Outro dia estava na estrada e me questionando o peso
nas costas. Peso que estava ali, por ser incapaz de encher a mochila com apenas
aquilo que fosse estritamente necessário usar durante três ou quatro dias.
Seria bom se ocorresse às vezes, mas quase todas
viagens caio na merda e levo o que não precisa.
Caminhar em lugares desconhecidos com o sol da manhã
ou tarde, vento nos cabelos e balanço das ondas sejam salgadas e doces é uma
delícia, menos quando se está com peso desnecessário que comprime o cérebro e
invade o peito a ponto de faltar o ar.
Cada pensamento parece uma nuvem pesada com quilos e
quilos de carga negativa que rodeia o corpo, mesmo quando se sabe que o peso
está apenas nas costas e não na cabeça.
Em pouco instante o peso desce das costas para as
pernas e pés, fica aquela impressão de que o peso aumentou. Assim pode ter a
paisagem que for, se tiver peso, nada está da forma que deveria. O sorriso sai,
mas é amarelo ou cinza. A alegria surge, mas é sem graça.
Tanta blusa, shorts e saia, sandálias e toalhas,
cangas, brincos, pulseiras e vestidos aqui nesta mochila pesada, único pensamento
que acompanhava cada passo e suor que escorria sem parar.
Quando chegar no quarto a primeira coisa a fazer:
jogar a mochila no chão com toda raiva que esse peso me fez passar.
Assim o fiz.
Logo que coloquei os pés no piso daquele quarto
simples, para não dizer ralé. E fui para o mar. Em cada onda, era menos um, menos
dois, três pesos. A cada vento um sorriso que saia, um peito que enchia com ar.
Ar de leveza.
Voltei com uma certeza, esse peso não carrego mais.
Dessa vez, quando coloquei a mochila nas costas
senti mais leve, mas ainda estava pesada, com roupas desnecessárias. Lembrei
que parte ia para doação pois estava em bom estado, cheirosa, sem furo ou
desgaste que impedisse outras pessoas de usarem.
A segunda sacola estava abarrotada, mas de roupas
para doação. Parte considerável para ela, outra seria para outros usarem. De
fato e na verdade, tem pouco peso para retornar daqui 15 ou 20 dias.
Sequer os livros vieram, mas logo algum me achou.
Frida veio numa tarde de vento forte e calor escaldante.
Quando existe a ausência do mar para no mesmo instante causar sinergia e
anestesiar quaisquer tipos de males, resta para esvaziar o rio e o livro para
vazar pensamentos e tirar o peso.
O livro numa frase te arremata: tenha coragem de viver porque qualquer um pode morrer.
É uma frase ofensiva, de efeito. Porque logo se
pensa em quem já perdemos, naqueles que se foram.
Ou se cria uma resistência no efeito, principalmente
quando alguém teve a coragem de defender outra pessoa da covardia, ódio e
preconceito nesta semana.
Pensando bem e com a Frida a frase se encaixa
perfeitamente para ele, que agora vive noutras pessoas e marcou a passagem com
algo que era cotidiano.
A solidariedade ou prestar gentileza para aliviar o
peso de alguém deveria valer ouro.
Todo os dias a gente esbarra ou tem a má sorte de
ter por perto ou de passagem pelo caminho quem morreu faz tempo. Aqueles que
absorvem com facilidade sentimentos ruins e pensamentos de destruição, de ódio
e senso comum arraigado no preconceito.
Desejar que 2017 seja o ano da leveza com grito de
liberdade é utópico, mas não custa tentar desejar. Vivemos disso de
acreditar que o ano pode ser melhor, que as pessoas podem ser melhores, que cada dia é novo amanhã.
Daí nasce aquela esperança tola e sabe-se lá para que. Mesmo na razão vemos alguma, afinal a água do rio nunca é a mesma.
Assim seja, para o ano que vem.
Boas entradas de novo ano, 2017 vem aí ;)))
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Com mais luta sim, com mais resistência com certeza
Mas de preferência e por favor Jah com leveza aqui dentro.
Mas de preferência e por favor Jah com leveza aqui dentro.
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