Acostumei-me a viver encaixando peças iguais, os momentinhos, interrompidos em ou outro tempo por uma peça maior, a que desencaixa. Esses deslocamentos, bons ou ruins, capazes de me tirar da ordem corriqueira, foram os maiores construtores da minha existência, organizadores da minha memória. Ocorre que na pandemia eles não existem, pelo mesmo da forma como sempre os conheci. Tudo isso permeado pelo medo da morte. A minha, dos meus.
Há pelo menos oito meses não visito minha família e essa impossibilidade me apavora mais do que qualquer escolha. Não viajo para qualquer parte, o que me faz recorrer a viagens interiores para me arrancar da monotonia. Continuo em isolamento, embora tenha ampliado o cativeiro. Uma casa maior me fez querer ocupar todo esse espaço, resistir espalhada. O caos da mudança foi menor que o daqui de dentro. Ainda não aprendi a ritualizar na falta, justo eu, que teimo em me definir por ela.
Ensaio me apegar às coisas pequenas. O jeito que adormeço. As pequenas descobertas do ciclo da vida, nos animais e plantas que puxei para perto. Pendurar novos quadros. Trocar as molduras. A intervenção da ferramenta no concreto. Meu desconcerto diante de quem diz que nada mudou, não pode parar.
Eu parei.
E muito.
Desde março eu sou a que permanece em suspenso.
Sua maravilhosa. Me sinto suspensa também...sou engolida pela nova rotina que requer de mim um desapego profundo de quem curte uma rotina. Grávida nesse vuco-vuco, sem sair de casa com a filha de 3 anos, a mesa se jantar é o novo escritório e as tarefas domésticas nunca têm fim. Socorro!
ResponderExcluirLari, que delícia ler seu comentário, há anos eu não comento em um blog! Hehe Nossa, nem fala sobre tarefas domésticas, merecia um post dó para isso! Beijos e obrigada por me inspirar, vocês e as meninas <3
ExcluirPS. que baby vc na foto!