Desde o começo da pandemia os negacionistas são facilmente identificados. Negam a eficácia das máscaras, do distanciamento, das vacinas, negam até a própria existência de uma pandemia, contra a qual costumam acreditar na eficácia de cloroquina e similares. Não adianta procurar uma lógica nos argumentos.
Apesar de absurdo e, no caso da pandemia, até nocivo, o negacionismo é uma constante em nossas vidas. Está disseminado em pequenos detalhes, tão cotidianos que passam despercebidos.
Cresci ouvindo minha avó dizer para tomar cuidado com o vento nas costas ou para não beber olhando para o Sol, pois entorta a boca. Fora de casa as teorias negacionistas sempre aparecem para marcar grandes eventos, como a copa de 1998, supostamente comprada; os atentados de 11 de setembro, escolha sua conspiração favorita; ou o formato do planeta – redondo, plano, trapezoidal?
Eu mesmo, diante de uma escolha, recorro ao horóscopo para dizer que sou indeciso por ser libriano. É mais prático do que tentar explicar, com base na psicanálise, as origens de minhas indecisões.
Quando tento ser assertivo e explicar que não há respaldo científico em tomar água morna com limão, em jejum, logo que acordar, costumo ter sérias desavenças com adeptos, que nunca conseguiram me explicar qual substância do cítrico reage com a água, morna, para que quando bebida, em jejum, faça maravilhas em nosso organismo.
Nosso apego ao negacionismo é compreensível. É uma tentativa, ainda que rudimentar, de explicar o que acontece ao nosso redor. Quando bem direcionadas nossas intuições podem servir de guia para pesquisas importantes, desde que estejamos dispostos a admitir que cloroquina, digo, que a homeopatia, ou melhor, que a hipótese inicial não surtiu o efeito esperado.
Além da tentativa de compreender o mundo, nem tudo o que fazemos é ciência. Muitas vezes a realidade é meio sem graça e por vezes o negacionismo pode trazer um universo lúdico ao cotidiano repetitivo.
Cortar o cabelo pode ser muito mais interessante se o mapa astral mostra que a Lua crescente está alinhada com Júpiter, que, somados ao Mercúrio retrógrado, fazem com que seja o dia ideal para o corte.
Então, qual o problema do negacionismo?
O problema é quando ele deixa de ser lúdico para ser nocivo, quando passa de um inocente vento nas costas para um tratamento ineficaz de doença ou, um pouquinho à frente do limite da loucura, quando discordar do negacionismo, na tentativa de trazer a discussão para a sensatez, vira motivo para ameaças ou agressões.
Às vezes é difícil admitir o erro. Nos apegamos tanto a uma ideia, defendemos um absurdo de forma tão efusiva, que voltar atrás significa, inevitavelmente, passar vergonha. É necessário engolir aquele “eu avisei”, carregado de rancor e soberba.
Por mais que seja difícil admitir que aquela água morna com limão, em jejum, logo ao acordar, tem os benefícios de uma simples limonada, é melhor aceitar logo e incorporar a verdade no cotidiano, que pode seguir sendo lúdico, criativo e cheio de hipóteses mirabolantes, desde que não tragam mais problemas a um cotidiano já bastante difícil.
Apesar de absurdo e, no caso da pandemia, até nocivo, o negacionismo é uma constante em nossas vidas. Está disseminado em pequenos detalhes, tão cotidianos que passam despercebidos.
Cresci ouvindo minha avó dizer para tomar cuidado com o vento nas costas ou para não beber olhando para o Sol, pois entorta a boca. Fora de casa as teorias negacionistas sempre aparecem para marcar grandes eventos, como a copa de 1998, supostamente comprada; os atentados de 11 de setembro, escolha sua conspiração favorita; ou o formato do planeta – redondo, plano, trapezoidal?
Eu mesmo, diante de uma escolha, recorro ao horóscopo para dizer que sou indeciso por ser libriano. É mais prático do que tentar explicar, com base na psicanálise, as origens de minhas indecisões.
Quando tento ser assertivo e explicar que não há respaldo científico em tomar água morna com limão, em jejum, logo que acordar, costumo ter sérias desavenças com adeptos, que nunca conseguiram me explicar qual substância do cítrico reage com a água, morna, para que quando bebida, em jejum, faça maravilhas em nosso organismo.
Nosso apego ao negacionismo é compreensível. É uma tentativa, ainda que rudimentar, de explicar o que acontece ao nosso redor. Quando bem direcionadas nossas intuições podem servir de guia para pesquisas importantes, desde que estejamos dispostos a admitir que cloroquina, digo, que a homeopatia, ou melhor, que a hipótese inicial não surtiu o efeito esperado.
Além da tentativa de compreender o mundo, nem tudo o que fazemos é ciência. Muitas vezes a realidade é meio sem graça e por vezes o negacionismo pode trazer um universo lúdico ao cotidiano repetitivo.
Cortar o cabelo pode ser muito mais interessante se o mapa astral mostra que a Lua crescente está alinhada com Júpiter, que, somados ao Mercúrio retrógrado, fazem com que seja o dia ideal para o corte.
Então, qual o problema do negacionismo?
O problema é quando ele deixa de ser lúdico para ser nocivo, quando passa de um inocente vento nas costas para um tratamento ineficaz de doença ou, um pouquinho à frente do limite da loucura, quando discordar do negacionismo, na tentativa de trazer a discussão para a sensatez, vira motivo para ameaças ou agressões.
Às vezes é difícil admitir o erro. Nos apegamos tanto a uma ideia, defendemos um absurdo de forma tão efusiva, que voltar atrás significa, inevitavelmente, passar vergonha. É necessário engolir aquele “eu avisei”, carregado de rancor e soberba.
Por mais que seja difícil admitir que aquela água morna com limão, em jejum, logo ao acordar, tem os benefícios de uma simples limonada, é melhor aceitar logo e incorporar a verdade no cotidiano, que pode seguir sendo lúdico, criativo e cheio de hipóteses mirabolantes, desde que não tragam mais problemas a um cotidiano já bastante difícil.
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