quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 3

            Abriu os olhos. Ainda deitada, a luz daquela pequena sala era tão forte que a cegava. Apertava os olhos e pensava em se levantar do chão gelado. Sem portas, sem janelas, apenas com seus pensamentos naquele cubículo branco 2x2.  

            Sentou-se no chão. Tirou o maço de cigarros do bolso. Olhava fixamente para um ponto no teto enquanto abria o maço e levava o cigarro de filtro amarelo para a boca. Calmamente, ela ascendeu o cigarro e deu um sorriso daqueles de canto de boca, do tipo que carrega uma ironia de um segredo.

            Entre uma tragada e outra, tirou uma pequena caderneta do bolso. Seu sorriso ficava mais nítido. Manteve o olhar fixo, naquele mesmo ponto do teto, e segurou o cigarro com os lábios. Suas mãos deslizavam pelo chão branco, levando a caderneta para o meio da sala. Assim que parou, colocou o indicador firmemente posicionado na capa de couro marrom.  

 Na capa, as marcas do tempo. Em cada ruga, um segredo. O que teria naquelas páginas com as pontas dobradas? Quais segredos estão eternizados pela tinta no papel?

Ela deu mais um trago em seu cigarro. Levantou-se ainda olhando para o mesmo ponto no teto. Ouviu movimentação. Quanto mais forte ficava o som dos passos, mais a ironia se fazia presente em seu sorriso. Ela ergueu a caderneta para o ponto que tanto olhava e, de relance, dava para ver gravado no couro surrado: J. – Vortexsoura. O silêncio se fez presente. Ela guardou a caderneta no bolso e foi em direção a uma das paredes que, de repente, se desmaterializou.

Deu um passo à frente. Jogou o cigarro no chão, pisou na bituca e seguiu pela esquerda pelo corredor estreito. Sua caminhada terminou quando chegou a uma sala grande. De um lado, uma parede com monitores enormes que mostravam diversos fragmentos de uma história que ela conhecia tão bem. Do outro lado, dois totens feitos de um material muito reluzente.

Ela caminhou até esses totens. Esticou sua mão. Fechou os olhos e, quando os abriu, estava em outro local. Sentou-se e aguardou. Enquanto olhava as cabeças de caça expostas como item de decoração, um homem entrou na sala. Ele se sentou no outro lado da mesa. Abriu a gaveta de onde tirou dois copos e uma vodka. Encheu os copos e disse “você aqui, de novo?”.

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