O gato continuo calado na dele e eu passei mais alguns
minutos tentando decifrar aquele enigma. Distante de um socorro e de uma
solução, pensei em voltar para o Brasil. Mas seria isso o correto? Uma visita
inesperada e adereços jogados no meu cenário fizeram toda essa confusão e eu
não me dei conta. Fiquei seguindo as rubricas dessa peça sem direção. Muita
loucura para um hospício só. Será que isso foi alguma macumba que a Ramona fez?
Não duvido nada, logo ela que se envolvia tanto com essas coisas. Pensei, de
antemão, já que não conseguia entender aquilo tudo, em telefonar pra minha mãe
para perguntar algumas coisas. Mas não, não posso envolvê-la nisso. Tenho que
ir até o fim, como um cego.
É noite e a pensão San José é um local agradável de se passar, não posso
mentir. Mas, com todos esses problemas pra resolver, nem pude voltar a rever as
redondezas. Estive aqui ano passado na época que conseguia ainda manter uma
relação estável com a Ramona. Momentos inesquecíveis que de tão bons que
ficaram tatuados no cérebro. E agora tudo acontecendo como num filme pausado
por uma amiga cagona e, no aparecer do play na tela, a película avançada sem
nada a se entender. Cenas adiantadas, o motivo talvez tenha sido as dopagens. A
pipoca talvez estivesse com alguma coisa e eu não senti nada. Este está sendo
um filme difícil. Não é como aqueles que quando você para pra assistir, já dá
pra acompanhar e se emocionar com o final. Uma coisa é certa: isso que vem
acontecendo comigo não é um roteiro de merda, dá pra assistir, mas... Será que
ele vai me passar alguma moral? Será que terá os créditos? Eles talvez fossem
um desfecho para essa pegadinha,muito bem produzida pelo visto, que estão
fazendo comigo.
Não tive medo de nada desde o começo e espero não ter daqui pra frente. Penso
em bater uma punheta, mas a ocasião pede reflexão, e não gozo. Sou precoce e
seria uma jogada rápida... Mas não, tenho que refletir. Como alguns dizem: os
poucos neurônios do homem estão no pau. Não concordo. Todos os ponto erógenos
até sim, mas os neurônios não, pelo menos não agora. Estou com todos na cabeça,
lugar-comum e sem metáfora onde eles devem ficar. Estou preocupado com o meu
futuro e não me desapego do passado. Passam, como numa apresentação de slides
na minha frente, muitas imagens. Desconheço os próximos passos e resolvo não me
mexer muito para não encontrar mais nada. Está tudo muito bem até agora. Nada
melhor, como falaria a minha mãe se eu lhe telefonasse agora, como um dia após
o outro. Virá! Solução não sei... O gato se mexe.
- Ainda acordado? -
indaga o gato.
- Não consegui dormir tentando resolver tudo isso. Você sabe de mais alguma
coisa?
- Você deveria enterrar suas necessidades. Cobrir com areia.
- Por que você está dizendo isso? Vai, responde!
- Você não desconfiou tanto de mim? Achava que eu não falava... Não teve
imaginação para entrar no meu mundo, mas acreditou em tudo isso que vem
acontecendo com você. Eu tenho experiência de vida, você não.
- Isso eu sei, mas eu só queria entender isso tudo que tá acontecendo.
- Você acredita que nós gatos temos sete vidas?
- Não.
- Então, o seu problema é não ter problema.
- Só queria a solução.
- A morte é a única coisa para qual não há solução. Você tem que aprender a
enterrar suas necessidades e acreditar menos. Vives muito no passado e não
vives. Você reclamava de ter uma vida muito paradona e agora a cegonha lhe
visitou. Trouxe de presente muitos problemas... Ramona morreu e Carmem também
e, como acho que você deve saber, elas só tem direito a uma vida. Nada de reencarnação
nessas horas e se tiver é pra uma futura melhora no caráter delas. Nada é em vão.
- Então isso é tudo mentira?
- Mentira diria que não. Pense, como se fosse, a visita do Papai Noel onde o
presente é uma lição de vida. Mas isso não quer dizer que seja mentira. Foi uma
visita, sim, mas domiciliar de médicos, lhe alertando pra você entender que sua
morte também está próxima se você não parar pra viver sua vida sem visitar o
passado.
(The end)
(The end)
.M.U.I.T.O. .B.O.M!!! .H.U.M.I.L.H.O.U. .L.O.S.T.!!!
ResponderExcluirTambém gostei, mas...
ResponderExcluirSó por curiosidade...
E os últimos dias do mês?! Rsrsrs!
Eles não iriam postar também?!
Abraço! :)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir"(...)lhe alertando pra você entender que sua morte também está próxima se você não parar pra viver sua vida sem visitar o passado".
ResponderExcluirMuito bom, João!
Clap! Clap! Clap!
Márcio e demais interessados: a Ana e a Elaine excepcionalmente não poderão postar este mês, por este motivo foi o João o responsável por fechar "A Visita" com chave de ouro (provavelmente a mesma chave entregue ao nosso personagem no dia 3)
Aaaaaah sim!
ResponderExcluirPor isso então! Rsrsrsrs!
Mas beleza!!!
Parabéns pelo final, João, uma vez mais!
Show de bola! ^^
Felipe, deixa eu ser educado: Obrigado pelo esclarecimento! ^^
ResponderExcluirAh, valeu por terem gostado. Confesso que foi difícil dá um fim a esta história. Mas fiz o que pude... Pensei em ler algum final de romance policial pra ajudar e terminou ficando assim do meu jeito. :)
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirNa "A visita: o retorno" acho que vão explicar mais sobre a Risa. Ainda acho que tudo isso é culpa dela. hahaha
O cara com medo de tudo e de todos e do nada ficou exitado e pensou em se masturbar?
ResponderExcluirJá que estamos no LOST literário, alguém me jogue pela escotilha.