quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Carta de Elise

O inverno havia chegado mais cedo naquela pequena cidade do interior de Pernambuco. Chovia horas seguidas. Pausava. Voltava a chover. Alagava Ruas e calçadas. Praças. Banhava e arrastava o que via pela frente. Muita coisa ficava fora do lugar após cada precipitação. E muita coisa voltava ao seu lugar em seguida.

Nesse período quase não se via pessoas nas ruas. Apenas aquelas que, ou precisavam de fato sair, por algum motivo justificável, ou de fato viviam na rua.

Elise se enquadrava na primeira opção, pois que lhe eram justificáveis as suas saídas. Ao menos para ela.

A chuva não era impedimento para ela seguir com sua rotina inadiável.

Nem os trovões, nem os relâmpagos, os quais não a amedrontavam a ponto de fazê-la se esquivar.

Elise era uma ávida escritora. Uma apaixonada pela escrita livre. Uma jovem de 20 anos, branca como uma nuvem, cabelos longos e encaracolados, escuros. Magra e de estatura mediana. Franzina.

Todos os dias, naquele mesmo horário, por volta do meio dia, sob sol ou chuva, ela saía. Andava dois quarteirões inteiros em direção aos correios para postar um envelope branco médio numa das caixas que ficava bem em frente ao prédio. Era um movimento quase obrigatório, metódico, rotineiro. Aquela caixa dos correios provavelmente esperava todos os dias a sua carta cair-lhe, bem como, inconscientemente, deviam esperar todas as pessoas pelas quais ela passava todos os dias. E Elise as cumprimentava com um doce sorriso no rosto. Um rápido cumprimento, pois havia pressa em destinar suas cartas.

Ela escrevia muitas cartas. Cartas com remetente e destinatário. Cartas que aquele envelope branco acarinhava ao guardá-las.

Eram cartas de amor, cartas de amizade, eram cartas diversas. E ela sabia tão bem usar as palavras. Ela sabia tão bem externar o que vinha de si. Ela se transformava em palavras pra os que a liam. E os que a liam tinham a ideia exata de quem era aquela menina escritora. E o que ela trazia dentro de si. Os seus sentires...

Papel, caneta e sentimentos. Juntos, resultando nas cartas mais verdadeiras que se podia ler. Os manuscritos mais graciosos. Que a tecnologia não ofuscou.

Numa certa sexta feira, por volta do meio dia, Elise atravessara aqueles dois quarteirões que a levavam aos correios, como de costume. O sol havia aparecido imponente. Estava quente. Mais pessoas transitavam pelas ruas. As ruas estavam secas. As árvores, livres, ao vento. Elise levava mais de um envelope desta vez. Um médio, branco, outro pequeno azul claro.

Cumprimentou as pessoas timidamente, como sempre fazia, caminhou com passos mais rápidos. Parecia ter certa pressa. Parecia ansiosa.

Ao pôr-se de frente à caixa dos correios, para depositar as cartas, de uma só vez, foi surpreendida por um sonoro cumprimento bem próximo ao ouvido. Uma mão tocou-lhe o ombro direito. Um toque suave. Neste momento virou-se rapidamente, de modo que não percebeu que apenas uma das cartas fora depositada na caixa. A do envelope maior.

Gael era seu nome. O moço do cumprimento sonoro e do toque suave. O moço de barba por fazer e olhos amendoados. Um lindo moço.

Aquele que a fez nervosa e a dispersou.

Ficaram parados ali por alguns instantes. O suficiente para apenas concordarem que o tempo estava bom naquele dia. Elise mal sabia se portar em frente àquele moço. Ele a inquietava. Então o mais fácil era fugir. Deu uma desculpa qualquer para abreviar aquele momento e seguiu a passou rápidos de volta para casa.

Gael também havia ido depositar umas correspondências. Alguns documentos, nada de cartas. Foi quando notou que havia algo no chão. Um pequeno envelope azul claro.

De súbito, pegou o envelope entre as mãos e olhou ao redor na intenção de verificar se havia alguém ali perto. Não havia. O envelope estava aberto. Quem o deixou cair ali havia se esquecido de fechá-lo. Hesitou. Mas tirou a carta que havia dentro. Não se importou em saber o destinatário, mas o remetente.

Sim, era uma carta de Elise.

Logo a imagem dela lhe veio à lembrança.

Olhou para os lados, na intenção de ainda tornar a vê-la. Nem sinal.

Estava sozinho. Ele, aquele instante e aquela carta.

Caminhou um pouco até a praça mais próxima. Sentou-se. Hesitou mais uma vez. E mais uma.

Ler ou não ler?

Na dúvida, pôs-se a ler...

A carta começava com “meu querido...”, sem citar nome.

E seguia assim...

Meu querido,

É tão cedo pra esse meu sentir. Ainda não sei como devo chamá-lo, pois que ainda não sei medi-lo. Receio mostrar-lhe e encontrá-lo sem compartilhar do mesmo sentimento. Não o culparia. É tão cedo, de fato. Mas meus olhos já estão tão acostumados aos seus. Parece que você sempre esteve aqui. Parece que sempre estive esperando você chegar. E que cada dia só nascia depois que o seu cheiro se misturava ao meu. Mal nos tocamos e eu já imagino o gosto que têm os seus lábios. Devem ser tão doces. Devem ter o mesmo gosto bom que têm os melhores momentos da vida de uma pessoa. Eu passaria a vida inteira beijando-os. Ah, se não fosse essa minha timidez tão minha assim. E eu pudesse lhe falar do meu desejo, enfim. Só queria apenas dizer como me sinto quando você está por perto. Eu me sinto pequena demais pra tamanha euforia. A sua presença, mesmo que você nem sequer me note, como eu gostaria de ser notada, faz de mim a garota mais alegre de todo o espaço onde seus olhos possam alcançar. Acredite. Se isso tem nome, eu não sei, mas sei que acho que queria você pra mim, assim como se quer algo muito, muito bom.

Um beijo,

Elise.

Sentiu um misto de culpa por ter lido algo que não lhe pertencia, por estar fazendo algo que sabia ser errado, e encantamento, por ter lido palavras tão singelas e ternas. Tornou a ler a carta mais duas vezes. Sentiu-se tomado por aquelas palavras.

Quem seria aquele meu querido? Para quem ela destinava aquelas palavras? Aquele sentir...

Não sabia. Não saberia. Jamais poderia perguntar-lhe. Ela jamais o perdoaria por ler algo que não era seu.

E Gael desejou que fosse sua aquela carta. Que fossem pra ele aquelas palavras ritmadas, apaixonadas. Desejou que ele fosse aquele querido.

Um querido não identificado. Um sujeito enamorado e oculto.

Dobrou o envelope, guardou a carta no bolso da calça e pôs-se a caminhar de volta pra casa. Teve a impressão de estar ouvindo uma canção linda, a sua preferida. Aquele momento tinha um som especial.

Começou a chover de repente. A rua esvaziou-se. Continuou caminhando lentamente, sem preocupar-se com nada além da sua lembrança. Aquelas palavras iam sendo ouvidas lá de dentro da sua lembrança. Sopradas no seu ouvido. E Elise lhe aparecia linda, como num sonho. Ainda que ele não tivesse a vaga ideia de onde ela podia estar. Ainda que ela estivesse longe. Não importava, pois, para ele, ela estava bem ali, sob a chuva, no ritmo daquelas palavras, na magia daquele momento.

Lai Paiva

terça-feira, 28 de junho de 2011

Liberte seu batom vermelho

Sempre digo que pensar nesse negócio de fim do mundo não é nada confortável. Sei lá, viver o futuro já é ruim. E se o futuro ainda for tenebroso, trevoso, apocalíptico, pra mim não consegue ser outra coisa diferente de assustador.

Vou confessar, né, tenho medo sim. Mas não a ponto de revogar minha vida e me enfiar na mesquita, rezar loucamente virada pra Meca com a esperança de ficar ‘sã e salva’ no dia do juízo final (o clone feelings). Prefiro não pensar nisso, sério. Quando chegam pra mim falando de 2012 e tal, falam com um sorriso no rosto que eu, francamente, não entendo. Talvez um sorriso de nervoso, ou de brincadeira de quem não acredita nem por reza braba nessa historia bobagenta. Não sei, mas como eu disse aí em cima, pra mim não é nada confortável.

Mas, pensando-não-querendo-pensar em fim do mundo me faz querer aproveitar o hoje. Uma vez, tem muuuuito tempo, ouvi por aí um negócio assim:

- Você sabe por que o agora se chama presente? O agora é uma dádiva, por isso o presente.

E, né? Que coisa mais brega, horrível, clichê e tal! Mas vou te confessar que a partir disso daí (que tem pelo menos uns cinco anos) adotei isso pra minha vida. E hoje vim dividir. E não se cansem das minhas filosofias baratas, façam-me o favor! haha

Você guarda o melhor vinho, as melhores louças, a melhor roupa e aquele batom vermelho-puro-luxo para um momento especial. Sempre fica esperando o momento certo pra usar aquele terno clássico ou os copos de cristal que ganhou no seu casamento. Esse momento pode se chamar agora.

Eu nunca espero nenhuma ocasião especial para usar nada. Nem tampouco me preparo para o fim do mundo. Todos os dias na minha vida eu saio de casa pensando em estar bem vestida (na medida do possível), ‘gastando’ (como muitos aí pensam) a minha melhor roupa, o melhor sapato. Não é porque aquela bolsa custou o olho da cara (para os meus singelos padrões, claro) que não uso ela no dia-a-dia. E, por favor!, eu não nado em piscina de dólares não. Tudo o que tenho aqui foi conquistado, uma coisinha de cada vez, com paciência e muita vontade. E eu valorizo muito. Então, todo dia é dia de usar o que tenho de melhor. Porque eu mereço o melhor.

Pra que a gente espera a visita de alguma tia fresca ou uma reunião de família pra tirar aquela toalha bordada do armário? Olha, eu acho que mereço esse mimo tanto quanto os outros. Então uso sempre, uso todo dia.

Por que, imagina só... Você aí, todo bonitão, pensando que um dia o fim do mundo vai chegar, ou até que a vida vai acabar e ainda não usou aquele perfume importado que sua ex-chefe te deu em dezembro de 92? Porque estava com dó de gastar e não encontrou o momento certo para usá-lo? Poxa, se não teve momento certo em 20 anos, que dirá em mais 20, ou 50, ou 100. Quem sabe o mundo não acaba e você vai arder no mármore do inferno carregando sua coleção inteirinha de canecas do Elvis Presley?

E pensando bem, meu!, as coisas não se acabam, né? Nunca ouvi na vida uma historinha sequer de um jogo de talheres de prata que tenha se acabado por uso contínuo. A não ser que você seja o incrível Hulk e, né, os destrua por pura intolerância.

Um pedaço de um texto de Mário Quintana, diz o seguinte:

"Um dia descobrimos que, apesar de viver quase um século, esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer o que tem de ser dito... O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas as nossas loucuras."

O fim do mundo não é bem vindo por aqui. Mas, se mesmo assim, você acredita que ele vai chegar, troque as coisas aí de cima por quaisquer outras. E viva suas loucuras agora, enquanto há tempo. Não esconda suas vontades nem o seu blazer no fundo do armário. As vontades nunca passam e a moda passa rápido demais, assim como a própria vida.














Liberte seu batom vermelho.


Foto por: Siri Stafford


twitter: @tabataaa

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O fim do fim


Parece que isso vai se tornar uma constante aqui, mas fiquei pensando no que escrever hoje. E não é de hoje que fiquei pensando no que escrever aqui. Aliás, se não me falha a memória, a ideia de todos nós falarmos sobre isso partiu de mim. Nós, "os 30" - isso não parece nome de um culto, de uma sociedade altamente secreta, que domina o destino do mundo?

Pois bem. Falemos sobre o mundo. Ou o fim dele. "O fim do mundo de acordo com Adriano, para o Adriano". Porque isso é um conceito muito pessoal e intransferível. É muito íntimo. Ora, a ideia do mundo acabar, explodir ou simplesmente deixar de ser é bem pouco inconveniente se pensarmos que isso significaria a total aniquilação de todos nós. Quero dizer, seria até bastante indolor se:
a) o mundo fosse explodido ou implodido por uma superbomba criada pela humanidade.
b) se uma raça alienígena disparasse uma arma contra a Terra, porque estamos no caminho da nova rodovia deles.

Isso tudo seria muito fácil. Claro, haveria alguns momentos de pânico, um eventual estresse aqui e ali, mas de modo geral tudo acabaria bem. Porque acabaria, afinal de contas. Alguns ainda diriam "te vejo na outra vida, irmão" e ok, mas não estou tão certo disso. Sobre reencarnação, não haveria muito para onde voltar também.

O sofrimento mesmo é ficar por aqui e ver pessoas importantes partindo. Morrendo. Se despedindo. Não se despedindo. Se afastando. Da forma como vocês quiserem colocar. E isso vale pra muitas coisas. Quando alguém próximo morre. Quando um amor deixa de ser. Quando um amigo se afasta. Quando você é despedido. E quando alguém não telefona também. Tudo isso são lutos pelos quais passamos e pelos quais, principalmente, precisamos passar para continuarmos. Não é fácil e não existem manuais, porque cada pessoa passa por isso do seu jeito. Há, sim, alguns pontos-chave a que todos obedecem, mas o cerne da questão é bem mais pessoal.

Por exemplo, o fim do mundo para mim agora é você estar lendo isso aqui em plena sexta-feira de feriado. Se estiver de folga, vá lá pra fora! E, se estiver no trabalho, termine logo suas coisas tudo pra poder começar seu final de semana.

Nos vemos no outro mês, irmãos!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

The end



Eu não sei se acredito em fim do mundo.

O que é real, irreal, imaginário ou não, quem pode saber?
Estamos vivos? Aqui é o purgatório? Estamos no céu? Vamos para o céu?
De onde viemos? Para onde vamos?
Se soubéssemos quando morreremos viveríamos diferente? Então não deveríamos vir com uma data de validade tatuada?
Gordura faz mal para o coração e bem para o cérebro. Como Deus não pensou nisso? Deus existe? É um homem, à nossa imagem e semelhança ou é uma energia, tal como nós?
O que nos difere dos animais e das plantas?
Os dinossauros existiram mesmo?
Sabemos tão pouco da terra, da nossa vida, e chegamos à lua. Ou não chegamos?
Existem outras formas de vida no mundo? Qual o tamanho do universo?

Como acreditar no fim de algo que não sabemos nem ao certo se existe?
Eu acredito que "na natureza nada se cria, tudo se transforma", e que tudo que vivemos é cíclico. Outras civilizações já passaram por aqui, de alguma forma, e outras virão. Todas se desenvolvem ao seu modo, e levaram e levarão para o túmulo suas descobertas e modos de vida.
Eu acredito nisso, mas não posso provar.

O que posso provar é que estamos todos indo para algum lugar. Que para morrer basta estar vivo.
E que esse é o melhor diálogo da constelação de pégasus:

“Hey, kiddo.”
“Dad?”
“Hello, Jack.”
“I don’t understand. You died.”
“Yeah. Yes I did.”
“Then how are you here right now?”
“How are you here?”
“I died, too.”
“It’s okay. It’s okay, son.”
“I love you, dad.”
“I love you too, son.”
“Are you real?”
“I sure hope so. Yeah, I'm real. You're real. Everything that ever happened to you is real. All those people in the church, they're all real, too."
"And they're all dead?"
"Some of them before you, some of them well after you."
"But why are they all here now?"
"Well, there is no now, here."
"Where are we, Dad?"
"Well this is a place that you all made together so that you could find one another. The most important part of your life was the time that you spent with these people. That's why all of them are here. Nobody does it alone, Jack. You needed all of them and they all needed you."
"For what?"
"To remember, and to let go."
"Kate, she said we were leaving."
"Not leaving, no. Moving on."
"Where are we going?"
"Let's go find out."

Não leaving. Nós moving on. Always.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria

Cada um tem uma idéia de fim do mundo. Pra quem acredita na versão bíblica, é o cataclismo, fogo vindo do céu, gente morrendo, gente rezando, anjos voando, bestas, maremotos, a fúria divina contra a humanidade ingrata. Pra quem acredita na ciência, é um meteoro atingindo o planeta à la Armageddon e extinguindo mais uma vez a vida aqui. Pra quem não acredita, não acredita e pronto, essa idéia de que todo mundo vai morrer junto é mais o fim da picada do que o fim do mundo. E tem também as versões que envolvem abdução dos puros de coração por extraterrestres, transferência de almas para outras dimensões, etc, etc. O legal dessa história toda é que todo mundo imagina pelo menos uma vez na vida como seria seu último dia na Terra.

A gente vive hoje e, no outro dia, o mundo não acabou e a gente continua vivendo, com as mesmas preocupações, as mesmas tarefas, ou a mesma mania de arranjar tarefas novas, os mesmos hábitos. Só mudam as roupas. Com ou sem aviso, o mundo nunca acaba. Foi assim em 1999 e foi assim no mês passado, conforme saiu nos noticiários. A próxima chance que nosso planeta tem de explodir e provar que as profecias estavam certas é em 2012. Daqui a pouco (ou muito, tomara!), quando for verdade, ninguém vai acreditar. E ninguém vai poder usar suas drogas, fazer sexo com estranhos, se declarar pra quem sempre amou, sair nu na rua, pouco antes de morrer.

Pra uns o fim do mundo é o fim do namoro, a demissão, a morte de um parente, a nota baixa. Um fora pode ser o fim do mundo para os mais depressivos. E o que dizer dos suicidas? Quando chegam a cometer o seu ato final é porque seus mundos já acabaram há muito tempo. O que leva essas pessoas a desistir da vida é a ilusão de que não têm controle sobre ela, já estão mortas.

Então já que até o fim do mundo é uma questão de ponto de vista, que afinal de contas a morte é uma escolha, eu escolho não pensar nela, mas na vida e nos dias que eu ainda tenho, e viver de um em um, até o penúltimo. No último, que se dane tudo. A forma como vou morrer não é assunto meu. Quero chegar lá na hora do “agora danou-se” e sentir que não falta fazer nada, ou que fiz tudo que pude. Quero não precisar fazer uma loucura na última hora pra sentir que aproveitei a vida. Quero lembrar diariamente do fato de que o mundo pode REALMENTE acabar amanhã, o meu mundo. E viver o presente, que aliás, não deve ter esse nome por acaso. Mas se tiver mesmo que escolher, quero morrer assistindo Friends.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Olá,

Eu juro que vi a Ana escrever dois textos bonitos para colocar aqui, mas o mundo dela começou a desmoronar antes de formatar e revisar, só deu tempo dela me pedir pra vir aqui representá-la.
Então vou aproveitar o espaço pra divulgar uma música que fiz, do meu novo CD. Acho que ela está bem representada, já que ultimamente ando entendendo bem de fim do mundo, rs.

http://letras.terra.com.br/adele/1818053/traducao.html

Beijos,

Adele


domingo, 19 de junho de 2011

O fim de que mundo?

"Um poderoso e terrível ataque terrorista, ocorreu na manhã do dia 11 de Setembro de 2001 (exatamente às 8h48m e 9h03m locais), atingindo as duas torres do maior conjunto comercial do mundo, o World Trade Center, em Nova Iorque." - Conteúdo Global, 11 de setembro de 2001.

"Câmeras de segurança de um prédio na Avenida Paulista, em São Paulo, registraram o momento em que jovens foram agredidos no domingo (14). A polícia investiga se o ataque foi provocado por homofobia." - G1, 19 de novembro de 2010.

"A costa nordeste do Japão foi sacudida nesta sexta-feira por um terremoto com magnitude de 8,9 graus na escala Richter que gerou uma tsunami de dez metros que arrastou carros e construções nas cidades litorâneas perto do epicentro." O Globo, 11 de março de 2011.

"Tiririca vence rivais de SP e se torna o (Deputado Federal) mais votado do País." Terra.com, 04 de outubro de 2010.

"MEC aprova livro que defende escrever errado." O Diário, 18 de maio de 2011.

"As pessoas ainda insistem em acreditar que existe uma data para o fim de um mundo que não existe mais há muito tempo." Marlon Vila Nova, 19 de junho de 2011.

sábado, 18 de junho de 2011

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Bendito

A primeira e última vez que acreditei em fim do mundo foi aos 14 anos, ingênuos 14 anos. Minha tia tornou-se seguidora fervorosa de um louco que vendeu a ideia de fim dos tempos, que tudo ia acabar, só os bons reinariam após o primeiro minuto do ano 2000, no céu, lógico, porque aqui só sobraria pó. Aos poucos uma verdadeira revolução se instalou na casa dela, as calças compridas femininas e as bermudas masculinas foram queimadas, borboletas e outros sinais da “nova era” foram exterminados, minhas bruxinhas, magos e outros seres mágicos que eu tinha em forma de bibelô de repente sumiram da minha estante quando eu voltei da escola. “Não pude fazer nada”, disse minha mãe, contando que minha tia apareceu com um conselheiro espiritual fazendo uma limpa no meu quarto. “Jogaram no mar”, minha mãe falou. Eu em prantos. O mar era longe. Enquanto isso o louco lá, reunindo em suas peregrinações milhares de católicos crentes (e com dinheiro), vendendo CDs e souvenirs a rodo, pregando uma falsa ideia a pessoas descrentes em si mesmas e desesperadamente carentes por outra coisa. Eu lembro que não acreditava em nada, minha tia me convencia e eu pensava “e se?”. “Mas eu não vou nem fazer 15 anos!”, eu dizia, pensando na festa que minha mãe tanto sonhava. Lembro-me ainda da minha tia dando dinheiro para eu, minha mãe e minha irmã irmos à costureira mandar fazer saias compridas. Fomos sozinhas e mandamos fazer várias. Calças.

E sabe? Essa torrente de lembranças me fez acreditar: não, eu nunca acreditei no fim do mundo. Embora às vezes eu seja descrente nesse mundo de intolerâncias e que só mesmo acabando tudo para recomeçar de um jeito que preste, eu balanço a cabeça e a ideia desanuvia. Não é preciso terminar nada de uma vez. É preciso terminar as pequenas coisas, os ódios gratuitos, os preconceitos, a violência violadora. É preciso começar (e recomeçar todo dia) o amor. Nada termina, tudo recomeça. Bendito clichê.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Fins

O meu mundo acabou um bom número de vezes e nunca morri, bem, até agora não. Acabava toda vez que eu gostava de uma menina no colégio, aquilo virava uma loucura, não conhecia me expressar, falava coisas sem pé e cabeça, até que a rainha dos meus pensamentos, encontrava alguém mais prático e implodia de vez o meu mundo.
 
Aliás, a praticidade acaba com o mundo. Já pararam para pensar quantos mundos para as famílias orfãs de uma pai que enveredou pelo caminho da praticidade e sempre almoçou fast food?
 
O meu mundo acabou em 99 e 2000 nas mãos do Marcos, acabou nesse ano devido ao Tolima. E espero que em 2014, na abertura da Copa, ele não acabe.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Fim volátil, o retorno

Ela começava a se acostumar com uma felicidade mansa e perene, quando mais uma vez lhe tiraram o chão. Aos prantos, sozinha e ainda machucada, pensava que a trilha sonora da sua vida poderia ser aquela música da Maysa. Ela já era suficientemente experiente no assunto. Levou rasteira tantas vezes que seus cromossomos sabiam de cor que ninguém tinha tempo nem interesse por suas tragédias. Que ninguém lhe resgataria da cratera onde ela se encontrava. Então poupou-se da frustração, do drama e da autopiedade habituais e combinou consigo mesma que viveria seu luto apenas pelo tempo necessário. Nem um minuto a mais. E mais breve do que imaginava, deu a última fungada, secou o rosto, se recompôs e disse a si mesma: “meu mundo caiu, mas não acabou. Eu que aprenda a fazer rapel”.

terça-feira, 14 de junho de 2011

É o fim do mundo?

Anúncio na seção recados, do jornal Metrô News, de 8 de junho de 2011:

PROCURO MULHER Hermafrodita p/namoro, tenho 48 anos, solt. 9878-9818



E ainda dizem que o mundo tá acabando.
 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Cotidiano Apocalíptico

Postado por Fernando Bonfim

No primeiro instante, ao fazer um exercício cerebral para escrever e divagar sobre fim do mundo, me veio à mente vários fins do mundo cotidiano que alguns já escreveram aqui. O fim do mês para um salário curto, o término de um relacionamento, o orgasmo mais frenético com a pessoa (ou as pessoas) que te dá mais tesão na face da terra, a demissão de um bom trabalho; enfim, todos os modos que nos desligamos desse mundo com a sensação derradeira de fim diário.

Até para aquele senhor que é pregador evangélico, o mesmo que afirmou que o mundo acabaria no dia 21 de maio deste ano sentiu o peso de uma segunda-feira 13. Ele foi vítima de um AVC e está hospitalizado nos EUA.

Seja com data marcada ou não, seja previsto por Nostradamus, incas, maias, astecas, constatado nas evidências bíblicas, provado por Stephen Hawking, lido na borra do café ou vislumbrado numa nota de um dólar dobrada no formato de origami do cão chupando limão...o mundo acaba todo dia, pra todo mundo de formas diferentes.

De forma coletiva o mundo também acaba ou então dá indícios claros de que estamos à beira de um fim próximo. Indícios esses, esfregados nas nossas caras todas as vezes que ligamos a TV, lemos os jornais ou consultamos qualquer site de notícias. Tais como:

  • Político ganhou proporcionalmente mais que Al capone . Ele embolsou R$ 20 milhões em dois meses, contra US$ 60 milhões do mafioso em 13 anos.
  • Brasil cresce, mas ainda é o país das desigualdades
  • Chinês vende um rim pra comprar um Ipad2
  • Trabalhamos 5 meses para pagar impostos;
  • Geisy Arruda vira atriz;
  • Programa da Sônia Abrão ganha helicóptero para exibir crimes do céu;
  • Susana Vieira vira cantora;
  • Mulheres fruta viram (sub) celebridades;
  • (acrescente aqui a sua lista pessoal)

Fica a pergunta sobre o fim deste mundo, que talvez até os mais céticos responderiam de maneira afirmativa e minha avó resumiria a situação com um alto e sonoro – “É o fim dos tempos mesmo”.

domingo, 12 de junho de 2011

Todo mundo conhece

Desde pequena escuto sobre o fim de mundo.Datas,horários , locais .Mas parece que agora vai, no dia 21 de dezembro de 2012.
Ao contrário de muitos, para mim não faz diferença.Depois de anos brigando com a vida, aprendi que tem coisas que não posso mudar nem melhorar.Se for o fim do mundo mesmo,não posso fazer nada, então paciência.
E pra que fingir que não sei o que é o fim do mundo? Já passei por ele tantas vezes! Era quase o fim ,mas de uma maneira ou outra recomeçava.Minha alma conhece a perfeição todos os fins de mundo possíveis e impossíveis.De todos os lugares no abismo, de todas as beiradas, o fim do mundo não parece tão ruim assim.
O fim do mundo não está lá fora nem nos filmes.Não são as cidades que explodem e tudo voa pelos ares. O fim do mundo é uma sensação interna que invade quando perdemos o que amamos.Para muitos o fim do mundo acontece todos os dias.Neste planeta onde somos obrigados a conviver com a infinita crueldade humana o fim do mundo é um lugar que todos conhecemos.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

quando a Revolução chegar

quando a Revolução chegar, providenciarei:

um pôr-do-sol com duração de 24 horas todo sábado para inspirar o gabo
a eliminação de calorias da maionese favorita da xyloca
só mãos boas no poker para o rafa, com exceção dos momentos em que ele se entediar e resolver blefar um pouco
o deslocamento da bahia inteira e intacta para o guarujá, facilitando assim o acesso da flavinha
carteira de sócio-torcedor vitalícia no Morumbi para o miudo
um batom que jamais tem fim na cor predileta da manuba
a transformação de cada gota de cerveja ingerida pelo julho em um fio de cabelo na cabeça dele e/ou condicionamento físico em prol da rua rocha
tráfego intenso em qualquer esquina onde a carola decidir fazer coleta
um vagão exclusivo na linha verde do metrô denominado "área vip r0cc0sfera" devidamente equipado com ar-condicionado, barras para jogar gol a gol e caixas de som para aulas de body jam
missões diplomáticas de recursos ilimitados e interesses políticos limitados para a tavi
um serviço 24 horas de delivery de qualquer comida que não seja pizza no bairro do danilo
o posicionamento dos melhores mendigos e ônibus no caminho do trabalho da guadalupe
batatas que se cortam e se fritam para acelerar a vida do raphildis
energia para que a miroca não mude nunca
fones de ouvi com chip de rastreamento para o luiz tiaguinho
curso grátis de dança para o danielzinho
e um título da libertadores do corinthians para a leonor (só e somente só para a leonor, e simplesmente porque não consigo imaginar em qualquer outra coisa que essa incrível mulher não tenha ou não seja capaz de conseguir com a própria força)

enquanto a Revolução não chega, fiquem vocês com a minha profunda gratidão.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O mundo já acabou.

Acabou para o meu avô em 1994, para o Michael em 2009 e para o Einsten em 1955.

O seu mundo vai acabar, a grande idéia de existir o fim de mundo onde todos morrem juntos ao mesmo tempo é magnifica demais para ser real.

Amantes terminando juntos, filhos abraçados com seus pais, todos em casa confortáveis, com tempo para todas as suas rezas, perdões, sua sala,seus bichinhos, suas fotos.

Você provavelmente não vai ter essa sorte, e vai morrer pela indo para o trabalho num dia que brigou com seu pai, com um cancêr, com um tiro. Vai deixar filhos, amigos, Deus me livre, pais.

Depois que eu morrer, acabou, que a Terra se exploda. Não fará mais nenhuma diferença. Se eu puder escolher o dia a hora e o local, melhor.
Cada dia que passo acredito menos em vida eterna, em alma, sinto que sou um amontoado de moléculas, atomos que juntos consigo chamar de eu.

Um dia fui um pouco lá, um pouco cá, um pedaço de uma planta, de um cachorro, de terra, da água de um rio, de outra pessoa, e depois de morta, vou reciclar denovo, perco a noção de eu, mas não deixo de existir.
Pensando assim, nem o fim do mundo pode me finar.
Somos eternos.

terça-feira, 7 de junho de 2011

"E O Mundo Não Se Acabou" ou "Nos Vemos em 2012"


A Mil chegará, de Dois Mil não passará”


 
   Quem nunca ouviu essas palavras saídas da boca da avó ou de alguma pessoa mais velha, que atire a primeira pedra.   A minha, por exemplo, vivia repetindo isso toda vez que dizia que o mundo estava perdido.  E quando a gente a inquiria, perguntando de onte tirara a informação, ela, cheia de propriedade, afirmava:  “Da Biblía, ué!”  Mentira.  Eu nunca li a Biblia de cabo a rabo, mas os que o fizeram, garantem que não há versículo nela que faça tal revelação.

   O fato é que o Apocalipse esteve para ocorrer diversas vezes ao longo da História.  Eu mesmo lembro do fim anunciado em 99.  Algumas semanas "atrás", o assunto voltou com todo gás, graças a um grupo religioso aí.  E, pra variar, o mundo continua no mesmo lugar.

   Existe uma música, do final dos anos 1930, chamada "E O Mundo Não Acabou", gravada originalmente por Carmem Miranda, que é, para mim, um dos retratos mais divertidos sobre o assunto.  Para quem não conhece o samba, taqui a letra:


" Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disto a minha gente lá em casa começou a rezar
Até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disto nesta noite lá no morro não se fez batucada

Acreditei nessa conversa mole

Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei a boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou

Peguei um gajo com quem não me dava

E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão
Agora soube que o gajo anda
Dizendo coisa que não se passou
Ih, vai ter barulho e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou "

    A canção teve diversas regravações - a mais célebre imortalizada por Marlene e, entre outras, uma bastante controversa, nos anos 90, na voz da  "Kid Abelha" Paula Toller que subverteu o trecho "peguei na mão de quem não conhecia" por "peguei no pau de quem não conhecia".  Mérito do grande Assis Valente, criador da música e pai de algumas das canções mais vivas no imaginário do brasileiro.  Tá, o tema é o fim do mundo, mas a biografia do Assis é tão curiosa que é digna de nota:  ainda moleque foi roubado dos pais. 
Já adulto, por conta de dívidas, tentou o suicídio  diversas vezes.  Numa delas se atirou do Corcovado, sendo salvo por uma árvore que amorteceu-lhe a queda. Também por dívidas, teve uma das produções mais profícuas de nossa música, chegando a compôr uma canção por dia (entre elas, o segundo Hino Nacional, "Aquarela do Brasil" e a canção natalina mais antinatalina de todos os tempos, "Já faz tempo que eu pedi, mas o meu Papai Noel não vem/ Com certeza já morreu ou então Felicidade é brinquedo que não tem")!  Morreu em 58, depois de ir ao escritório de direitos autorais atrás de algum trocado.  Senta num banco de praça, toma formicida e deixa um bilhete para a polícia e para o amigo Ary Barroso, que lhe pagasse o aluguel em atraso.  Até na hora final, foi poeta:  "Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo."
     
 

   Ah, só para não terminar fugindo completamente do tema, toma um link com as 242 datas que a Humanidade já marcou para o "grande dia".  Desde 44 a.C. que eles estão tentando.  A merda é que um dia, eles acertam.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O fim do mundo segundo Arthur Clarke

Observando as primeiras postagens aqui do blog nesse mês que tem o tema do “fim do mundo”, eu me dei conta que o pessoal do blog tentou dar um enfoque diferente nessa questão toda. Porque, afinal, tá todo mundo cheio de Roland Emmerich e seus apocalipses anabolizados. Ou não? Eu admito que os filmes do alemão (pros menos versados: Independence Day, O Dia Depois de Amanhã, 2012) são um prazer culpado dos bons. Mas não é nada que se compare a elegância, imaginação e capacidade de surpreender de um mestre. Porque, vamos sair da esfera do cinema um pouco e mergulhar o nariz em um bom livro. O nome: O Outro Lado do Céu, uma coletânea de contos incríveis do papa da ficção científica Arthur C. Clarke.
Conhecido pela frieza calculada (e genial) de seu 2001, feito ainda mais famoso pela tradução cinematográfica de Stanley Kubrick, a verdade é que a face sensível, humanitária e poética de Clarke permanece um pouco escondida para a maioria dos leitores e admiradores da boa ficção. Eu mesmo entrei em contato com ela por acaso: a cópia do livro supracitado estava empoeirando na escrivaninha do meu pai, e eu me surpreendi com o nome gravado na capa, resgatando-o de sua cruel sorte e devorando-o em uns poucos dias sem nada pra fazer nas férias pouco movimentadas daquele ano (que já não me lembro qual). Eu já havia lido um Ray Bradbury tirado da mesma estante abandonada, e tinha abandonado Isaac Asimov no meio de Eu, Robô. Devo dizer, a título de opinião, que o primeiro continua insuperável (O Caso de Amor de Laurel e Hardy é um conto para a vida toda) e o segundo continua deixado de lado.
Mas, vamos ao ponto: Arthur Clarke não é regular. Alguns contos são incríveis, outros simplesmente divertidos, uns poucos realmente que estouram a cabeça do leitor. E há Os Nove Trilhões de Nomes de Deus, que irrompe como a primeira seleção da coletânea de contos e encanta como poucas peças de narrativa foram capazes de encantar. O conto, que Clarke descreve na sua nota bibliográfica como “produto de uma tarde chuvosa em Nova Iorque”, fala sobre a natureza humana, a contradição do ato de acreditar e, sim senhores leitores, sobre o fim do mundo. Mas o fim do mundo de Clarke é essa coisa simples, esse mecanismo encaixado com tanta precisão e tamanha elegância que fica difícil não olhar para o livro em suas mãos, no fim da narrativa, e pensar “porque não?”.
Não vou estragar uma sacada tão boa quanto a de Clarke, nem roubar de vocês, leitores, o prazer de imergir nesse fim do mundo. Essa tradução que eu encontrei do original em inglês está bastante boa. O conto não é exatamente curto, mas vale a pena, eu posso prometer pra vocês. Vale a pena ler, absorver e lembrar sempre de olhar para cima de vez em quando. Há uma última vez para tudo, afinal. Boas estrelas esse mês, meus queridos! E até Julho (e as férias, e o inverno, e o tédio; todos eles um pouquinho fim e um pouquinho início do mundo próprio de cada um).

domingo, 5 de junho de 2011

Amor em 140 caracteres

Os tickets dos cinemas. As rolhas dos vinhos. As embalagens dos alfajores. Etc etc. A um passo de dizer que estou amando esse cara. Ele já deixou de dizer que gosta de mim. Agora diz: eu te adoro.

sábado, 4 de junho de 2011

A arqueologia dos amantes (por Gilberto Amendola)


por Gilberto Amendola

Tem um quê de amor falido nas unhas roídas da manicure espanhola; no sono assassino dos caminhoneiros; nos 130 kg de obesidade mórbida da colegial; nos orelhões quebrados da Avenida Paulista; na voz fanha da operadora de telemarketing; no dinheiro gasto com putas coreanas. Tem um quê de amor falido (triste de tão falido) no abraço das múmias do Mosteiro da Luz.

Os cupins devorando o que passou. Tirando da carne todo vestígio de vida. Decomposição do ser. Até que reste apenas o essencial. Até que tudo fique no osso. Amor no osso. Paixão no osso. Ilusão no osso.
 
Tem um quê de amor fudido nas canções que só tocam na cabeça dos portadores de síndrome de down; nas máquinas de pegar bichinho dos shoppings centers; nos chuviscos da tevê fora do ar; naquele pedaço de pizza fria no fundo da geladeira; na dor da bailarina carioca que perdeu um dedo em cena; no oitavo copo de café antes do meio-dia e no sexo sem dia seguinte.

Os cupins brincando no oco do coração. Poeira no peito aberto. Não cicatriza mais. Não cicatriza nunca. Como pode amar alguém se não pára de tossir.
 
Tem em quê de amor surtado nos relógios parados; nas cadeiras de balanço sem ninguém; em aquários sujos; nos cavalinhos de carrossel; no pôster de mulher pelada da borracharia; nos tamancos quebrados; em postos de gasolina abandonados; em garrafas pet que navegam solenes pelo Tietê; nos blogs esquecidos depois do primeiro mês.
 
Quando o futuro chegar, os cupins já terão feito seu trabalho - perpetuado nosso passado no osso.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O meu fim do mundo

Não sei o motivo de tanta histeria. E daí o fim do mundo? Deixa acabar, ué. Não tem que ser necessariamente uma onda gigante que vai varrer todos os continentes, uma fenda de lava que vai sugar e fazer churrasquinho de tudo e de todos. Isso é coisa de cinema. Tá bom, é bíblico (é?), segundo o que eu assisti em Supernatural, mas quem disse que não pode ser bonito?

Imagina só, talvez um monte de estrelas cadentes, o céu igual a um reveillon, já pensou? Ou um único meteoro, grande, bem grande, do tamanho do Corcovado, como disseram uma vez que seria, entre as seis e a sete da noite, a minha hora favorita do dia. O céu todo colorido, azul, rosa, laranja, e aquela pedra se aproximando, maior a cada segundo. Poético, né?

Talvez fosse tão rápido que ninguém se desse conta. Um raio de luz e pronto, acabou. Ou devagar, com tempo suficiente para planejar o seu fim do mudo. Com os amigos ou com a família? Interior? Litoral? Não, litoral não. Imagina o congestionamento na serra.


Fiquei pensando o que faria no caso de dar tempo de planejar. Não foi fácil, visto que eu mal sei o que fazer no meu fim de semana, mas depois de muita reflexão cheguei a uma resposta.Pensei em beber com os amigos, em declarações de amor, amores atuais, amores perdidos, em sexo com estranhos, drogas alucinógenas, em torrar cada centavo da minha poupança, sair por ai sem destino certo, mas nada disso me trouxe a sensação de felicidade. Ou pelo menos de felicidade derradeira, sabe? A grande felicidade.

A grande felicidade mesmo, nesse dia tão importante, seria estar de estar no meu quarto, sozinha, ou na companhia dos meus gatos, que é pra não ter que dar satisfação pra ninguém, vestindo um pijama velho e largo, assistindo um seriado na TV e tomando a sopa de fubá da minha avó. Não pode ser qualquer uma. Tem que ser a da minha avó, aquela cheia de ovos e couve picada. E um chocolate se sobremesa. Belga. Não, melhor. O pudim de laranja da minha mãe. E pronto, que se faça o fim.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Vinte fins do mundo

Todo mundo sabe a definição óbvia do termo “fim do mundo”. Fim da humanidade / fim da Terra / fim do universo. Qualquer um destes fins isoladamente, pode e deve ser caracterizado como o “fim do mundo” da igreja, dos filmes hollywoodianos e do senso comum.

Mas eu não estou aqui para gastar o seu tempo precioso, a sua inteligência e a sua ociosidade no trabalho para falar de algo que você já está calvo de saber. Poderia listar cerca de três mil coisas que eu considero o fim do mundo, mas acho que uma lista de 20 já está de bom tamanho. Ei-la:

1. Começar a fumar cigarro, mesmo sabendo que faz muito mal à saúde.
2. Ser um vagabundo mental. Ou seja, não exercitar o cérebro regularmente e ficar preso somente às ninharias fáceis e burocráticas do dia-a-dia que ele, o cérebro, já faz com o pé nas costas. O cérebro é um músculo que precisa de exercícios todos os dias. É o fim do mundo tratá-lo como uma ameba.
3. Eu mesmo achar o item número 2 de extrema importância, mas não conseguir colocar em prática do jeito que eu gostaria. O mesmo vale para o item 4.
4. Fazer apenas o que dá prazer. (fazer coisas que você odeia tornará as prazerosas ainda mais prazerosas e será de extrema importância para o item 2)
5. Tratar o próximo com desdém sem motivo algum.
6. Pensar no termo óbvio de “fim do mundo”. Se o mundo acabar, acabou. Você não poderá fazer absolutamente nada. Viva a porcaria do presente e pronto.
7. Encher o saco dos outros, sobretudo do(a) namorado(a). Não é porque o seu saco já está cheio que você precisa pegar emprestado o saco alheio para encher um pouco também. Esvazia o seu próprio saco e enche ele de novo. Mas deixe o saco dos outros em paz.
8. O jornalismo barato que gosta de criar polêmica por esporte. Não só no esporte, mas também por esporte. Acham um pentelho dentro de uma sopa do tamanho do Maracanã e focam apenas no pentelho.
9. Perder o nosso tempo lendo matérias polêmicas idiotas que a gente já sabe que são polêmicas idiotas só pelo título.
10. Não ser contraditório. A contradição é a chave para a criatividade, para a mudança de ideias, para a inovação, para a intuição e para a paixão. É importante ter uma boa essência que respalde as suas opiniões contraditórias. Porém, sem contradição você é apenas um robô com uma boa essência.
11. Pais que dão tudo que os filhos pedem e não dão limites.
12. Deixar de jogar videogame depois dos 30 anos, só porque é coisa de “criança”.
13. Execrar e falar mal de bandas que você amou e ouviu intensamente na infância e adolescência. Tenha um mínimo de respeito pelos seus hábitos passados. Não precisa dizer que tais bandas são incríveis, mas ao menos respeite-as. O mesmo vale para as namoradas que um dia você gostou. Não é só porque você está ao lado de uma muito melhor que você precisa ficar falando mal das anteriores.
14. Ser um babaca.
15. Ser um babacão.
16. Muitas vezes não ter como saber se estamos ou não sendo babacas.
17. Ser repetitivo.
18. Ser ainda mais repetitivo.
19. A gente achar que é o fim do mundo a internet parar de funcionar. Isso deveria ser visto como a salvação do mundo. Como a chance de poder dar uma volta no parque, ler o jornal na cozinha bebericando um café com leite frio, arrumar o seu quarto, que está um zona. Ficar aflito com a queda da internet é o fim de todos os fins do mundo. Todos nós estamos nesse barco. Lamentável.
20. Voltar a trabalhar depois de ler esse texto.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

o acaso do acaso do acaso

é a primeira vez que escrevo morto. eu tava quieto no meu canto, juro. acordei e, como de costume, antes mesmo de ir ao banheiro e dar aquela espreguiçada, liguei o computador. tudo de bom resolveu acontecer hoje, pensei. o trabalho novo, meus amigos, a família, o amor, tudo indo bem. o lance da viagem deu certo, os exames deram negativo, o dinheiro caiu na conta. enfim, uma sucessão de coisas boas parecia estar ali em frente de mim, inclusive as notícias: fim da homofobia, fim do desemprego, fim da miséria, fim da violência. tudo estava perfeito demais, até as religiões tinham parado de discutir coisas inúteis e o governo todo foi trocado por gente íntegra. então tomei meu café, reguei as plantas e saí pra dar uma volta. o bairro ainda mais florido, os pássaros ainda mais cantantes, o sol e o frio numa mistura nunca antes tão agradável. os vizinhos dando bom dia, os motoristas respeitando o semáforo, os pedestres cautelosos. quer dizer, não tão cautelosos assim, pois foi neste exato momento de reflexão que tropecei num galho de árvore e não vi o caminhão passar lentamente sobre meus ossos e me partir ao meio. esta é minha última lembrança. o meu fim do mundo.

.

.