Esses dias eu fiz uma viagem nos moldes dos anos oitenta:
praia, carro, família e badulaques. Uma
viagem como nos tempos que não existia a possibilidade de parcelar em dez vezes
no cartão. Viajávamos para a praia mais
próxima e só. De preferência para alguma casa emprestada e levando uma caixa de
mantimentos no bagageiro, junto com um isopor, guarda-sol e cadeiras de praia. E se você está pensando
em como cabia tudo isso em um carro, é porque seu pai não tinha uma Caravan. Caso contrário você saberia que dava espaço
até pra um dos filhos ir deitado junto das bagagens. E tinha briga pra ver quem
viajaria lá!
Tirando o porta-malas colossal e a imprudência, tudo igual,
até os desentendimentos. Pra começar meu
cunhado se perdeu no caminho. Lembra do tempo que não existia GPS e seu pai se
recusava a pedir informação no posto? Pois
é. Duas horas a mais de estrada por conta da teimosia. No outro dia começou
aquele lenga-lenga de família. Um quer ir pra um lugar, outro pra outro. Meu cunhado, sempre ele, ficou infernizando
para ir para a praia que ele ia quando era criança. Falou, falou, falou, falou
tanto que fomos, caramba, ninguém mais aguentava ele choramingando na
cabeça. Chegamos lá e ele ficou
visivelmente emocionado. E bêbado. Não
parava de falar de quando ele viaja com os pais e o irmão, e a casa que
ficaram, e aquela vez do Banana Boat. Por sorte não tem mais esse brinquedo por
lá. Viva o progresso
.
Eu estava começando a achar que minha irmã tinha se casado
com uma pessoa intelectualmente prejudicada quando chegou a vez passar o dia na
minha praia de infância. Ah, como é bom, meu cunhado estava certo. Voltar há um
lugar que você foi feliz na infância é mesmo de se encher os olhos. E estava tudo igual. As barraquinhas, o
queijo coalho, as conchinhas. Não conheci nenhuma outra praia que tivesse
tantas conchinhas coloridas como aquela. Eu recolhia as mais bonitas e levava embora. E tinhas as bolachas-do-mar também, com aqueles "pezinhos". Eu levava também e deixava em um pote com água para que não morressem. Claro que não dava certo. Começava a cheirar mal e comprava uma briga com a minha mãe, que queria jogar fora e eu não aceitava.
Fiquei sentada na areia pensando em todas as coisas que eu
gostava de fazer quando eu era criança e percebi que a eu continuo gostando das
mesmas coisas. Menos nomes, graças a Deus, senão meus filhos se chamariam
Sandro e Jéssica, que eram os nomes das minhas bonecas. Sorvete? Até provo
outros, mas gosto mesmo é do sabor doce de leite, o mais próximo possível do
sorvete do Seu Zé. E tem ainda andar
descalça, filhote de cachorro, pastel de salsicha, chupar laranja, piscina, andar
de bicicleta. Posso até mudar, esquecer, mas quando volto a fazer alguma coisa
que eu gostava de fazer quando criança, parece que o prazer é dobrado, como se
eu recuperasse um pedaço de mim que alguém levou embora. Foi aí que resolvi começar a colecionar
conchas.
Pastel de salsicha? Isso existe? hahaha
ResponderExcluirÓtima história!
Viajar no "chiqueirinho". Ai simmm, só quem é sabe.
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