O livro “As veias abertas da América Latina”, lançado pelo uruguaio Eduardo Galeano, em 1971, deveria ser leitura obrigatória para todo cidadão latino-americano.
Não é um livro dos mais agradáveis, nem prende o leitor do começo ao fim. Isso porque Galeano não escolhe o caminho sedutor da opinião sem fundamento. O texto agradável do autor é recheado de referências histórias e documentais, que comprovam as informações da obra que, já no sumário, fala da “pobreza do homem como resultado da riqueza da terra”.
Com quase 50 anos, o livro parece ter sido escrito ontem. Lá fica claro como o período conturbado que os países latinos estão passando não é uma exceção a ser superada, mas uma regra, interrompida por curtos períodos de prosperidade, necessários para apaziguar a revolta do povo explorado há meio milênio.
Hoje o petróleo – brasileiro ou venezuelano –, o gás boliviano ou o cobre chileno são o sangue das veias abertas. Em outras épocas foram o ouro, a prata, o açúcar e, como diz Galeano, até a merda das gaivotas que cobria as encostas de pedra da orla peruana, exportada como excelente fertilizante aos agricultores europeus.
O que sobra da pilhagem de países ricos é a metade da população brasileira que sobrevive atualmente com 413 reais por mês, são as mais de 200 pessoas que perderam a visão em protestos no Chile, alvos de policiais provavelmente alinhados com os oficiais bolivianos que recortaram a bandeira indigenista da farda após a derrubada do governo.
Policiais indígenas negando a bandeira indigenista só é compreensível em uma região em que a exploração europeia começou há mais de 500 anos, culminando no oprimido desejando o status de opressor. É o que explica a existência de ao menos 334 células neonazistas – movimento ligado à farsa da pureza da raça branca – no Brasil, país símbolo da miscigenação.
As veias abertas da América Latina é um livro denso, cansativo, triste, às vezes deprimente, mas ainda assim indispensável, por mostrar as raízes da exploração perene em uma região que, com as veias abertas, parece hemofílica. O sangramento não irá estancar com o tempo e o esforço para que a cicatrização aconteça deve ser coletivo.
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