Abriu os
olhos. Ainda deitada, a luz daquela pequena sala era tão forte que a cegava.
Apertava os olhos e pensava em se levantar do chão gelado. Sem portas, sem
janelas, apenas com seus pensamentos naquele cubículo branco 2x2.
Sentou-se
no chão. Tirou o maço de cigarros do bolso. Olhava fixamente para um ponto no
teto enquanto abria o maço e levava o cigarro de filtro amarelo para a boca. Calmamente,
ela ascendeu o cigarro e deu um sorriso daqueles de canto de boca, do tipo que
carrega uma ironia de um segredo.
Entre
uma tragada e outra, tirou uma pequena caderneta do bolso. Seu sorriso ficava
mais nítido. Manteve o olhar fixo, naquele mesmo ponto do teto, e segurou o
cigarro com os lábios. Suas mãos deslizavam pelo chão branco, levando a
caderneta para o meio da sala. Assim que parou, colocou o indicador firmemente
posicionado na capa de couro marrom.
Na capa, as marcas do tempo. Em cada ruga, um
segredo. O que teria naquelas páginas com as pontas dobradas? Quais segredos
estão eternizados pela tinta no papel?
Ela deu mais um trago em seu
cigarro. Levantou-se ainda olhando para o mesmo ponto no teto. Ouviu movimentação.
Quanto mais forte ficava o som dos passos, mais a ironia se fazia presente em
seu sorriso. Ela ergueu a caderneta para o ponto que tanto olhava e, de relance,
dava para ver gravado no couro surrado: J. – Vortexsoura. O silêncio se fez
presente. Ela guardou a caderneta no bolso e foi em direção a uma das paredes
que, de repente, se desmaterializou.
Deu um passo à frente. Jogou
o cigarro no chão, pisou na bituca e seguiu pela esquerda pelo corredor
estreito. Sua caminhada terminou quando chegou a uma sala grande. De um lado,
uma parede com monitores enormes que mostravam diversos fragmentos de uma
história que ela conhecia tão bem. Do outro lado, dois totens feitos de um
material muito reluzente.
Ela caminhou até esses
totens. Esticou sua mão. Fechou os olhos e, quando os abriu, estava em outro
local. Sentou-se e aguardou. Enquanto olhava as cabeças de caça expostas como item
de decoração, um homem entrou na sala. Ele se sentou no outro lado da mesa.
Abriu a gaveta de onde tirou dois copos e uma vodka. Encheu os copos e disse “você
aqui, de novo?”.
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