sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Do que sacrificamos durante o exílio voluntário

Minha prima se casa amanhã de manhã. É o segundo casamento que eu perco desde que fugi do país. Também tenho dois primos na fila para conhecer a "filha da Diva que está sempre num país diferente". Faz parte, acho. Esta é uma carta verídica.

Queridíssima Thaísa,

Sou eu, a sua prima fugitiva que, mesmo de longe, está postulando o cargo do Tio Marcos como oradora oficial dos eventos da Família Faleiros. Não poderia, portanto, deixar de estar presente em um dia como esse. Peço licença a todos e todas, e um pouco de paciência, para me intrometer nesse casamento. Deixo vocês brigarem comigo quando eu aparecer por aí, e por favor não coloquem a mensageira no meio.

Nesse exato momento em que vocês estão aí, prontos para devorar a mousse de gorgonzola, o baba ganoush, o patê de grão de bico e o queijo com geléia de pimentão, eu já devo ter almoçado (uma saladinha com arroz e lentilhas) aqui na Espanha e voltado para a faxina da minha casa nova. Talvez esteja aspirando o pó das cortinas, ou quem sabe limpando o chão com a minha ferramenta doméstica favorita: o esfregão. Engraçado que todo mundo cresce, né? Quem diria que eu um dia teria preferência por alguma tarefa de limpeza sobre todas as outras...

De pouquinho em pouquinho vou colocando esse novo apartamento em ordem. Escolhendo em que gavetas deixarei meus documentos, para não perdê-los, e qual das estantes abrigará meus livros pelos próximos meses.

Claro, minha estante de livros é modesta em comparação a uma das minhas favoritas na infância: aquela no quartinho da sua antiga casa. Nem me lembro de quanto tempo passei vislumbrando todas aquelas brochuras, um dos meus passatempos preferidos naquela casa, além de comer geléia de mocotó e tomar sacolé de groselha. Uma coisa não mudou quando vocês foram viver na chácara: sempre que eu começava um livro novo, você já o tinha lido antes e sempre gostava de discuti-lo comigo. Do Mundo de Sofia a Crime e Castigo, acho que já cobrimos todos os assuntos imagináveis.

Lá da minha casa guardo mais recordações do seus sotaque e dos seus cabelos compridos lisos e loiros, dependendo da época. O “sopão da Thaísa”, aquela dieta semanal na qual tentei várias vezes te acompanhar, e só provocou em mim o efeito de repulsa a repolho. Segurar o secador de cabelo para que você pudesse fazer a escova à sua maneira. Os milhares de pares de sapatos que você levou naquela visita de quatro dias a São Paulo. Ainda bem, né? Porque aí você me emprestou sua mala gigante para minha viagem e salvou minhas férias na Europa.

Os primos mais novos de uma família tão grande e unida como a dos Faleiros saíram do forno com muitos anos de separação dos mais velhos. Não sei se há uma razão específica, além de ganhar pontos com a geração mais experiente, congelei a idade de todas as minhas primas nos 30 anos. E agora, enquanto escrevo esta carta, percebo que tenho 27 e isso não faz muito sentido. Tudo bem, eu pago as minhas contas, cuido da minha vida, tomo minhas decisões e moro sozinha nesse exílio voluntário há exatos onze meses. Mas daí a entrar na categoria “adulta” e me acercar da idade das Faleiros que fizeram história em São Tomás de Aquino são coisas muito diferentes.

Cresci à tua sombra, Thaísa. No intercâmbio tentei ensinar minha irmã canadense a fazer a dieta do sopão. Quando voltei, fui dar aula na mesma escola de inglês que você e acabei até experimentando uns meses da faculdade de Pedagogia porque me identifiquei com a coisa. Usei e abusei da sua mala na Europa e lembrava todos os dias de você, especialmente quando passava pelas cidades que você já tinha visitado.

(PARTÊNTESES: Alguém por favor cubra os ouvidos da Vovó Zenaide)

Mas não pense, priminha, que eu abandonarei o Movimento das Primas Solteiras só porque você decidiu casar. Mesmo assim, aceito com resignação e muita alegria o seu pedido de desligamento dessa corrente da Família Faleiros. Em nome das bravas integrantes da resistência ao casório, te desejo toda a felicidade que o universo seja capaz de dispensar, e tenho certeza que o Richard e a Elisa vão me perdoar por esta longuíssima carta. Nem só porque você a solicitou, até porque eu a escreveria sem qualquer pedido. Mas também porque você merece a pausa da minha faxina para escrever essas palavras, e inclusive todas as palavras mais bonitas que os livros da biblioteca dos seus pais guardam e que os meus livros em espanhol carregam aqui.
Um deles, que eu terminei de ler hoje, trouxe uma passagem que gostaria de ler para você. Traduzi ao português para que a mensageira não me xingue. E peço que ela agora mude a entonação, leia um pouco mais devagar e com a voz mais alta, porque é o trecho mais importante dessa carta:

“Quando diante de você se abram muitos caminhos e não saiba qual escolher, não entre em qualquer um ao azar: sente-se e aguarde. Respire com a confiante profundidade com a qual você respirou no primeiro dia que veio ao mundo, sem permitir que nada te distraia. Aguarde e aguarde mais ainda. Fique quieta, em silêncio, e escute ao seu coração. Quando ele fale com você, levante-se e vá onde ele te leve.”


Thaísa, em dezembro meu coração me levará de volta ao Brasil. Espero você me receba pelo menos com o patê de grão de bico, junto com as fotos dessa boda, e também as do belíssimo casamento do Thiago e da Marina, que eu segui, ainda que silenciosamente, através das fotos que me enviaram pelo celular.

Um grande beijo e aproveite o seu dia e o resto dessa nova vida que você começa hoje. Tome um copo de guaraná por mim, porque mal posso me segurar de saudade (do guaraná e da dona da garganta que o tomará).

Da sua prima favorita de todos os tempos,
Carol

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

JERIMIAH 29:11

Domingo, oito horas da manhã. O toque do celular irrompeu a ausência de sentidos e a despertou. De dentro do calor aconchegante de seu edredon florido, suspirou aliviada: ainda não se acostumara de todo com a novidade de noites de sono ininterruptas. Antes de abrir os olhos, ouviu o barulho da chuva chocando-se contra o telhado, o chão e as plantas. Sorriu. Um dia sereno estava por vir, um dia que a redimia do pensamento das tantas outras possibilidades não assumidas; poderia perder ali, sem culpa, todas as suas horas. Oito e um, abriu os olhos. Após a ducha quente, examinou cuidadosamente as peças penduradas. Vestiu-se como se criasse um personagem. Botas, sobre-tudo, cachecol a encobriam.

Permaneceu imóvel em sua varanda por um segundo, a chuva caía tão bela. Aspirou o ar úmido familiar de essências de plantas desconhecidas, sorriu. Desta vez, sem mover os lábios. Caminhou embaixo do seu guarda-chuva. Gostava desta que era hoje. Sentou-a para apreciar o café, o waffle com chocolate e a música ambiente brasileira - talvez em sua homenagem, pensou - enquanto aguardava o ônibus. Concedeu por um instante o desejo de uma companhia. No próximo, contudo, assustou-se com a crescente constatação de que sua própria companhia, ela mesma, não era de todo mal. De fato, era até agradável, cômoda.

O compacto ônibus com as letras conhecidas gravadas nas laterais levou-a até seu destino. Adentrou as portas do enorme salão já cheio e sentou-se ao lado do senhorzinho de cabelos brancos. Também não havia se acostumado com o fato de estar ali, era como se tudo fosse um sonho do qual acordaria a qualquer momento. E quem pode dizer o contrário? Concedeu o desejo de uma companhia, ou talvez muitas, desta vez. Sentiu-se pequena. Queria dizer àquele homem que pregava à frente da igreja o quanto sua vida era inexplicavelmente abençoada pela simples existência da dele. Sentiu uma lágrima escapar de seus olhos e escorrer, sem permissão, rosto abaixo. Outra, e outra. Cessou-as juntamente com os soluços silenciosos. Tudo o que queria era... sentir Deus. De súbito, sentiu um "cutucão" no ombro esquerdo. Virou-se. O senhorzinho de cabelos brancos estendia um papel amarelo dobrado ao meio em direção à sua mão. Tomou o papel, sorriu e teve certeza de que, mesmo quando não sentia, Deus a sabia.









quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Janeiro, 25

era dia de
amargar com seu cigarro
com o gosto de na sua boca
nada daquele gosto menta
infância pureza e ou castidade
que freia defende
das pastilhas baratas
vendidas pelos garotos no semáforo
Paulista X Augusta
quando não limpam para
brisas
ou pedem.
no nosso meio-beijo despedida
o não saber se voltará ou esse verbo
esse mesmo verbo
na primeira pessoa do plural do futuro indicativo.

era dia de
desvendar sem mapas
nossos caminhos espalhados pelo corpo
em todos os anos até agora e aqui
nas inúmeras tatuagens
se fosse calor de quase nudez e suores
os trinta graus e mais
meu olhar bem perto
a pele os poros e pêlos
com calma típica interior
que é meu avesso e não deixa de
enquanto citássemos dizendo billy corgan
suffer my desire for you - suffer my desire
ou qualquer verso que fosse
intensidade a nossa.

e era dia de
a noite cair alaranjando
os olhos da cidade adormecendo lentos
entre os barulhos de poetas ama-dores
na mesa com cervejas e
as buzinas alardeando por outros
nosso admitir não querer e ser detalhes
nos meus gestos significando sempre
sempre um demais mesmo quando estátua
e enquanto caminhássemos apressados para
o salto o nosso e estilhaçar-se
na realidade absurda
tentar prender as últimas ilusões
linha frágil entre os trilhos e a plataforma do
consolação, tentar mas não.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Comilança

Sem tempo hábil para viver, fui lá e resgatei um poema “antigo”.
Aos que já leram, comam uma vez mais.

:]



Comilança

Te comer.
Te comer.
Comer.
De uma ponta a outra,
de um jeito desantropofágico.
Desdeglutir tua dor e teu parto.
Tua carne, tão tua que a mim
chama, é falácia.
É perdão de um pecado inexistente.
Que não sente, que não geme,
mas goza do puro prazer desconhecido.
Da ideia de nada pensar,
mas tudo sentir.
Te comer, comendo.
Sentindo aquilo que teus punhos guiam.
Agir sem pensar.
Um comer de bicho, de dentes e unhas.
Um corpo perene de dor, de espreita,
de hora certa, de ataque.
Investir.
Te comer pensando, andando.
Comer tua aura, tua sabedoria, teus dias.
Mastigar


dcm

domingo, 4 de outubro de 2009

rimas de menina.

todo dia é assim, tem mato e sede no jardim.
encho a mesa da varanda de bolos lindos feito sonhos.
enfeito os cantos, canto e penso,
que essa varanda é o mundo todo.
mas se eu distraio lá vem coro,
se não tem colo tem só choro,
danço, embalo, canto e conto,
até velar sono a sono.
de tardezinha, hora da boa, tiro as roupas do varal,
aumento o som, olho pro céu e sento um pouco no degrau.
às vezes choro só um pouquinho, às vezes chego a esperar.
desembaraço, faço tranças e quase esqueço do jantar.
nas madrugadas, no silêncio,
sou só eu a costurar,
o meu vestido rodado que é lindo de suspirar.
e na manhã que terminar, vou sair de blush e laço,
vou encontrar o meu par e vou morar no seu abraço.

sábado, 3 de outubro de 2009

#RIO2016

Eu tinha planejado escrever outra coisa para o mês de outubro, mas diante da comoção nacional com as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, não me resta escrever sobre outro assunto.
Como já disse por ai, por mim poderia ser KABUL2016, e a verdade é que eu nem sabia que rolaria uma decisão (eleição? votação?) por esses dias. Quando as pessoas começaram a falar em RIO2016, precisei pesquisar para saber se era sobre uma possível Copa do Mundo ou sei lá.
Não sou do contra, não sou pessimista (talvez um pouquinho) e nem estou preocupada com a verba que será gasta na vila olímpica, devo confessar. O fato é que Olimpíada me lembra o que eu sempre quero esquecer: a minha total inaptidão para os esportes.
Quando eu tinha uns sete anos, eu já tinha tamanho de uma criança de dez. Sempre fui a mais alta da sala, da rua, dos primos, e óbvio que isso alimentava o sonho da família. Jogadora de vôlei? Nadadora? E começa ai uma longa seqüência de barrigadas, boladas na cabeça, bronca de treinador, piadas e muitos traumas para um dia derramar em um divã.
Com o tempo eu fui me negando todo e qualquer contato com o tema. Chego a ler a folha de agricultura no jornal, mas não leio a de esportes. Agora vem essa tal Olimpíada e esfrega na minha cara esse mundo que eu quero esquecer.
E não adianta querer fugir. Se em uma Olimpíada normal e distante, eles já interrompem a sua sessão da tarde para falar de saltos, de recordes, seu jornal traz um caderno especial, as revistas suas retrospectivas, entrevistas com atletas, imagina tudo isso logo ali, no Rio.
Até lá acho que ainda não terão inventado o congelamento temporário de corpos, a viagem para Plutão, e o coma induzido, por enquanto, dizem que faz mal, então fazer o que? O jeito é me juntar aos demais, engolir as mágoas, as pipocas e torcer. Vai, Brasil! Ainda que nem tão sincero assim.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Porque eu não sou poeta, nem escritora e nem gente

.
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Um vazio que de tão vazio, pesava.
Doía.
Estar ali era como não estar.
Ah! Se encontrasse a invenção de morel.
O gerúndio sumiu de seus dias.
"Vai passar", alguém disse.
Não ouviu ou não acreditou.
O exílio foi fatal.
Agora também já não importa.
Nem tudo termina bem.
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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

sabe?

sabe quando você senta, pensa, escreve uma carta enorme, usa o verso da folha, capricha na letra, na forma, escolhe cada palavra?

sabe quando você quer dizer algo bem bonito e verdadeiro, põe todo sentimento em cada letra desenhada, busca sentido nos pingos, nos acentos, nos pontos, nas frases?

sabe quando você escreve uma carta enorme pra alguém e depois de ler, amassa e joga no lixo porque o que parecia fazer sentido há 5 minutos, agora não significa mais nada?

pois é...

foi o que fiz com o 'post-homenagem' que tinha preparado pra hoje.





"take my arm, take my leg, oh baby don't you take my head
let i bleed"
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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Agradeço a santo Expedito pela graça não recebida

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais.
Foi, pousou, e nada mais.


Comandante de uma legião romana, Expedito tinha uma vida devassa antes de converter-se ao cristianismo. Prestes a aposentar sua porção Messalina subindo (e descendo) pelas paredes, apareceu-lhe um espírito maligno na forma de um corvo. Negra como a cabeleira do Sarney, a ave crocitava cras, palavra latina que significa “amanhã”. Decidido e arretado, o futuro santo das causas urgentes pisou na ave bradando hodie, ou seja, “hoje”.

Me lembrei dessa historinha ao dar conta (sem trocadilho, infelizmente) de uma infinitude de deadlines, mais uma expressão do estúpido dialeto corporativo que infesta o vocabulário pobre de alguns chefetes. O fato é que deixar tudo para a última hora não é exclusividade brasileira, ao contrário do que apregoam todos os anos as soporíferas matérias sobre a entrega do Imposto de Renda ou as compras de final de ano, por exemplo.

O fenômeno foi descrito nas páginas da The Economist por Cyril Northcote Parkinson em 1955. “É o homem mais ocupado que tem mais tempo livre”, afirmou o historiador. Pronto. Nascia a “Lei de Parkinson”, cujo funcionamento é tão inconteste quanto a da gravidade: “O trabalho expande-se de modo a preencher o tempo disponível para sua realização”.

Todo esse blablablá para mais uma digressão em busca de respostas de por que deixar sempre tudo para a última hora. A internet multiplicou as oportunidades de distrair a atenção, ocupando nosso tempo com pequenas coisas que desviam a concentração da tarefa principal. Mesmo assim, a culpa é sempre da peça em frente ao monitor. :P

Bem pior que papéis fora de lugar são os sonhos acomodados em gavetas à espera da ação do deus Acaso. Quantos projetos de vida jazem sob a lápide da indisciplina, infecção letal que acomete especialmente os mestres na arte de encontrar desculpas? Como denuncia a etimologia, “disciplina” e “discípulo” têm raiz na palavra latina discere, que significa “aprender”. Assimilo essas filigranas semânticas, mas continuo incapaz de pisotear o corvo que vela minha lista de tarefas pendentes.

Que bom seria dar uma despirocada e culpar um corvo pelos infortúnios. A proposta sequer é original, afinal santo Ambrósio já desancou a ave pelo fato de não ter retornado à arca quando Noé a soltou para examinar os efeitos do dilúvio descrito no Gênesis.

Pior ainda é continuar a leitura do poema de Edgar Allan Poe que usei no início do texto, nova tentativa frustrada de conferir algum verniz poético à minha verborragia catártica. Em vez do “cras” do corvo morto sob o chulé nada santo do Expedito, o pássaro da poesia do norte-americano grasna o mantra “Nunca mais”. “Profeta ou demônio?”, pergunta a personagem que recebeu o visitante alado.

Acossado pelo exu da procrastinação, apelo à verve de outro poeta (verde-amarelo, desta vez) para tentar exorcizar os augúrios-grilhões: “Temos todo o tempo do mundo. Sempre em frente. Não temos tempo a perder”. Assim seja.

PS.: Como sói acontecer, terminei o texto na manhã do dia 30, prazo final para postar aqui no blog.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Casarão

Levantava a cabecinha tanto que o pescoço doía. De tão comprido, não conseguia ver o telhado. Havia janelas por todo lado, buracos deixavam frestas, o sol atravessava quase cegando o olhar. A porta velha, como maçaneta argolas enferrujadas, roída pelo tempo. O coração saltava, ansiosa para saber o que havia lá. Quando ele abriu, saiu devagar detrás, largando as mãos que a segurava. Era tão grande, escadas, janelas, teias de aranha, pó, madeira velha no chão, foices penduradas, se tornara um depósito de ferramentas, artifícios da roça. Subia em passos curtos uma escada, dando acesso ao que lhe parecia ter sido uma sala. Uma lareira, ferro e toras de madeira apodrecida, pregos por todos os lados, ali penduravam quadros? Eles conversavam à respeito, a fazenda era do Barão Malêncio, a propriedade mais antiga da região. Logo ali, uma geração se fez e desfez. O último de sua geração perdera para às dívidas, arrematado por Jacó, numa verdadeira pechincha de leilão.

Enquanto conversavam, explicando pausadamente como gostaria que ficasse a fazenda, lhe pediu um favor - só não derrube este casarão, por consideração o deixarei de pé, enquanto puder. Ele respondia firme, voz altiva, que não faria nada com o velho casarão. A pequena dispersa da conversa de adultos, olhava fixamente uma escada e debaixo a porta pequena com fechadura engraçada. Atraída foi em direcção, abriu e entrou rápido sem que percebessem. Encantada com a salinha, o banquinho e a janela que dava o presente, embaciados de maravilhas, olhava o sol e os montes cheios de árvores na parte mais alta e na baixa pasto para gado, os açudes como irmãos gêmeos e os três pés de manga, lembrava de lambança, passava a língua nos lábios, a manga mais rosada.

Calma e respirando fundo, abriu a janela sem o menor ruído, queria sentir o vento que no assobio, pedia para brincar com os cabelos lançando pra lá e pra cá. Ali se perdera, olhar longe, fechando os olhos para sentir o momento. Silêncio. Um susto! Ouvia os gritos dele, com voz de bravo se perguntava - onde diacho foi essa menina! Saiu correndo, ofegante fechou a porta, não queria que ninguém soubesse daquele lugar. Ali seria perfeito. Um lugar para ficar. Descendo as escadas, quase escorregou, dizendo:
- Estou aqui, estou aqui...
Bravo, chegou perto, abaixou-se e disse:
- Não quero você aqui. Entendeu?
- Silêncio...
Ela com olhos cheios de lágrimas abaixa a cabeça... e ele sem dó lhe disse:
- Se por acaso vê-la aqui vai apanhar feio, este não é lugar para brincar.
Não saia nenhuma palavra, e só balançava a cabeça, mordendo o lábios engolindo o choro.
Ela conhecendo aquele olhar alucinado com olhos brilhantes quase falantes e mãozinha segurando firme a barra do vestido disse:
- Encontrou? Tenho certeza que encontrou! Um lugar secreto, seu esconderijo.
Abrindo um sorriso mais danado, balançou a cabeça e dizendo baixinho:
- sim...
- Não se preocupe, daremos um jeito. Logo de manhã voltaremos aqui, para arrumar seu lugar secreto.
Ambas sorriam, aquela carinha sapeca de quem aprontara. Então, sossegou o coração entristecido de outrora. Sabia, que ela lhe ajudaria.

Pela manhã as duas saíram com vassouras, paninhos e objectos para enfeitar. A pequena esbaforida, seguia arrastando a velha boneca que estava cega de um olho, a falta de tinta a deixava com aparência esquisita. Mas não se importava, eram parecidas, as esquisitas se entendiam. Tinham que dar a volta no casarão e entrar pelo buraco perto do tanque que mais parecia uma piscina. Encostando-se na parede e saindo um tanto raladas, conseguiram chegar. Rápido subiram as escadas. Animadas faxinaram, organizando cada pedaço, deixando um renda para o banco, e a janela de madeira e sua bela paisagem. Ela suspirando depois da labuta, olhou a pequena exclamando - e ficou um belo lugar secreto! Davam risada, misturando gargalhada na volta para casa.


Todos os dias descia a estrada de terra cheia de pedrinhas, trajecto dos cavalos manga larga desfilar. Era felicidade pura, alegria de brincar ali, conversar com os amigos. Aqueles que não tinham corpo, que repetiam as mesma falas, que aceitava toda e qualquer brincadeira. Aqueles de carne e osso só havia na escola, ali eram os outros, aqueles de sempre. Largando os afazeres da fazenda, ia ao encontro daquela que escondia-se o tempo todo; outrora nos matos, pomar ou no secreto lugar. Às vezes ela ia brincar de boneca com a pequena. Mas na maioria, as duas ficavam juntas, abraçadas, perto da janela olhando a paisagem. Livres de qualquer olhar, contemplavam a paisagem, respiravam fundo e sentiam aquele vento brincar. Aquele lugar era especial. Esconderijo, certo. Secreto até para ele, mas não para ela.Quem sabia? Ninguém, além delas e o velho casarão.

crédito imagem-net

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Como Sobreviver à Queda de um Avião

A questão não é SE mas QUANDO teremos um ataque de zumbis morto-vivos e se esse pandemonium acontecerá antes ou depois da revolta dos robôs, tomados uma uma inteligência artificial malévola (check: Terminator). Se tudo isso te parece enredo de filme ruim do Michael Bay produzido pelo Jerry Buckheimer, vamos apelar para o medo REAL de todo e qualquer ser humano que saiba o que é perigo.

Ao contrário do que diz Obama, você corre mais risco de morrer de devido à queda de um avião do que em um ataque terrorista (a não ser que ele concilie as duas coisas, como a história já provou que é possível, check 9/11).

Pensando na sua segurança e na manutenção de page views deste blog, segue abaixo um roteiro de como sobreviver à uma queda de avião, desde a prevenção até se manter atento à sinais de que a gravidade está falando mais forte que as turbinas.

Estatísticas do governo ( não do nosso, mas do americano) dizem que 19 em 20 pessoas, em média, sobrevivem à uma queda de avião. Suas chances são de mais de 95% para a sobrevivência. O importante é somar aqui alguns comportamentos que possam garantir que você esteja na maioria e não no lado infeliz da porcentagem. Mas, vale a pena reforçar, são apenas dicas e não venha me processar caso você morra.

Dicas:

- Use sapatos confortáveis. Isso exclui aquelas suas Havaianas. Por mais que elas estejam na moda na Europa, não são muito boas para correr de um avião em chamas, certo? Não exponha seus pezinhos ao perigo. Eles podem se cortar caso você caia na Floresta Amazônica (ou o que resta dela). Calças longas e mangas compridas são uma boa pedida. Elas vão proteger a sua pele do fogo, pelo menos por um tempo, e do frio, caso você caia em alguma calota polar.

- Tenha sempre um plano de fuga. Observe a saída e trace possíveis rotas para alcançar a porta. Não meça esforços. Veja a quantidade de gordinhos no caminho, velhinhos ou demais pessoas que se movem devagar. Numa hora de pânico, ninguém se manterá a direita deixando a esquerda livre pra circulação. Saiba que quando a hora surgir, pode ser necessário fazer sua ética cair por terra e acotovelar alguns seres humanos pelo caminho. Uma dica é mentalizar que você está preservando a espécie e agindo por puro instinto. Se você sobreviver, ninguém irá te julgar e talvez role uma indenização (=$$). Fique sempre perto das portas, entre as 7 primeiras filas.

- Apesar dos barulhos do seu companheiro de poltrona, pequenas turbulências e sono, leia atentamente as indicações de segurança do avião. Ela faz a diferença entre aqueles que caíram no mar por não prenderem o sinto e aqueles que caíram na ilha deLost. Alguns morreram depois, por razões inexplicáveis, mas tudo bem. Conte o número de assentos a percorrer até cada saída do avião. Desse modo, se houver fumaça, você já sabe qual é a mais próxima. Use o cinto de segurança e pratique por pelo menos 6 vezes o ator de abrir e fechá-lo. Aja como se tivesse TOC e ninguém vai perguntar nada. Repita o processo com os olhos fechados, só pra garantir.

- Ok, as coisas podem ficar bem feias quando um grande pedaço de metal pega fogo nos ares ou começa a cair indiscriminadamente (e quem cai com foco?). Ouça as comissárias de vôo, de bordo, ou qualquer mulher uniformizada que fale separando as sílabas corretamente e fingindo tranqüilidade. Elas sabem o que fazer, foram treinadas para isso e ganharão milhas quanto maior for o número de sobreviventes da tragédia. Continue calmo e prepare-se para um possível choque. Sente-se confortavelmente, com os braços cruzados e as pernas entre os braços. Reduza o espaço que sua cabeça possa girar em caso de uma aterrisagem. Isso ajuda a sua dor de cabeça a ser menor ou, no pior dos casos, torna a identificação do seu corpo um pouco mais fácil. Se a máscara de oxigênio cair, use-a. Não tenha medo de parecer bobo. As cores não são as melhores, eu sei, e o ar pode não cheirar tão bem, mas podem ser seus últimos segundos de vida, então, dê uma ajuda ao destino e respire fundo.

- Quando o avião cair, segure-se forte ao seu assento. Mantenha-se abaixado caso haja fumaça e corra para a saída mais próxima. Não seja o idiota que se atrasa e atrasa todo mundo ao tentar pegar a bagagem de mão! Perceba: o avião caiu e não há nada mais importante do que preservar o seu corpinho intacto. Abra a porta. Caso haja alguma danificação na lateral do avião, observe se é uma boa e possível saída. Caso seja uma distância muito alta, penseo: o que é pior, quebrar as duas pernas ou morrer queimado e sufocado? Pule.

Ao sair do avião, você ainda não está a salvo. A questão agora é agilidade. Fique a distância do avião. Corra, se arraste, saia de perto. Ele pode explodir. Segundo estatísticas confiáveis, mais gente morre pela explosão do que pela queda. Apesar de distante, não saia para muito longe da zona da queda. Isso pode dificultar a busca por você/seu corpo.

Fim.

Caso você sobreviva, escreva um livro ou pelo menos um post em um blog sobre o assunto. Se cair em uma ilha esquisita, cuidado com Os Outros. Se cair no meio do ártico com outras pessoas, por favor, nunca coma os seus companheiros, mesmo que haja falta de comida. É extremamente anti-ético.

domingo, 27 de setembro de 2009

Fotografando o pôr-do-sol



Algumas pessoas me perguntaram sobre isso e eu achei interessante compartilhar algumas dicas com vocês que amam viajar e clicar.
Fotografar o pôr-do-sol não tem segredo nenhum, mas nem sempre a imagem fica do jeito que esperamos ou do jeito que estamos vendo na hora.
Por isso, na próxima vez que estiver em frente a um pôr do sol daqueles, vamos fazer algumas coisas diferentes do habitual.
Com a chegada da câmera digital ficou mais fácil ver as imagens após o “clic” e entender o que aconteceu para depois tentar melhorar.
Primeira coisa para o resultado ficar mais interessante: use o “zoom” da sua câmera ou para quem tem uma câmera mais avançada e que troca a lente, use uma lente tele.
Usando o zoom ou a tele o sol vai “ficar maior”, vai parecer estar mais perto do que percebemos sem usar esse tipo de lente ou o zoom. Depois disso, uma dica prática para as cores ficarem mais bonitas, ou como muitos fotógrafos costumam dizer, ficarem mais dramáticas.
Faça a medição de luz ao lado de onde está o sol, sem que ele esteja aparecendo no visor.Para quem não sabe como é feita a medição de luz e tem essas câmeras compactas: aponte para o céu ao lado do sol e aperte o botão até a metade, segurando-o pressionado como se fosse para focar a imagem.
Mantenha-o pressionado e volte a enquadrar o pôr-do-sol do jeito que você quer a foto. Aí é só acabar de clicar.
Na maioria das máquinas compactas, isto funciona. Já que o sol tem muita, muita luz, se ele entrar no campo do visor na hora que você faz essa medição, acaba distorcendo o resultado e alterando muito as cores.
A primeira imagem é do pôr-do-sol na Grande Barreira de Corais na Austrália e a segunda é de Jericoacoara.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Fórmula 1


Nesses tempos de tantas notícias sobre o escândalo envovlendo a Renault, Flavio Briatore, Fernando Alonso e Nelson Piquet, Jr., cabe aqui contar um pouco de história r remontar aos anos 50 e entender como tudo começou: seguindo os dirigentes do automobilismo, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) anunciou a prova inaugural do campeonato mundial de F-1, em um sábado, 13 de maio de 1950, no Circuito de Silverstone, na Inglaterra.

O campeonato anunciado compreendia 6 GP's a serem disputados na Europa: Inglaterra, Mônaco, Suíça, Bélgica, França e Itália, e seria ainda adicionado o resultado das 500 milhas de Indianápolis, tornando, dessa maneira, um campeonato "mundial" (apesar do fato de que os carros, equipes e pilotos que competiam nos EUA serem completamente diferentes dos da Europa).

Devido às dificuldades do pós-guerra, os carros eram todos do pré-guerra. Permitiu-se a participação de carros com motores superpressurizados até 1,5 litro ou com motores aspirados de 4,5 litros. A confirmação da presença da Alfa Romeo foi determinante para o momento. Sua participação com as Alfettas, dominantes na época, trouxe prestígio para o campeonato. Confirmaram presença a Ferrari (mas os carros não ficaram prontos para a prova inaugural), Maseratti, algumas "Voiturettes" ERA e carros esportivos modificados, como os Talbots.

Seriam descartados os 3 piores resultados das 7 corridas disputadas. A pontuação era assim dividida: 8 pontos para o primeiro colocado; 6 para o segundo; 4 para o terceiro; 3 para o quarto; 2 para o quinto colocado e um ponto para o piloto que marcasse a volta mais rápida da prova.

A prova inaugural em Silverstone contou com um público de 100.000 pessoas estimadas, além da presença do Rei George VI, a Rainha Elizabeth e a princesa Margareth.

Alfetta da década de 50

Após o domínio nos dois primeiros anos das Alfettas e as antigas voiturettes, a Ferrari apresenta um carro vencedor com motor de 4,5 litros e domina completamente os anos de 1952 e 1953, dando a Alberto Ascari o título de bicampeão. Neste momento, a Alfa, que competia ainda com as Alfettas (projeto do pré-guerra) não tinha recursos financeiros para investir no desenvolvimento de um novo projeto e decide abandonar a categoria.

Em 1954, a Mercedes-Benz retorna ao esporte com um carro perfeito que deu a Juan Manuel Fangio mais 2 títulos, tornando-se tricampeão mundial. Os carros são menores, com motores de 2,5 litros. Ao final de 1955, a Mercedes abandona as competições em razão da tragédia de Le Mans ocorrida naquele ano, quando mais de 80 espectadores morreram quando a Mercedes de Pierre Levegh projetou-se sobre a multidão. Neste momento, a Ferrari contrata Fangio, que conquista o quarto título na F-1. Em 1957, ele conquista seu quinto (e último) título pela Maserati.

Em 1955, a Vanwall, primeira equipe inglesa de F-1, apresenta um carro originalmente concebido para a Fórmula 2 de 2,0 litros, porém equipado com freios a disco e injeção de combustível. Em 1956, a Vanwall apresenta o motor de 2,5 litros e um novo chassi concebido por Colin Chapman, que nesta época desenvolvia carros esporte para a Lotus. Após algumas modificações introduzidas na suspensão por Chapman e a contratação de um especialista em carrocerias, Frank Costin, o carro da Vanwall tornou-se extremamente competitivo. Para brigar pelo campeonato foram contratados 2 excelentes pilotos: Stirling Moss e Tony Brooks. Assim, a Vanwall se tornou a primeira equipe campeã de construtores em 1958.

Em 1958, a Cooper apresenta um pequeno carro (baseado nos modelos da Fórmula 3 de 500cc) com motor de fabricação própria, montado na parte traseira, com um acentuado índice de avanço técnico comparado aos carros da época. Este carro marcou os modelos da década que se iniciava já sendo campeão de construtores e de pilotos, com o australiano Jack Brabham, em 1959 e 1960.

As cores dos carros

As cores tradicionais dos carros no início da Fórmula 1 eram: o verde para as equipes inglesas, o vermelho para as italianas, o azul para as francesas e o branco alemão. Nessa época, a F-1 era essencialmente um esporte, e o mercantilismo ainda não tinha tomado conta. As equipes eram mantidas com ajuda das empresas de petróleo e fabricantes de pneus. Essa obrigação durou até 1968.


No próximo dia 26, a década de 60 e mais curiosidades.
Curtas (pra não perder o hábito!):
1- Nelson Piquet, Jr., até o fechamento desta matéria estava sendo sondado pela Manor uma equipe que vai estrear no campeonato de 2010, força Nelsinho! Boa sorte!
2- Flavio Briatore ainda alega inocência e tenta volatr à F-1. Se liga, cara!

3- Felipe Massa está ainda em processo de recuperação, boa sorte!!!

E ainda no dia 26/10 estarei fazendo meu post direto de San Francisco, California! É isso aí fãs da veocidade, até mais!

É primaveeeeeeeeeera!

Aqui na Argentina comemoram muito a chegada da primavera. Dia 21 de setembro é o Día de la Primavera! Confesso que achava isso uma das coisas mais idiotas do país, empatado com o excesso de mullets e a insistência de usar arroz gelado na salada.

São pessoas que te "saludam" no trabalho por isso, nego com buquê de flor na rua, chefona que compra sorvete pra galera, aborrecentes saem pra beber no parque em bando e tudo isso a troco de que chegou a primavera? Pera lá, né! Vão arranjar uma vida!

Confesso que não via mesmo graça nisso tudo, mas a cada ano morando aqui vou começando a entender.

Brasileiro acha que inverno é charmoso. Claro, quando são umas duas semanas por ano e olha lá. Aqui não! O frio vem pra valer, mermão. Desde abril ou maio estou usando as mesmas jaquetinhas, as mesmas camisetas que são mais quentes, os casacões e calças. Cansa! Realmente, o fim dessa friaca é um baita alívio e, sim, traz bastanta alegria. Os argentos que são todos mais tangueiros e sensíveis, quase sempre em excesso, transformam tudo isso num grande evento. Uma celebração da chegada do calor.

Passei o dia 21 enfurnado no trabalho oficial e em outro extra, só saindo pra rua no meio da noite. Mal vi toda essa grande poesia da vida que é a chegada da primavera portenha. Mas não importa, deu pra sentir que se fue el invierno de mi corazón.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Interior

(Edgar Degas)

Com medo de procurar o que havia dentro de si,
Juliana deixou-se ficar deitada na sala de cores almodovarianas.
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Num puff macio e gelado.
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Não queria encontrar com ninguém.
E isso obrigatoriamente implicava encontrar-se consigo mesma.
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Era esse o perigo.
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Desesperou-se ao pensar no nascimento de possíveis garras sádicas.
Rasgando-lhe o ventre e tentando fugir.
_ Sou eu! Deixe-me sair!
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JAMAIS.
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Jamais Juliana deixaria que seu pequeno ser escapasse e passeasse (assim inconcluso) pelo mundo.
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Dispersou a fumaça do incenso.
Levantou.
Bateu os dedos nos cabelos curtos.
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Saiu da sala e trancou ali toda e qualquer vontade de se libertar.
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* Um mimo pra Juliana Cruz

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Passárgada

Às 13:45 vou-me embora para Passárgada
Lá sou amiga do João Henrique Carneiro
Lá tenho o homem que desejo
No lugar que quero.

E como dormirei na rede
Comerei carne de sol
Tomarei banho de mar
Pegarei jacaré

E quando estiver cansada de tantos caldos
Deitarei na areia
Chamarei Netuno e Hefesto
Pra me contar histórias
Acender uma fogueira
E fazer amor comigo.

Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tenho tudo
A cerveja mais gelada
A mariscada mais completa
O celular desligado.

E quando eu voltar pra casa
E ter vontade de fumar em ambiente fechado
De beber e dirigir
De ver o Jesus Luz de cueca num outdoor
De ficar milionária jogando no bingo

Quando der um beijo e não for correspondida
Quando trabalhar mais de 12 horas
Quando à noite acordar sozinha e sentir medo e frio
Vou me lembrar de Passárgada
Do mar, do sol, do acarajé,
Vou-me pirar em Passárgada.

Ps. Foi mals aí, Manoel Bandeira e quem esperava um vídeo mais bacana

terça-feira, 22 de setembro de 2009

21 de setembro de 2009.

no trabalho, ligações. na pesquisa, voz trêmula.
nas mãos, suor frio. nos dedos, unhas roxas.
na cabeça, tontura. pelo corpo, muito frio...

para o chefe, preocupação.
para a mãe, apreensão.

no hospital, olhares feios.
na veia, agulha. no soro, glicose.
no estômago, enjoo. na cabeça, sono. muito sono.

para o médico, preocupação.
para a mãe, apreensão.

no laudo, o não saber. para a doente, apenas MEDO.
em casa, a cama. no cobertor, o aquecer.
dormir, dormir e dormir.

no dia seguinte apenas a memória de que passou mal, a volta a rotina e as obrigações de todo o ser humano.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ad aeternum


já havia escondido a tal barra azul onde piscam alaranjadas as tentativas de contato. deixara o telefone lá longe, no cantinho da mesa. não usava acessórios. seus dedos batiam as teclas repetidas vezes, mesmo quando nada tinham a dizer. contra sua vontade, seus olhos cerravam levemente, simultaneamente ao descolar dos lábios que logo se escancaravam num suspiro profundo. tec tec tec era o que ouvia. pontas deslizando no teclado, o celular fora de seu alcance e a barra escondida. usava alt + tab para transitar entre as telas. quase não tocava o mouse. digitava, digitava, digitava. digitava até sentir os braços doerem. tudo em vão, pois não importava o quão rápido e intensamente trabalhasse, quando finalmente olhava o relógio para conferir o passar do tempo constatava que, em horário comercial, cada minuto carrega trinta deles em si.


domingo, 20 de setembro de 2009

O Fim

Olá pessoal.

Estou enfrentando o sentimento de luto pela perda de uma pessoa da família - e o luto muda nossas perspectivas... pelo menos até que nossa mente seja novamente tragada pela rotina para que, mais uma vez, caiamos no ciclo de ilusões, desejos, lutas e objetos que nos cerca.

Tento sempre escrever algo bacana aqui, dar o melhor de mim, mas não dessa vez... Vou ficar aqui no meu cantinho, matutando como um caboclo, de cócoras, tentando compreender a simplicidade do complexo e a complexidade do simples que envolve a vida e a morte... uma busca que não me levará a lugar nenhum mas, no momento, é uma trilha que não posso evitar de seguir.

Em um outro momento que me deparei com esse sentimento, saiu uma música: O Fim - fruto do sentimento de que não somos nada e somos tudo ao mesmo tempo, diante da vida e da morte. Seria ela mesmo o fim? Ou o recomeço?

Bem, gostaria de indicar essa música (que não é triste, nem alegre) para vocês. Acho que é assim me sinto nesse momento. Não é uma música da banda, eu a fiz sozinho e sozinha ela é, mesmo sabendo que sozinhos não devemos ser nunca.

A música está no Myspace, eu nem tenho mais o arquivo dela. Mas ela está lá. Sinto muito pela apatia do artigo, mas espero e ficarei confortado com um retorno de vocês sobre ela. Abraços e até o mês que vem!

http://www.myspace.com/mundosophia

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

De dentro do onibus

Vi uma menina bonita. Gostosa e bonita, andando ao lado dum nerd magrelo de óculos e cabelo tonhoinhóin. Ela ria, com gosto. E ele falava de canto de boca olhando pra calçada, típico dos tímidos. Ela se divertia. Que ela nunca se esqueça disso. Que ela nunca caia no submundo perverso novelístico com ares de revista teen que seduzem jovens e velhas garotas a desejar o pitbull metrossexualizado que na primeira oportunidade e terceiro gole vomitará aos amigos descolados as ligações, as posições, e confundirá orgasmo e não melindres com biscatice. Reunidos num bar com suas respectivas correntes prateadas pra fora das baby-looks e sorrisos orkutados prontos para qualquer click (não)surpresa, diga-se. O nerd não. Malemá vai contar pro melhor amigo, ou pro cachorro, ou nem pra ele mesmo com receio que os pensamentos ao se tornar palavras carreguem o acontecimento junto pra bem longe, onde ele não possa ir. Melhor guardar, pensa. E bem pensado é. Ele vai caminhar do teu lado, como de costume, pensando no que dizer, sabendo que tem que ser algo que você veja graça. Ele te venera, menina bonita.
Ele quer tua gargalhada, e tudo mais.