Sinto todos os pelos do meu corpo arrepiarem ao ouvir essa pergunta. Do lugar mais improvável possível.
- Te fiz uma pergunta.
- Você é um gato.
- E você não é de todo ruim. Mas uma coisa de cada vez.
- Você tá falando.
- E você não tá ouvindo. Presta atenção. Não é pra você sair daqui.
Seria mentira dizer que sentei na cama. O mais sincero é admitir que minhas pernas viraram gelatina e eu de repente me vi sentado. Encarando o gato preto.
- Putaquepariu.
- A tua. Escuta, te acordei pra conversar com você. Pra que essa mão? Para! Me solta.
- Eu tô te sentindo. Você não é um sonho.
- Não. Eu sou seu pior pesadelo. hahaha. Desculpa. Faz tempo que não tenho ninguém pra conversar.
- Putaquepariu.
- Ah, meu saco castrado...você é devagar, né? Olha, presa muita atenção. Estella, Risa, Ramona, Carmem (ou é Carmen?), o cara estranho, a cigana...não dá pra você confiar em nenhum deles.
- E é pra confiar em você?
As palavras saíram baixinho, como se eu não quisesse falar. Cacete, eu não queria! Aquilo é um gato! E um gato preto. Que sorte.
- Não. Quero dizer, eu vim fugir dela. Aliás, vim atrás da igreja do Santíssimo Sacramento. E agora a Carmem tá morta. Mas ela é a cara da Ramona.
- Ah, é. Esqueci da velha da igreja. "Aquela que não pode falar nada porque não é seguro". Como é que deixam você sair sozinho na rua?
- Hein?
- Você é muito burro mesmo.
- Eu não vou ouvir desaforo de um gato.
- Cala tua boca que eu tenha mais experiência de vidas que você. Ouve o que tô te falando. O que é que você veio buscar aqui?
- A...a verdade, eu acho.
- Sobre o quê?
- Sobre o que aconteceu com a Ramona.
- Lindo. Olha, a Ramona não tá mais com você. Faz uns anos já, lembra? E precisou viajar pra outro país pra ouvir de um gato que não tem nada pra você aqui.
- M...
- "Mas", nada. Pensa que eu não sei? Você fala de si mesmo na terceira pessoa e narra as cenas na sua cabeça como se estivesse num filme noir. Toma vergonha nessa cara!
- Eu só queria uma resposta.
- Para de perguntar pros outros. O que você quer fazer? Já parou pra pensar nisso?
- Cara...eu só quero sair dessa confusão.Tô cansado. Muito cansado de não saber o que fazer.
- Eu sei.
- Eu achava que tinha superado a falta que ela me faz. Quando o casaco apareceu na minha porta....
Subitamente, parei de falar. O gato ficou me encarando com aquela cara de quem sabia que eu tinha percebido uma coisa muito importante. A merda do casaco ficou lá em casa e eu tô aqui, a um buzilhão de quilômetros. Sem a merda do casaco. As palavras saíram sem demora.
- Eu sou um idiota mesmo.
- Ô se é.
Depois de zombar mais uma vez de mim, o gato deu uma última olhada pro meu rosto, virou-se e foi até a janela. Assim que ele saiu, ouvi a porta sendo destrancada. A seguir, ela finalmente se abriu.
(continua no dia 25)
Hahaha...muito bom, Adriano!
ResponderExcluirMais 4 dias!
ResponderExcluirAiaiai... adorei o pseudo-gato-de-cheshire. But... Cadê respostas?
ResponderExcluirFaltarão caracteres pra tanta pergunta a ser respondida. Corajem, e muita criatividade aos últimos 4!
Camila, dia 15.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNarnia e seus bichos falantes?
ResponderExcluirSherek e o gato de botas?
Alice e o gato sorridente?
De toda forma, esta foi a parte mais tosca e a que eu mais ri..kkkkk, qta loucura kkkk.
Gatos pretos, sempre levam para a verdade.
ResponderExcluirEsse deveria ser o post da sexta feira 13.
ResponderExcluirPorra, ficou chapado Adriano!
ResponderExcluirAMEI!! Não consigo imaginar uma história melhor!!
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