Eu comecei a terminar de ser criança no dia em que vi a mancha.
A mancha em formato de lua, atrás da orelha esquerda do Jordão.
O amigo Jordão.
O Jordão que sempre estava,
mas nunca ficava,
jamais se demorava.
O Jordão que me olhava, mas nunca me via,
o olhar fugidio de quem queria mas não podia.
Jordão, o amigo eterno de minha mãe.
Amigo, vejam só, o amigo de minha mãe.
Naquele dia,
ao se despedir como sempre,
ele se virou como nunca.
E foi assim que eu vi.
E quando vi a mancha, em forma de lua, atrás da orelha esquerda, senti súbito minha mão saltando célere pra trás de minha própria orelha esquerda, pousando sobre a minha própria mancha em forma de lua, que eu achava
- oh, céus, eu achava -
que era só eu no mundo quem tinha.
Maravilhoso!
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