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segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

As promessas do ano que vem


Não precisamos de muita argumentação para falar o quanto este ano foi intenso. Todo um ritmo foi quebrado e estamos a nos reeducar para viver de outra maneira. Há quem diga que sairemos melhores disso tudo, há também quem diga que vamos descobrir que 2020 tem mais de 12 meses. Rimos de nervoso e batemos três vezes na madeira, pensando que a segunda possibilidade tem mais chances de ser real.


Não é possível sair deste ano isento de arranhões. Mergulhamos de cabeça no mundo online, há quem tenha feito jornais de gratidão e também quem tenha se esforçado para conseguir fazer todos os cursos ao alcance: em tempo “livre”, produtividade é lei. Trancados dentro de casa, o home office para alguns virou pesadelo, para outros foi a confirmação de que aquela reunião realmente poderia ser um e-mail. 


E agora, com a vacina sendo distribuída enquanto a segunda onda e a segunda cepa vão atingindo mais países, nos encontramos no final do ano se perguntando se no final do arco-íris vai ter algum pote de ouro. 


Vale a pena fazer planos?


Planos são para pessoas que têm perspectivas. E onde ficam estas esperanças, quando tudo ao lado desaba? Gostaria de dizer que vai ficar tudo bem, mas situações complexas não se acertam com respostas simples. Tem muito entulho dentro e fora da gente, pra deixar a casa toda em ordem, se é que um dia ela será ajeitada.


No meu caso, enquanto ainda estou a demolir meu sapário interno (e outras construções emocionais em situação de risco que já passaram da hora de saírem dali), no meio deste ano decidi ser mais gentil comigo. Ao alcance de minhas capacidades, foquei em cuidar do emocional - e isso não me impediu de dar apoio para as pessoas ao meu lado, carinho é sempre bem vindo. Enquanto eu, minha saúde mental priorizada e bem cuidada gera perspectivas. Com perspectivas consigo olhar pro amanhã e ainda ter uma pontinha de esperança de que as coisas irão melhorar. 


Nessa, de coisas pra fazer no ano que vem, gostaria de passear e viajar mais, entretanto não acho que isso acontecerá tão cedo e nem tão barato. Logo, coloquei uma meta acessível (acho / espero / tenho fé) para cumprir no ano que vem: consumir mais arte. 


Consumir mais arte não por desespero na pandemia, mas porque arte faz de mim alguém melhor. Até o começo do ano, estava cansada e desesperada demais para poder apreciar o tempo livre sem ser me julgando por não estar fazendo algo voltado para melhorar comercialmente enquanto pessoa. Nesses meses em isolamento tive o privilégio de poder me dedicar a outras coisas, e, principalmente, me dedicar em prazeres que não tinham nenhum retorno financeiro. 


Se antes eu tinha consciência pesada por não estar me aperfeiçoando até nas horas de folga, hoje fico mais tranquila se percebo que passei o domingo lendo uma história boba com o celular no modo não perturbe. Porque consumir arte me faz ver o mundo com outros olhos, e conseguindo pegar visões e sentimentos que são alheios à minha realidade, acredito que eu possa ser alguém melhor. Melhor não porque vou ser valorizada no trabalho, mas melhor enquanto ser humano e, acima de tudo, melhor comigo também.


Espero que para o ano que vem você também encontre as coisas que te façam ter perspectivas.



domingo, 26 de julho de 2020

minha sílaba


"estava cortando a cebola quando o celular tocou"
imagina rasgar a vida pelo meio
minhas dores em mise en place
o sal hidrata os meus lábios rachados
lágrimas tão brancas como o sêmen do meu homem
perdi o olfato a vontade a viagem 
meus cavalos estão trocando sozinhos as selas e os arreios
os cachorros tomam seus banhos
escravos escarro cuspo e menosprezo
enquanto atendo este telefone
queria ir embora com as nuvens
mas vivo sempre deslocada como a terra
ofegante e interessada
a vida aqui é um mangá sentida de trás pra frente
alô


segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Só Bolsonaro não decepciona



Lá se foi 2019. Sabíamos desde 2018 que seria um ano de amargar, mas nutri algumas esperanças, ao menos para ter onde me apegar. Que ilusão.

Acreditei que a justiça resolveria o assassinato de Marielle Franco, mas hoje faz 677 dias que me pergunto quem é o mandante do crime e quais as razões.

Pensei que eventualmente o PSDB acordaria do delírio de uma oposição irresponsável, que resultou em patéticos 4,76% dos votos para a candidatura milionária de Alckmin, mas seguem culpando o PT até pelos problemas de São Paulo, que governam desde 1995.

Quem sabe a grande mídia não aprenderia, ainda que na porrada – por enquanto simbólica – a importância de uma cobertura honesta dos fatos, mas continuam varrendo para baixo do tapete as injustiças que vêm cometendo desde a articulação do golpe.

Talvez a própria população caísse na real depois que a “Vaza Jato” escancarou o óbvio. Sergio Moro, pintado como acima do bem e do mal, tinha lado, viés, interesse pessoal e fez muita gente de trouxa. Mas o escândalo só serviu para domesticá-lo e deixa-lo na coleirinha pelo presidente.

Os nacionalistas decerto se revoltariam ao saber que Paulo Guedes gostaria de vender até o Palácio do Planalto. Que nacionalistas são esses, dispostos e destruir o país e aceitar o sucateamento da ciência, pilar de sustentação de qualquer país? Mas basta uma demão de verde e amarelo para o mundo permanecer cor-de-rosa.

Não adianta. Há pouco mais de um ano, só Bolsonaro não me decepciona. O presidente me lembra um episódio do Chaves, quando o Prof. Girafales, didático como só um professor pode ser, diz o que parece caber como uma luva no representante do Planalto:

“Talvez a vocês o trabalho dele parece tolo, inútil, comum, vulgar. Sim. Concordo. Mas é que devem levar em conta que se trata de um indivíduo sem nenhum preparo. De um pobre diabo que nem sequer concluiu o primário. De um pobre infeliz que mal aprendeu a ler e a escrever. De um reles... de um joão-ninguém...”

E correspondendo, finalmente, às minhas expectativas, surge Bolsonaro cumprindo o que dele se espera. Um trabalho patético, subserviente, entreguista e submisso, em uma realidade paralela, onde o comunismo é uma ameaça e os Estados Unidos a solução.

Cansei de ter esperança. Para 2020 minha única expectativa é a do governo patético de um pateta. Não é bem algo em que posso me apegar, mas na atual conjuntura, evitar frustrações já é um passo importante.