terça-feira, 27 de outubro de 2020

A presença


A mulher estava assustada. Não conhecia as razões, mas no seu íntimo sabia que algo a perseguia. Ela só queria estar em paz, então ignorava a situação. Passava os dias realizando as tarefas diárias sem nunca deixar de sentir a presença invisível.

Enquanto o dia estava claro, a presença era mais escassa. Surgia de vez em quando atrás da mulher enquanto lavava louças, na janela do quarto, ao abrir a geladeira. Quando a noite surgia, porém, a presença se intensificava e se percebia com mais frequência. E para dormir? Se a mulher fechava os olhos e virava o corpo para a direita, a presença tocava seu ombro esquerdo, se o corpo estava para a esquerda, era seu ombro direito que era tocado como se uma criança que não consegue dormir chamasse a atenção da mãe. Por esse motivo, a mulher só se deitava quando estava realmente exausta e mesmo com a perturbação, dormia.

Apesar de sentir a presença claramente, a ponto de poder indicar o seu local exato, até aquele dia ela nunca tinha sido vista. Era um final de tarde iluminado quando a mulher foi ao banheiro. Ela estava quase fechando a porta quando sentiu aquele golpe na barriga, aquele que parece chacoalhar seus órgãos internos, um choque elétrico percorreu seu corpo ao ver a figura. Aterrorizada a mulher viu a si mesma do outro lado da janela. Não como um espelho. Era um corpo com vida própria, irreconhecível, indomável, que não lhe pertencia. Um corpo que zombava da figura pálida da mulher que o olhava atônita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário