No
bloco de notas do meu celular tem uma pasta chamada Quartinho de Despejo, uma homenagem
ao Quarto de despejo: Diário de uma favelada, livro da autora mineira
Carolina Maria de Jesus. No livro, ela relata suas vivências na favela do
Canindé, em São Paulo. No meu quartinho de despejo, eu jogo frases soltas, trechos
de conversas partidas que ouço, anotações, argumentos e insights para possíveis
histórias:
1
Quando
a guerra acaba, o dramaturgo tem que ver a morte de perto.
2
Deus
esperava mais de mim.
3
I’m
sorry, desculpa, sinto muito.
4
A
noiva joga um buque. O noivo, uma caixa de uísque.
5
Uma história
de amor que não deu certo - os dois assistindo uma apresentação do Cirque du Soleil
com todos os bailarinos nus.
6
Oi,
Meu nome é tal, escreve como fala.
7
A
fulana microgerencia muito quando ela é líder...
8
Nomes
para personagens: Elídio, Eliezer.
9
Duas
garotas ouvindo a mesma música, dividindo um fone de ouvido no ônibus.
10
O
cigarro é o único careta que eu encaro.
11
Tem
gente que já anda de máscara.
12
A
coisa só se resolve pelo abandono.
13
Estava
cortando cebola, quando o celular tocou.
Se não
anotar, a gente esquece. Por isso, tenha sempre um caderninho e caneta por
perto (tem autor que sugere deixar um caderno ao lado da cama para anotar imagens
dos sonhos). Ou abra o bloco de notas do celular. Meu amigo, também escritor,
Cícero Belmar, sempre anota uma frase com potencial de virar fala de personagem
ou mote para uma crônica ou conto. E se a gente está numa mesa de bar, ele pede
uma caneta ao garçom e puxa um guardanapo. Uma história pode nascer a partir de
disparadores os mais diversos: um quadro, uma música, uma cena que vemos na
rua, uma frase que alguém solta ao telefone etc. Quando estou desenvolvendo
algum texto ficcional, sempre recorro ao meu Quartinho de Despejo para ver se
posso aproveitar alguma anotação. Lá, tem frase que pode ser o início de um
conto, o título de um poema, a fala de um personagem. Por exemplo, você pode
começar um texto usando a frase 13 do meu bloco de notas: Estava cortando
cebola, quando o celular tocou. Vamos lá, não tenha medo da folha em
branco, ninguém está vendo. Pegue papel e caneta ou abra uma nota no seu celular
ou uma página de texto no seu computador. Se quiser, pode usar um dos nomes do
item 8 na história, eu deixo. Quando terminar, pense num título para a narrativa.Todo
mundo pode escrever. Criatividade não é um dom, é uma habilidade. Para uma pessoa
cantar ou tocar algum instrumento, ela precisa estudar e treinar
incansavelmente. Para quem deseja escrever não é diferente. Só se aprende a
escrever escrevendo. E lendo, claro. Criatividade é a capacidade de ver o mundo
de novas maneiras, fugindo do lugar comum. Pensar diferente é fundamental.
Qualquer pessoa pode escrever um texto criativo. Para isso, existem cursos
livres de Escrita Criativa pelo Brasil afora, que ajudam as pessoas a desenvolverem
textos ficcionais, a partir de técnicas e da prática da escrita, sejam poemas,
contos, novelas, romances, textos dramáticos, roteiros.
Merchan: já estão abertas as incrições da turma de agosto do meu curso online O salto na folha em branco. Começa na próxima terça-feira, 11. Mais infoemações: https://www.sympla.com.br/o-salto-na-folha-em-branco---escrita-criativa__914325
Adorei o texto. Veio justamente no dia em que estou totalmente frustrada por não conseguir escrever. No meu caso, texto científico. Sempre empaco!
ResponderExcluirEu tbm adorei o texto! E eu uso essa sua técnica de anotar tudo pra poder montar minhas aulas. Daí quando empaco na criatividade, recorro a lista.
ResponderExcluirTambem tenho um "quartinho de despejo" e recorro a ele quando preciso de inspiração para escrever :)
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