Mostrando postagens com marcador Dia 16. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Dia 16. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 16 de março de 2016

.sambinha do homem amoroso.

eu te dou a flor
o beijo,
ardor
das mais
inquietantes
paixões

velo teu sono
sereno,
te espreito,
mas só por cuidar,
é zelo de quem
bem-te-quer,
olhos pra te
navegar

entrego-te
de versos
o tudo, 
desde 
que me digas
sim,
desde que
sussurres
canções
ou 
um dócil
silenciar,
desde que não
sejas,
ai de mim,
desde que não sejas

mas, tu,
amorzinho,
não ouviu
meu clamor,
desfez meu
apreço,
descamou-me
pele,
eu remetia
carinhos
e tu
castigou

ó doçura, 
agora
perdoe o desajeito,
os gritos, 
o punho,
a pedra,
asfixia,
revolver, 
fivela

é que nesse teu
desejo 
de ser
só tua 
e nada mais,
eu não sei de mim
eu não sei, 
mas,
ai,

pobre deste coração
iludido
que 
se reconhece
teu dono,
teu capataz,
tu,
amor,
sabes que
eu não queria
mas, 
ai,
só logro
fazer 
dicotomia
do nós,
se tua
existência
se torna
fugaz.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

.na esquina onde sempre há um pombo morto.

é aí que o domingo faz seu pouso. de alguma janela o que parece uma viola contrasta com a cantoria ecumênica que escapa da portinhola no avançar da rua: não avisto nada além das flores enredadas no portão. entre o pombo e eu, restos da semana já finda; sacos minuciosamente rasgados pelos cachorros do bairro. não escolho meu passo, tateio por instinto o que é calçamento meio à fraldas, um celular de brinquedo, pacotes de macarrão instantâneo e estilhaços do que antes cerveja e festejo. certamente havia maior diversidade, não vi, não escolho meu passo e nem minha atenção. outro pombo, repito o óbvio em silêncio, isso sempre me perturba, mas aos domingos o comichão é dum incômodo mais acentuado.

lembro ainda aquele dia: espera de rodoviária, mochila nas costas, moscas e cheiro de salgadinho. também era domingo. foi um instante e desajeito de quem deveria ter voado, mas não voou. meus olhos em frenesi: no pombo, no ônibus, naquele pneu imenso na direção do - voa, meu filho, voa, que cê tá esperando? - alguns segundos, não mais que isso, ainda assim a memória teve tempo de me trazer dia ainda mais envelhecido: instrutor da auto-escola, eu tímida, eu nervosa, pombos não param de me atravessar o para-brisas, ele zombeteiro: sempre digo que aquele que conseguir atropelar um pombo aqui ganha de mim um prêmio, tranquila, eles sempre voam. - foi um instante, eu na rodoviária, na esperança, e ploc. surdo, exato, pastoso, domingo. 

eu não escolho meu passo, eu não escolho minha atenção, eu não escolho os pombos que me percorrem. 

ainda teve aquele, em minha espreita, quando abri a porta do apartamento.