas lágrimas e você as lambia. você lambia meu corpo inteiro como um passeio. tua saliva me invadindo poro por poro. e você sem discriminar o que era eu ou você ou a natureza daquela conexão absurda. e logo o suor de você me penetrando e toda. toda aquela água lubrificando o sofrimento. tentativa vã para não doer aquele mistério do após. e eu não pude sequer ouvir ofegando. o gozo. o último. meus dentes cravados no teu ombro até ir morrendo lentamente. tantas cicatrizes e tantas invisíveis e internas. o que era líquido e depois foi concretizando-se. do que sobrou chuva e lágrimas nessa estação. a necessidade de sempre guarda-chuva.
terça-feira, 7 de julho de 2009
As estações são bailados de lembranças de um fim pré-suposto
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Lubi
Tenho vinte e quatro anos e estou perdendo-os apressadamente na sobre-vivência com a visão e audição e olfato e tato e paladar pela intensidade de sentir. Sinto muito. Sou inteira id. Nasci passado e não sei se é corpo ou alma esse envelhecimento. Essas tantas rugas de tão poucos amores como o craquelado de chão sertanejo, até o abismo interior ou o abaixo da terra, esses infernos. Meu imenso ego transborda invisível o físico. Para falar dos outros, falo de mim e até calada. Você jamais me conhecerá inteira porque quando minto, há verdades e elas são minhas e apenas, porque minha prisão é viver o que quer que seja e a libertação é a escrita. Quando eu não suportar mais essas tantas reinvenções de mim mesma pela negação do eu único e profundo e tão só e pelo ódio ao previsível e rotineiro, queimarei meus restos para as moscas não pousarem nesse sagrado, para os insetos não devorarem o que nunca houve. E tocarei um fado, o mais triste, para o tempo parar para sempre.
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Outonal. Me senti assim ao te ler.
ResponderExcluirGosto muito do verão.
ResponderExcluirEles usam Natura. hehe
ResponderExcluiresperando o outono... besos.
As quatro estações exaltam o todo amor e o tudo se esvai pelo ralo como o fim de uma tragédia. O que não é. Algo que ficou. Seco, molhado, com sal, sem suor.
ResponderExcluirDespedida estacional.
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