O cheiro de bolo quentinho que inunda a casa a tarde, se
mistura com o aroma de café recém passado, e me transporta para outro lugar,
outro tempo...
Sinto aconchego, um afago na alma,
Um abraço que não vem dos braços, mas das narinas, da
memória, da imaginação.
Não é apenas cheiro de bolo caseiro de laranja ainda no
forno, é perfume de infância, de uma cozinha de chão de cimento queimado - que antes de ser moda, era uma solucao de baixo custo para casas populares.
De raios solares entre frestas atravessando a janela, permeando a cortina de rendas e fazendo delicados desenhos de sombras enquanto ilumina o cômodo.
O filtro
de barro, a geladeira azul, a cortina de canudilhos e a velha chaleira, apoiada no balcão.
Meus amados avós.
O chocolate quente e as histórias de ninar que compunham meu ritual noturno.
Carinhos quentes.
O cheiro traz lembranças... Como tudo que é efêmero, impalpável. Não escorre pelas mãos, mas se dissolve no ar, flutua, eleva-se, e
vai-se embora.