domingo, 22 de dezembro de 2019

Melhores livros lidos em 2019

Quem me conhece um pouco, sabe que sou apaixonado por literatura e por livros. Quem me conhece um pouquinho mais, certamente saberá que também sou um esquisito admirador de listas. Assim, não posso deixar de juntar estas duas paixões e, pelo terceiro ano consecutivo, publicar minha lista de melhores leituras do ano. Nunca é demais repetir que não se trata de uma lista de livros publicados em 2019, mas de livros cuja leitura fiz neste ano coxinha que já está terminando.

Minha lista é bastante tendenciosa. Nos últimos 4 anos meus interesses têm se voltado bastante para literatura brasileira e hispano-americana contemporânea, de modo que isso se reflete aqui também. De tempos em tempos, é claro, também leio autores mais clássicos (e dois deles se fazem presentes aqui), mas preciso dizer que são minoria. Bom, mas vamos à lista (que não segue ordem alguma)!

A uruguaia e Uma noite com Sabrina Love, ambos de Pedro Mairal (Argentina) - Mairal tem um grande poder de nos fazer empatizar com seus personagens e seus dramas. Não dá pra largar seus livros depois que lemos a primeira linha. É uma prosa viciante, com diálogos e reflexões com os quais gostaríamos de participar, de falar junto, torcendo por seus personagens, seja o quarentão Lucas Pereyra, tentando resolver seus inúmeros problemas pessoais enquanto deambula pelas ruas de Montevidéu, seja o adolescente Daniel Montero, em sua saga para chegar a Buenos Aires para passar uma noite com Sabrina Love, a estrela do canal pornô que sorteou seu nome, entre milhares, como nos programas de auditório tão comuns nos países latino-americanos.

A vegetariana, de Han Kang (Coréia do Sul) - Baita livro, o primeiro de uma escritora sul-coreana que li na vida. A grande questão de A vegetariana é mostrar o quanto as pessoas se sentem no direito de intervir em escolhas individuais alheias (sobretudo se envolvem corpos femininos, sobretudo em sociedades conservadoras - assim, tipo a brasileira). O livro é dividido em 3 partes, cada qual com um narrador distinto, cada um com uma narrativa acerca do fato da protagonista ter se tornado vegetariana. A grande sacada do livro é que nenhuma dessas narradoras é a própria protagonista. Só sabemos o que falam dela, nunca o que ela fala de si própria.

Sombrio Ermo Turvo, de Verônica Stigger (Brasil) Este livro é uma aula de escrita em forma de contos. Nenhum deles passa perto de qualquer convencionalismo e sempre deixam o leitor com o disjuntor caído ao final. Mais um baita livro de Verônica Stigger!

O amor nos tempos do cólera, de Gabriel García Marquez (Colômbia) - Gabo é pra se ler em voz alta, sentindo o sabor de cada palavra. Este talvez seja seu livro mais poético, a história do amor obstinado de Florentino Ariza, que precisa esperar 50 anos para poder se declarar para Fermina Daza. Um grande tratado sobre o amor que, ao contrário de outros livros do gênero, não cai uma linha sequer em qualquer tipo de pieguice. 

Nocilla Experience, de Augustín Fernandez Mallo (Espanha) - Mallo se auto-declara representante de uma "literatura móvel" ou fluida. Em Nocilla Experience (que compõe com Nocilla Dream e Nocilla Lab uma trilogia) temos exatamente isso, trata-se de uma coleção de textos curtos, altamente povoados de ícones da cultura Pop - Nocilla nada mais é que a Nutella espanhola) que permitem uma leitura quando tomados isoladamente (quando vistos de perto, digamos, como quando nos aproximamos de um quadro) e uma outra leitura quando lidos em conjunto (quando vistos de longe).

Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade (Brasil) - Este ano resolvi parar de ler os poemas de Drummond no modo aleatório e lê-los de modo mais sistemático (não que seja ruim ler aleatoriamente, mas quis fazer essa experiência), lendo os 7 primeiros livros dele, de "Alguma Poesia" até "Fazendeiro do Ar". Poderia escolher qualquer um para estar aqui, mas escolho o primeiro, aquele que tem as bases da poesia de Drummond e que reúne os poemas que ouvi desde sempre, como "Poema de Sete Faces", "No meio do caminho", "Cidadezinha qualquer" e "Quadrilha".

O teatro da rotina, de Alex Xavier (Brasil) - Da nova safra de ótimos escritores brasileiros, Alex Xavier tem um repertório infinito de procedimentos narrativos em seus contos, onde consegue extrair o fantástico de situações mais rotineiras. 

Bonsai A vida secreta das árvores, de Alejandro Zambra (Chile) - Os dois primeiros livros de Zambra já tiveram edições separadas pela Cosac e agora aparecem em edição única pela Tusquets. Além de ambos terem a figura de árvores como referência, também tratam igualmente de desencontros amorosos. Além disso, os dois livros são narrativas curtas, de linguagem muito potente, que vale por si só. A primeira passagem de "Bonsai" já nos diz que a literatura de Zambra busca muito mais uma linguagem do que um grande tema: "No final ela morre e ele fica sozinho, ainda que na verdade ele já tivesse ficado sozinho muitos anos antes da morte dela, de Emilia. Digamos que ela se chama ou se chamava Emilia e que ele se chama, se chamava e continua se chamando Julio. Julio e Emilia. No final, Emilia morre e Julio não morre. O resto é literatura".

E você, quais foram seus livros favoritos de 2019? Cite aí nos comentários (nem precisa dizer o motivo...rs).

3 comentários:

  1. Faz muito tempo que quero ler A VEGETARIANA e a indicação aqui fez o livro subir pras primeiras posições do ano!

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  2. Eu quero indicar dois livros:

    IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO do Ailton Krenak porque foi o livro que mais tocou nos últimos anos pela serenidade e sabedoria do autor em lidar com a violência extrema do mundo capitalista.

    E também A ARTE DE VIAJAR do Alain de Botton. O título não é muito convidativo porque parece coisa de autoajuda, mas acreditem: é um delicioso ensaio filosófico sobre o ato de viajar e como ele ajuda constituir nossa visão de mundo, nosso bem-estar e até nossas projeções para o futuro. Uma leitura para fim do dia.

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  3. Anotado, Sirley. Esse do Krenak vc já tinha me convencido pelo Facebook.

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