“Art. 375. Ficam desde
já enquadradas como ZEPAM:
I - os parques urbanos
municipais existentes;
II - os parques
urbanos em implantação e planejados integrantes do Quadro 7 e Mapa 5 desta lei;
III - os parques
naturais planejados.
Parágrafo único. Lei específica deverá ser elaborada determinando a
gradual restrição ao transporte individual motorizado no Elevado Costa e Silva,
definindo prazos até sua completa desativação como via de tráfego, sua
demolição ou transformação, parcial ou integral, em parque.”
(DIÁRIO OFICIAL, 1º
de agosto de 2014 - LEI Nº 16.050, DE 31 DE JULHO DE 2014: Aprova a Política de
Desenvolvimento Urbano e o Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo
e revoga a Lei nº 13.430/2002.)
O Elevado Presidente Artur da
Costa e Silva, o Minhocão, nunca foi exatamente um dos pontos mais amados de
São Paulo: desde sua inauguração em 1971, as críticas a respeito de sua implantação
sempre foram contundentes. Considerado uma “cicatriz urbana” por muitos, é o
símbolo de uma administração impositiva, na qual interesses escusos eram
sobrepostos às necessidades da população.
Desde a década de 90 foram
discutidas possibilidades de “revitalização” da área afetada pelo Minhocão, sendo,
majoritariamente, propostas de demolição do mesmo. O atual Plano Diretor
Estratégico de São Paulo, entretanto, engloba perspectivas diferentes.
Partindo do ponto de vista
daqueles que são favoráveis à demolição, encontramos argumentos diferentes, mas
com um fundo em comum: a deterioração do parque imobiliário e o “perigo” da
região. E quando há o contra-argumento do entulho gerado, uma das frases
repetidas em meio acadêmico é que “o Minhocão é feito de elementos
pré-moldados, logo, pode ser desmontado sem gerar entulhos”.
Indo um pouco além dessa
discussão, é conveniente questionar se a área ao redor é realmente tão
degradada quanto se fala. Evidentemente houve a deterioração do espaço, dada
principalmente pela poluição visual, sonora e a fuligem, comprometendo a
qualidade de vida dos moradores – o que acarretou em uma desvalorização
imobiliária do entorno. Há a presença de cortiços, mas isto é uma
característica do centro de São Paulo e seus edifícios abandonados; e a
presença de moradores de rua é mais uma consequência das políticas públicas
inadequadas da cidade do que a presença do elevado em si, embora ele acabe
agindo como elemento de atração para os moradores sem teto.
Na contramão das opiniões
demolidoras, existem outros pontos a serem considerados: a parte de baixo do
Minhocão pode não ser a mais segura de São Paulo, mas não é uma das mais
perigosas (vide o site ondefuiroubado – no qual os internautas registram os
assaltos ou furtos sofridos). A rua é movimentada e há a presença de edifícios
de uso misto (comércio no térreo e habitação nos andares superiores) – em suma:
há a presença de pessoas. Em seu livro "Morte e Vida de Grandes
Cidades", Jane Jacobs, jornalista e ativista norte-americana, discorre a
respeito da dinâmica das ruas, argumentando que, quanto mais olhares uma rua
recebe, mais segurança ela terá – a presença de transeuntes gera a sensação de
proteção. Mesmo os bairros considerados tranquilos podem se tornar perigosos, e
não é um guarda municipal ou um vigia que mudam as ocorrências na rua.
Entre outros pontos, é crucial entender
a apropriação que ocorre à noite, aos finais de semana e feriados. Em São Paulo
faltam espaços públicos de qualidade e a existência de um ambiente que deixe de
privilegiar o automóvel é rapidamente absorvido pela população, carente de
infraestrutura. No Minhocão a dinâmica é algo auto-regulável: vendedores
ambulantes, trupes de teatro, famílias, ciclistas, skatistas, transeuntes indo
para as feiras, moradores, que ficam na sacada observando o movimento, surgem e
dominam o ambiente naturalmente. O espaço urbano é apropriado por olhares e
ganha vida.
No artigo 375 do novo Plano
Diretor Estratégico é prevista a gradual restrição ao transporte individual
motorizado no Elevado Costa e Silva, definindo prazos para sua completa
desativação – demolição ou transformação parcial ou integral em parque – como
via de tráfego. Para uma aplicação inteligente das diretrizes do atual plano é
importante não apenas considerar os interesses da população, mas também suas
necessidades - que nem sempre estão alinhadas. O Elevado requer, enquanto um
elemento híbrido e integrado à dinâmica urbana, uma abordagem que trabalhe com
estratégias igualmente complexas e que, de preferência, estejam interligadas,
garantindo assim uma resposta à altura das necessidades daqueles com quem se
relaciona.
O Minhocão é tido como cicatriz e
símbolo de administrações deficientes, mas também pode ser convertido em
elemento de integração, resultado de uma nova conexão entre a população e a
cidade. Transcender este estigma e analisá-lo a partir de uma ótica de
potencialidades é ação primordial para a concepção de novas estruturas urbanas.
https://www.flickr.com/photos/fore/ |
Mais um mandato e o Maluf construiria outro andar do Minhocão o.O
ResponderExcluirComeço a ver a grande minhoca de concreto com outros olhos agora. Nunca tinha pensado nas potencialidades que o sujeitinho cinza tinha. Bem vinda, Re!
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