quarta-feira, 30 de junho de 2010

De herói a bandido todo mundo tem um pouco

A vida é como um grande teatro
Com platéias
Personagens contracenando
Num grande palco uma história
Sem fim

[Voz Sem Medo]

O sol esqueceu que já era inverno e proporcionou um belíssimo sábado à cidade de São Paulo. O dia também teve um brilho especial para Caroline Celico, protagonista de uma reportagem na nova edição da Veja São Paulo.

“Criei a Caroline para ser uma princesa. Fico feliz que ela tenha se casado com um príncipe!” As palavras carinhosas da mamãe Rosangela Lyra remetem à realeza de Ricardo Izecson dos Santos Leite, o Kaká, príncipe cuja imagem de bom moço não é maculada por palavrões captados pelas câmeras de TV e, menos ainda, por um cartão vermelho injusto.

“Obrigada, Senhor, por, num mundo tão difícil, conseguirmos juntar mulheres lindas que têm mais do que poderiam imaginar.” A oração da princesa Carol emocionou as socialites presentes na reunião no Morumbi. De quebra, provocou também indisfarçável orgulho no coração de muita gente que se vê representada na mídia apenas por pa$tores histéricos e mulheres de perna peluda sob indefectíveis saias jeans.

Ainda curtindo a repercussão da matéria, no dia seguinte a princesinha gospel postou no álbum do Twitter um flagra de pneus masculinos tentando fugir de uma calça que os comprimia. “Que delicia... Bom apetite... Rsrsrs!!!!” foi a legenda escolhida para a traquinagem, aliás uma ilustração perfeita para a vetusta expressão bíblica “enxúndias nas ilhargas”.

Como acontece em alguns contos de fadas, foi o suficiente para a carruagem virar abóbora. Com + de 25 mil cliques, a fotenha despertou comentários furibundos. “Amar o próximo sendo ele limpo, magro e rico é fácil. Vai visitar morador de rua”, comentou alguém. “Essa sua atitude mostra o quanto vc é fútil; tem uma pilha de roupa p/ passar na minha casa”, disse outra internauta, elevando a temperatura além dos 27 graus do domingão.

Não é a primeira vez que Carol causa no Twitter. Em março, ela deu RT em um protesto após a substituição do Kaká numa partida e o a bagulho ficou tenso. Após a imensa repercussão negativa, o maridão chegou a anunciar que iria deletar o Twitter dela.

Desta feita, parece que ela não se importou muito com a jaula da expectativa alheia, tomou Activia e saiu andando... com Louboutin e Chanel nos seus pés apostólicos, naturalmente. Melhor assim. Afinal, os manos do grupo de rap Voz Sem Medo já nos deram a fita:

Tanto morre o sábio como morre o louco
De herói a bandido todo mundo tem um pouco

terça-feira, 29 de junho de 2010

DERRAMO-ME EM VERSOS por Felipe Augusto

A vida nos põe em divida constantemente.
Devemos mais cuidados a nossa saúde, tarefas á faculdade, e tempo aos nossos amores...

...crio pra ver se desfaço o que já não é fácil de suportar...
Sou poeta de exclusão literária e não sei a grafia correta das minhas próprias palavras.

...Mas elas me servem de acalanto, e as vezes, quando jogadas num canto, me servem também de saudade...São minhas verdades,meus amores, meu horrores e medos, pintados em belas paisagens. esboços de verdades que criei.
Compartilho, quase sempre, somente o que gosto...sorrisos , abraços e tudo o que posso..., mas o meu verdadeiro gozo e plenitude, é o silencio de um momento eterno de criação, que as vezes dura somente um segundo, mais é tão profundo, que afastam-se todos, os medos, as crises, o mundo, desfaço-me de tudo, me faço mudo, despido de todo resto que não interessa, de corpo e alma nu... agora, sou só eu o verso e o reverso do que sou , juntos forjamos a fantasia que compõe a felicidade das almas sensíveis, disfarçamos meus deslizes e fingimos, por um segundo, a sonhada liberdade, onde cada palavra é uma parte deste sonho desesperançado, " sou livre"... (livre?)

È! LIVRE!! (tudo que sinto de mais sincero é um grande anseio de liberdade, mas que na verdade não sei o que a liberdade é) assim como os versos que criei, e que não se bastam em ser meus,...

... os versos são livres como meus sonhos, mas precisam sempre de olhos atentos pra interpretá-los, e hoje uma vez mais, assim que os leiam, lhes faremos eternos, como parte desta eternidade humana, ilusória... E assim serão até que haja quem os leia, quem os possa revivê-los, assim como eu. Assim como você...


... é só isto de tudo o que faço que quero realmente fazer..

quando já não posso suportar o peso de tanto amar, derramo-me em versos.

quando a luta é maior que o sonho que me serve de prêmio, derramo-me em versos,

quando só há em mim o silêncio profundo de um imenso mistério, derramo-me em versos,
quando enfim já não cabe em mim o EU que realmente sou, transbordo, me faço feliz, e derramo-me em versos de universos sem fim...

( Felipe Augusto )

Aê pessoas negócio é o seguinte: rolou o aniversário do blog e não sei se lembraram, esqueceram, enfim, eu não esqueci. E como é meu dia de postar, como sempre um pouco atrasilda, presenteio com versos do miguxo aí. O Felipe é o miguxo mais novo de uma sala de quase trinta e poucos alunos, é jovem muito jovem, apenas 21 aninhos, aspirante a escritor, aluno aplicadíssimo, o xodó dos professores e nós alunos/amigos e poeta desde o ventre. Pedi algo especial, disse que queria presentear o blog com alguém como ele bacana, simples, mas de uma sensibilidade tamanha. E ele não mediu esforços,pediu o link , olhou o perfil e grato pela escolha, fez especialmente para nós. Tem um blog Spaziomomento, depois comento e deixo o link, menciona que é um sonho compartilhar o que escreve. Então taí, espero que gostem, é minha forma de agradecer, ao Lucas o convite surpresa de 2009 e aos 29 integrantes deste blog doido, culto e bacana o convívio virtual de um ano.
Aê feliz aniversáriooOO blog das 30 pessoas! :))
- Beijos da loira.(risos)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sobre como eu roubei uma empregada

Assédios sexuais em elevadores, mulheres que andam de salto e causam enxaquecas, brigas conjugais por roubos de chip, crianças que choram demais, moradores que pisam na grama, carros mal-estacionados e monopólio da churrasqueira costumam ser os principais motivos de briga no condomínio onde eu moro. No entanto, tudo assumiu uma proporção frente ao problema maior: eu roubei uma empregada.

Não é fácil chegar em casa e sentir aquele cheiro de comida gostosa pronta. Eu não sou casado. Minha mãe trabalha e meu cachorro não cozinha. A rotina é simples: chegar em casa, pegar o arroz, colocar no microondas e fritar uns nuggets. Não sou uma pessoa menos feliz por isso. A praticidade roubou a realidade de uma boa refeição pré-sono, eu sei, mas seria injusto bater na minha mãe por causa de comida. Prefiro dedicar outros motivos a isso.

Sendo assim, é uma afronta ver que meu olfato era aguçado pela casa ao lado. Encontrar os moradores daquele apartamento de manhã no elevador era insuportável. Aquela cara de bem comidos, sorriso no rosto, barriguinha que não ronca e outras características de quem dedica a mesma atenção à cama e à mesa. Isso tinha que terminar de algum modo. Não é inveja. É igualdade social.

Logo, resolvi investigar. Se fosse a mulher que cozinhasse, ofereceria sexo gratuito em troca de comida. Se fosse o marido, eu comprava um livro de receitas. Ou o contrário. A responsável pelas refeições daquela casa era uma moça que se chama Roberta* (*nome fictício para defender a sua integridade física e moral). Fiz a Roberta uma proposta que ela não poderia recusar: trabalhando em minha casa, ela não precisaria limpar ou atender o telefone, bastava fazer as melhores refeições do mundo. Compensei a lealdade com algumas notas e logo ela se mudou para a minha casa.

Os primeiros dias foram uma maravilha. Roberta chegava cedo, fazia o café da manhã e eu me sentia num comercial de Doriana. O relacionamento familiar melhorou e até meu cachorro passou a ser alimentado diariamente. Minha mãe se sentiu um pocuo desprestigiada, mas as porções de bolinhos de chuva faziam qualquer um engolir o orgulho com gosto.

Quando tudo vai bem, o caos se aproxima. A contratação de Roberta gerou um mal-estar. Os moradores do apartamento, que perderam os serviços da moça, se sentiram lesados. Cortaram relações conosco e não nos convidaram mais para festinhas no salão de festas do prédio. Além disso, contrataram uma outra empregada, de um outro apartamento. Isso gerou em efeito em série, gerou uma alta no mercado especulativo de empregadas ao ponto de que muitas passaram a semana em suas casas, de folga, selecionando propostas.

Pessoas com fome tendem a ficar mais agressivas e o síndico convocou uma reunião. Após uma sessão tensa, com ameaças de morte e prestação de contas sobre licitações duvidosas de compra de samambaias artificiais, ficou estabelecido: “Nenhum morador está autorizado a contratar qualquer tipo de prestador de serviço que atue na residência de outro condômino. E pisar na grama continua proibido, exceto o responsável pela limpeza da placa de “Proibido Pisar na Grama” por motivos óbvios”.

Continuamos com Roberta. Com o tempo, ver a casa desarrumada não compensava mais ter as refeições de uma novela de Manoel Carlos. Era desconfortável sentar no lixo empilhado e brigar com as formigas por um pedaço de pão. Tentamos renegociar, mas Roberta estava acostumada com o conforto proletário ali estabelecido. Era hora de mandá-la embora. Chamei para conversar e dispensei a moça. Ela chorou um pouco, eu chorei mais e ouvi a barriga roncar. Era a aposentadoria do meu olfato e a certeza do fim de uma era de benção alimentar.

Para quem ficou triste, Roberta logo foi recontratada pelo apartamento vizinho, que dispensou a sua empregada, que voltou a trabalhar no apartamento antigo, que também mandou a diarista anterior embora. Hoje, o síndico pensa em convocar uma nova reunião para decidir se as despesas com as demissões podem ser incluídas no condomínio em forma de rateio. Prefiro gastar meu dinheiro na linha de congelados Sadia.

sábado, 26 de junho de 2010

O fardo de uma leiga em biologia


De acordo com o livro de biologia de segundo grau da minha irmã, a pressão baixa se dá quando o nível de água no sangue está abaixo do esperado, resultando a perda de impulso no seu curso arterial e blábláblá, e tinha qualquer coisa sobre os rins produzirem um hormônio que produz um sal que faz o sangue sugar mais água do corpo para equilibrar as coisas e eu sou realmente uma irmã muito boa porque em pela quinta-feira à noite, mesmo com uns 10 anos sem tocar num livro de biologia, fui ensinar (leia-se aprender junto) sistema excretor.

Mas estou falando disso, não por nada. É que minha pressão é baixíssima, nove ou dez ponto qualquer coisa, com direito a eventuais desmaios em caso de transfusões ou exames de sangue. Então assim, no fim das contas, até que foi importante saber que quando eu estou meio tonta é porque falta água no meu sangue. Né?

Aprendi também que o álcool inibe a produção do tal hormônio pelos rins. Aí fiquei me perguntando se seria esse o motivo de eu ficar bêbada tão rapidamente nos dias oficiais da cerveja: as sextas-feiras. É... menos água, mais álcool, menos hormônio, mais outros tipos de hormônios, menos memória – mas aí já são ooooutros sistemas funcionais do corpo humano, não vamos perder o foco.

Outra coisa que me aflige muito é o meu raciocino lento e meus ocasionais lapsos de memória. Mesmo eu tendo a ciência de que o conteúdo abordado no momento break está na minha cabeça e que, apesar da lentidão, eu tenho inteligência suficiente para aquelas situações.

Eis que descubro, em uma inocente conversa por telefone, e pouco depois da aula para minha irmã, que isso também é culpa da Pressão Baixa! Foi assim: Mariana, uma grande amiga, me liga e fala qualquer coisa que eu respondo e ela não entende. Aí, quando vou explicar de novo, ela diz “Deixa Nath, minha pressão baixou hoje, não vai adiantar forçar a barra do meu raciocínio. Depois a gente se fala.”

Como assim? Então estou fadada à lentidão mental para o resto da vida, por causa de uma inevitável característica biológica?! Já não bastava o “Bebo, logo, fico bêbada” e toda a história do menos hormônio x, mais hormônios y , menos memória no dia posterior?

A parte boa de toda essa desventura biológica foi a tal da água. É que nunca consigo lembrar se, em caso de queda de pressão, se deve comer sal ou açúcar. Decidido: voltarei a andar com minha garrafinha de 500ml na bolsa. Deus permita que isso ajude.

ps: caso algum perito em biologia desabe os olhos sobre esse texto, não se sinta constrangido diante de tais absurdos. Discorra todo o seu conhecimento em um comentário biologicamente correto. Serei eternamente grata.


nathaliaq.wordpress.com

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Imãs de Geladeira

De: willsbourghour@idex.com

Para: dr_robertswanson@laborpsico.com

CC: helpsico@laborpsico.com

Assunto: Imãs de geladeira



Me chamo William Bourghour, tenho 37 anos, sou corretor de imóveis, divorciado, sem filhos e tenho uma vida pacata. Não possuo qualquer vício, e nunca tive nenhum problema de saúde. Faz alguns anos que meu hobby predileto é colecionar imãs de geladeira, tenho centenas, nos mais variados temas; filmes clássicos, desenhos que fizeram parte da minha infância, réplicas de bebidas, capas de álbuns de rock e piadas sobre religião, mulheres e obesidade. Minha geladeira se tornou na verdade um grande mural, onde homenageio coisas que gosto, nela é possível ver um preguiçoso Garfield ao lado de um briguento Snoopy dando uma bela comida de rabo em Charlie Brown. Também tem espaço para Darth Vader, convidando a todos para o lado negro da obesidade apontando com autoridade para as guloseimas do local e até Tarantino, recomendando não abrir a geladeira se não quiser ter uma desagradável surpresa. Comprei menos que a metade, com o passar do tempo amigos e familiares me ajudaram na obsessão. Exibo todos com muito carinho, eles me acompanharam em várias mudanças, e sobreviveram a duas trocas de geladeira e três separações (Mulheres vão, os imãs ficam!) - Já se tornaram parte de mim, ao lado de alguns livros, discos e filmes que já mais irei me desfazer.

Mas algo estranho vem acontecendo, tenho notado que os imãs têm mudado de posição, claro que pensei na hipótese das visitas ficarem brincando com eles, isso já aconteceu inúmeras vezes, mas sempre ao ficar sozinho arrumava-os novamente – (Sim! Cada imã tem seu lugar na geladeira...) – No começo achei que podia ser a falta de magnetismo devido ao tempo, sei lá quanto tempo dura um imã (eles não vêm com data de validade), mas isso foi descartado ao ver que os novos também se mexiam. Deixo tudo arrumado, vou tomar banho, fazer compras ou qualquer outra coisa e ao voltar eles estão revirados novamente, alias isso no começo, talvez nos dois ou três primeiros dias, pois nos últimos comecei a notar que eles estavam formando imagens (não, não estou louco!), triângulos, círculos e formas muito parecidas com letras, tirei algumas fotos e envio duas em anexo a este. A primeira é um ponto de exclamação, o mais curioso é que no dia anterior eu tinha feito um sinal de interrogação com os imãs, por brincadeira e não para tentar me comunicar (até então nunca fui de acreditar nessas coisas sobre espíritos e assombrações), a outra foto tirei ontem quando voltei do trabalho, como pode notar é uma cruz, motivo pelo qual lhe envio esse e-mail, pois hoje pela manhã encontrei meu gato Billy estatelado no chão em frente à geladeira. O veterinário disse que morreu asfixiado.

Ps.: Temo pelo pior, a cruz que esta formada hoje é muito maior.



Aguardo contato e desde já agradeço,

William Bourghour


Conto de Fernando Ferric - Impossível - Col. de Contos - Todos os direitos reservados.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Minha vida

Eu queria não esperar tanto das pessoas.
Eu queria um amor incondicional.
Eu queria corresponder às expectativas da minha família.
Eu queria ser uma melhor amiga.
Eu queria começar as coisas que só dependem de mim.
Eu queria terminar tudo que começo.
Eu queria querer menos e fazer mais.
Eu queria me cobrar menos.
Eu queria aceitar as coisas como ela são.
Eu queria acreditar que o mundo não é um lugar injusto.
Eu que não o entendo.
Eu queria agradecer mais, reclamar menos
E dizer de coração
Que seja assim enquanto é...

terça-feira, 22 de junho de 2010

Por que diabos eu quis ser jornalista?



Eu odeio jornal impresso, porque suja as mãos; odeio rádio AM, porque tem pouca música. Eu odeio discutir política quando não quero; odeio o fato de jornalista ter de saber tudo.

Odeio os apresentadores de jornais, principalmente os sensacionalistas; odeio também os casos sensacionalistas. Odeio onde as emissoras estão localizadas; odeio o trânsito caótico de São Paulo e a idéia de ser obrigada a conviver com ele.

Odeio puxar o saco da chefia para crescer; odeio quem compete para aparecer. Odeio quem vai para o JUCA e acha isso a melhor coisa do mundo. Acorda! Pagar mais de R$ 300 para dormir no chão NÃO é a melhor coisa do mundo.

Odeio grandes nomes do jornalismo que acham que estão no tapete vermelho do Oscar; odeio ex-jogadores de futebol que acham que são ótimos comentaristas esportivos.

Odeio fazer plantão. Odeio não ter feriado, nem final de semana. Odeio dormir menos que oito horas por dia e o fato de ter me acostumado a isso. Odeio sair e pensar no trabalho. Odeio levar trabalho pra casa e pra todo lugar que vou.

Odeio...





(Esse semestre concluo a faculdade de jornalismo. Me desejem sorte aí, galera!)

domingo, 20 de junho de 2010

Um dia após o outro

Faz um tempo que escrevi este texto. Encontrei aqui no meu arquivo e sinto que vale a pena ser publicado aqui:

Alguns dias são engraçados… o meu começou mal, o ônibus passou ignorando minha mão estendida. Fiquei com cara de bunda no ponto. Quase 25 minutos depois passa uma perua lotada. Fui socado junto com uma multidão até o metro, no melhor estilo lata de sardinha. O motorista parecia não ter a menor pressa, era como se tivesse dirigindo um ônibus de turismo a 20km /h, só para dar tempo de embarcar o máximo de passageiros possíveis pelo caminho. Para fechar com chave de ouro a primeira etapa do dia, quase cai ao descer do último ônibus (pego 3 ônibus + metrô para ir de casa ao trabalho). Nem olhei para os lados ao atravessar a rua, um carro freia bruscamente e levo um xingo… tudo bem.

O trabalho foi corrido, pepino em cima de mais pepino. Gambiarras, correrias, mais jobs, textos, atualizações, imagens, pepinos, reuniões… tudo ao mesmo tempo. No fim do dia, tudo ok, apenas uma carta não foi entregue. Legal, a chefe percebeu: Lavada na frente de todo mundo.

Saída: olho pra minha mochila e lá estão 5 DVD’s que devem ser entregues na locadora. Faço cálculos: são 19h10, a locadora fecha às 21h, levo 2 horas para ir do trabalho, na zona Sul, até minha casa, na Zona Leste. Melhor correr.

No caminho até o ponto, uma senhora me pede informação. Tento atendê-la, ela puxa conversa… droga! odeio ser indelicado. Me desculpo e parto. Ônibus, ponto, ônibus, metrô. Chego à estação que devo descer e procuro minhas opções: primeira opção ônibus Jd. Camargo Velho, ausente. Segunda opção ônibus Jd. Camargo Novo, não está. Última opção – maldita perua – está lá, entuchada de gente.

Subo na perua.

Cobradora: _ Pessoal, pode dar mais um passinho pro fundo?

O povo: _$%@¨¨#$¨… Não tem como moça… $¨#$%&$%&, não dá.

Cobradora: _ tem como passar a catraca, por favor?

Eu: _ eu ate passo, mas já são 20h35, preciso chegar rápido, vocês já estão saindo?

Cobradora: _ Já sim.

Fiquei unido à multidão por mais uns 10 minutos até o motorista ligar o motor. Pro meu azar, ele era mais um motorista turístico pronto pra mostrar, lentamente, todos os pontos da periferia ao povo. Eu já estava à beira de um colapso. Senti meus olhos encherem de lágrimas relembrando o ingrato dia. O “mano” atrás de mim, além de estar atrás que por si só já é uma experiência um tanto quanto desagradável, ainda possuía uma mochila que me furava um rim.

Deus, o que está havendo? O karma pegou um pouco pesado hoje, não acha? Hoje ainda é quinta-feira 12, como será amanhã, sexta-feira 13? Será que a vida está valendo a pena? Estou sacrificando meu tempo, minha filha, minha saúde, meus sonhos, minha mente… deixando muitas coisas pra trás por este trabalho… minha escolha foi certa? O que mais falta pra acontecer hoje?

Foi só perguntar e alguém deu um puxão na minha blusa. Em uma fração de segundo, pensei comigo mesmo “agora já agüentei demais, esse sujeito vai ser a vítima de minha cólera!” e me virei enfurecido…

Uma linda bebê, com olhos inocentes e uma mãozinha que parecia uma bisnaguinha seven boys se esforçava para agarrar novamente minha blusa. Quando me viu seus olhos se contraíram e ela sorriu com uma boca pobre de dentes, mas rica em algo muito valioso que não sei como chamar.

É, Deus… entendi o recado. Amanhã tem mais.

sábado, 19 de junho de 2010

Vou te comer

Em geral, minhas bonecas preferidas na infância eram Barbies, mas houve uma exceção à regra que até hoje me encanta pela genialidade. Era uma boneca de pano que meu pai trouxe de uma de suas viagens acadêmicas e que, à primeira vista, não aparentava ser nada além de um produto artesanal bem acabado. Mas não era...

Depois de algum tempo de exploração lúdica, descobri que o que inicialmente passava por uma simples Chapéuzinho Vermelho se transformava magicamente na Vovó (era só virá-la de cabeça para baixo). Aquela mudança já seria o suficiente para encaminhá-la aos primeiros lugares do ranking de brinquedos mais adorados, mas o melhor ainda estava por vir.

Com mais algum tempo dedicado à manipulação do objeto fantástico fiz uma das descobertas mais divertidas de toda a minha existência: retirando-se a touquinha da Velha e colocando-a sobre seu rosto, voilá, um lobo! Quer dizer, melhor, muito melhor do que um lobo, O LOBO MAU VESTIDO DE VOVÓ!

Pra uma criança de imaginação fértil e mente subversiva (que normalmente torcia para os vilões dos desenhos animados), imaginem a alegria que foi ter ali um dos maiores ícones da maldade, com toda a sua flexibilidade intelectual e moral, usando um vestido azul marinho de bolinhas brancas e óculos de armação redonda. Finalmente, de uma vez por todas, o lobo podia comer a Vovó, a Chapéuzinho, o Caçador, as Barbies, o Duende Pelado do cabelo verde e quem mais ele quisesse, quando ele quisesse e usando a roupa que ele quisesse (desde que fosse o vestido azul).

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Gente doente

Sim, pode até ser amargor. Mas é amargor de constatar que cada vez há mais gente doente nesse mundo. Gente pobre de espírito, fraca, covarde, manipulada. Que não sabe encarar a vida de frente e aí então foge. Vontade de fugir eu já tive, muita. Mas não sei o que é, tem um momento, um exato momento, entre o desejo e a ação, que a gente para. Chacoalha a cabeça e pensa. Pode ser a educação dada em casa, martelando sempre que gente decente não foge das obrigações. Gente doente não pensa. Deixa-se levar, pela ideia rota e parca, mesmo sem saber o que rota e parca significam, por ter uma inteligência limítrofe. E não é por falta de estudo ou oportunidade não. É porque o ingresso pra baladinha e a smirnoff ice estão mais em conta. Gente doente regride. Pede socorro, com olhar sonso, por vezes distante. Tem razão uma amiga minha que diz preferir os sanguíneos. Desses você sabe o que pode esperar. Gente limítrofe, doente em seu pequeno mundo, acha que tem razão e que a fuga é justificada. Os doentes se reúnem em corjas e tentam encontrar nos outros a cura dos seus males, reafirmando-se bons, sãos. Pobres... Para os saudáveis, quando foge, gente doente deixa um misto de alívio e repulsa.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

As aparências enganam

O futebol envolvente cheio de alternativa e goleador da Alemanha.
 
O futebol vencedor e surpreendente do pessoal dos olhos puxados.
 
O futebol pragmático e defensivo dos sulamericanos.
 
Os africanos, com toda a sua dança e aplicação tática.
 
A escola de goleiros que teve a melhor de defesa de todos os tempos, detém o maior frango atual.
 
Sei que trata-se da ainda não finalizada primeira rodada e a paixão do futebol reside em sua imprevisibilidade.
 
Espero que as aparências que me enganem, pois essa Copa ainda está muito chata.

terça-feira, 15 de junho de 2010

criação e loucura

"criar não é procurar
criar é achar dentro de si"

Prazer, prejuízo e ócio (Celso Fonseca e Suely Mesquita)

.



o
que move

o
momento

se
dissolve

em
pensamento

no
inefável

de
um gesto;

sem
palavra

ou
signo

que
soe banal:

longe
da realidade,

perto
do real


.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Côte d'Ivoire

Quem ainda se lembra diz que a Costa do Marfim só perdeu para a Coréia do Norte pra fazer graça. O time sensação da Copa de 2010, disputada na África do Sul (um país que ocupava boa parte do território setentrional mais extremo do continente africano - daí o nome) não poderia ter perdido um jogo, ainda mais contra a Coréia do Norte (que naquele tempo ainda não era a potência econômica e esportiva que é hoje). Mas quem sabe mesmo o que aconteceu? O tempo faz tudo virar mitologia.

O fato é que muitos achavam improvável, se não impossível, que a Costa do Marfim ganhasse do Brasil e, até mesmo, de Portugal, conforme comprovam as poucas fontes que temos disponíveis. Em um raro vídeo, um dos poucos sobreviventes do grande apagão digital de janeiro de 2017, conseguimos ver trechos de um programa brasileiro de discussão esportiva (cujo nome não conseguimos recuperar), feito após a vitória marfinense sobre Portugal, onde os participantes dizem acreditar que a Costa do Marfim ficaria em segundo lugar no grupo, atrás do Brasil. Ninguém previu, porém, que poderia acontecer o mesmo ocorrido na final de 1998, quando um jogador brasileiro passou mal horas antes do jogo contra a França. Mas o fato de que cinco jogadores passaram mal na véspera do jogo contra Les Éléphants despertou suspeitas, embora mais tarde nada ficasse provado. Esse fato deu origem à expressão “amarelar”, em referência à cor da camisa então usada pelo time brasileiro.

Após a já mencionada derrota para a Coréia do Norte, passou com facilidade por Chile, Holanda (na maior goleada sofrida pelo time laranja até hoje), Inglaterra (o primeiro W.O. que se teve notícia em Copas do Mundo desde a década de 30) e finalmente, Espanha (uma das favoritas, pelo que pudemos apurar). Um jornal, conseguido pelo nosso jornalista-espião nos arquivos do governo (apesar de ainda comuns em 2010, muitos jornais impressos se perderam durante o “Ano Mundial da Reciclagem de Papéis – 2016”) classificava essa vitória como “A maior zebra da história” (a expressão “zebra” indicava um resultado inesperado, embora o animal em si ainda não estivesse extinto), o que pode soar um pouco estranho para o leitor que acompanha o mundo do futebol hoje em dia e sabe que ali começava a história de sucessos e vitórias do time costa-marfinense. O jornal também faz referências a um suposto gol de mão marcado por Drogba (o gol de mão só foi incorporado ao futebol a partir da copa de 2026).

O histórico time campeão de 2010


O Brasil ainda tentou se vingar dos “tais elefantes” na copa seguinte. Disputaram a final (vestidos de azul), mas outra vez não se deram bem. O episódio ficou conhecido como “o segundo Maracanaço”, embora não tenhamos conseguido descobrir qual foi o primeiro, pois o Brasil perdeu da primeira vez no estádio Soccer City e não no Maracanã.

Amanhã a seleção da Costa do Marfim tentará o inédito hexacampeonato contra a Coréia do Norte, em Pyongyang. Eles garantem que dessa vez não vão brincar.

domingo, 13 de junho de 2010

O verde-amarelo da minha rua


A rua da infância se vestiu de Brasil para esperar o futebol. Há bandeirolas de uma ponta à outra, bandeiras em tubos plásticos, cal auriverde nas calçadas. Há meninos que desfilam camisas de times, e tudo nos saúda o movimento bonito do bairro familiar. A gente atravessa a rua sabendo que somos distintos, pois não há outra rua Helena como a nossa, a minha. 


Na infância de fogueira em junho, de pipoca e quentão. A mobilização, a caça de bambu longe. Um dia eu fui. Chegavam os homens, os velhos e moços na rua, trançavam entre postes a festa junina. O Zico, o bar, suas filhas, meu pai, o entusiasmo de mim, tão tímido, e das crianças. 


Eu quero esse verde-amarelo das periferias na minha alma de triste. Eu quero entregar tudo ao não-sentido da paixão de um movimento de campo. Eu que não sei jogar, nem dançar, pois nasci com os pés muito cavados, pernas confusas e nenhum jogo de cintura. Eu nunca soube idolatrar esses rapazes de chuteira fora do tempo da Copa. Ainda assim, eu quero pertencer a tudo isso, ao movimento pró-Brasil da minha rua, a essa coisa meio ingênua de bairro que nunca perdi, pois sou, sempre serei isso e todas as outras coisas estando aqui ou fora. 


Com ou sem Copa, eu não quero nunca me perder de mim. Troco talheres, corro para pegar o ônibus que lá vai, acho da maior dignidade o catador de papel, bebo média no tiozinho da esquina. Há muito eu me fiz digno demais para falsear a vida, fazer demasiado gênero para parecer bonito. Gosto da verdade ingênua espelhada no verde-amarelo das calçadas, o naif da vida sem neon ou ópio. E para os que acham esse clima de Copa ou futebol mera alienação, eu sou pela inconsciência, o transe feliz não ponderado, o samba-exaltação. Eu ando mesmo é desejoso do gol.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Vem pra Galoucura, vem

Eu não vou discutir se jogador de futebol merece o dinheiro que ganha. Também não vou discutir sobre a liberdade de expressão e as possibilidades que a internet oferece para que as pessoas exponham suas opiniões e seus sentimentos (aliás, oi? não é exatamente isto que eu faço no blog?). Acontece que a gente às vezes esquece que se futebol pra gente é diversão, lazer, amor, paixão, pra outros é meio de vida, é profissão, e neste caso, dinheiro é importante. Se te oferecessem um emprego em que você faria exatamente o que você faz, com as mesmas condições de trabalho (ou melhores), com as mesmas oportunidades de crescimento (ou maiores), pra ganhar mais do que você ganha, você não iria? Eu sei que a ética e o bom senso, apesar de bastante relativos, devem existir em qualquer lugar, a qualquer tempo. Mas se um jogador de futebol troca de time, assim, normal, dizer simplesmente que ele é mercenário só por causa disto é meio precipitado, não? Principalmente se ele volta pro time de onde ele veio, e onde ele é bem recebido, não?
Olha, eu não gosto nem um pouco do Kleber, e acho que o torcedor do Cruzeiro que também não quer gostar dele tem todo o direito, por inúmeras razões. Mas, sinceramente, depois deste vídeo, juro que fiquei com vontade de ver o cara jogar um clássico no Mineirão com a camisa do glorioso!


quarta-feira, 9 de junho de 2010

Conselhos de uma cigana

Ligue para a mamis depois de uns quatro ou cinco dias de silêncio. Sem marcar hora, e que seja no celular para que a chamada dure pouco.

Para rolar na grama debaixo de uma árvore vendo o sol passear, com ou sem companhia, evite: roupas de tecidos nos quais as folhas grudam facilmente e brincos sem tachinha.

Tire poucas fotos. Vá sem computador. Escreva no menor bloco de notas que você encontrar.

Não volte para casa se a situação ficar difícil. Aguente até que o problema se resolva ou você possa assimilá-lo. Admitir a derrota é enfrentar o arrependimento.

Só use relógios nos dias de viagem. Esqueça os dias da semana e os fusos horários.

Acesse um site de notícias do seu país, leia só os títulos durante 30 segundos, e feche a janela.

Nunca leve na mala aquela troca de roupas “para o caso de”. Elas só aumentam o peso no ombro, e são facilmente substituídas em qualquer caso.

Também não adianta levar mais do que três pares de sapato. Um tênis, um chinelo, um sapato mais arrumado. E só.

Curta o lado bom da saudade. É a melhor maneira de aliviar um peso que nunca fica para trás.

Aplique a técnica do “olhou pra mim é meu amigo” e surpreenda-se de como ela funciona. Mas não espere que ninguém mais cuide de você além de você mesmo.

Deixe-se apaixonar. Diariamente. Mas sem criar raízes.

terça-feira, 8 de junho de 2010

O mundo de Carol

Nunca gostei de jornais, tanto televisivos quando os de papel, e tampouco os jornais online.Um bom argumento: um dia li que é necessário dormir de 6 a 8 horas por dia (antes eram de 8 a 10, não?) e achei bom, posso dormir menos sem culpa. No outro dia li que para homens o mínimo são 5 horas, e para mulher 7. Fico cada vez mais confusas com como as informações mudam de um dia para outro, de uma fonte para outra. E afinal, café, carne de porco, ovo e chocolate, faz bem ou mal? Seria interessante se as matérias entrassem em um acordo, mas enquanto isso não acontece, não gosto de jornais.

Também não assisto novelas da globo. Devo ter acompanhado na vida umas três ou quatro.E nem me fale big brother ou comédias romanticas (argh!).
Já comentei meu gosto musical no último post, e além de músicas, gosto de ler, mas não "O segredo", "Código da Vinci" ou qualquer um do Paulo Coelho. Estou lendo Snoopy, mas não gosto de cachorros, nem de futebol e , apesar de
ser mulher, não me interessa falar sobre TPM, lingerie, ou batons.

Tudo isso me traz um grande problema,estou ficando uma pessoa cada vez mais dificíl de se conviver. As pessoas gostam de pessoas previsíveis, óbvias, e não que eu não seja coisa ou outra, mas não participo dos top 10 assuntos do dia-a-dia, e falar sobre como está frio acaba uma das únicas alternativas.


Há algum tempo, com a internet, comecei a escolher mais o que me interessa saber. Sabe sites sobre curiosidades, noticias bizarras? Leio todos os dias, dificilmente nasce um bebê de três cabeças, ou um morango com gosto de banana sem que eu saiba.
Ainda assim, esses dias fui num Stand up, e muitos dos temas não fazem parte da minha rotina. Ri menos por causa disso? Sim.
Mas só por isso devo começar a ver BBB e parecer menos chata, mais “conversável”? Não!
E digo mais, estou confortável aqui, cada dia mais velha, teimosa, por fora, ilhada, feliz.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Oração para o trabalhador dormir em paz

Texto de Gilberto Amendola, nosso colaborador do dia 04, postado extraordináriamente no dia de hoje:




Ó Deus do Trabalho, das horas extras extraviadas do nosso futuro, aceito meu direito de permanecer calado com a boca cheia de palavras tontas. Sou filho do silêncio e servo da satisfação. O que me pagas é o que me cabe. Nem mais um tostão, amém.

Ó Deus do Trabalho, da labuta infinita, das mãos calejadas, dos olhos cansados e da Lesão por Esforço Repetitivo, faça de mim seu funcionário padrão. Conceda-me a graça de uma foto pendurada no panteão dos competentes, amém.

Ó Deus do Trabalho, ensina-me os meandros do seu coração e das pequenas congratulações. Mostre-me com que mãos de luva posso me pendurar em suas delicadas partes. Deixe-me balançar feito uma criança feliz. Serei capaz de puxar sem machucar? Sim, serei. Amém.

Ó Deus do Trabalho, faça com que eu nunca me atrase, afaste de mim o cálice envenenado das distrações gratuitas, das redes sociais, do Twitter, do Facebook, do Orkut e do MSN. Proteja nossas caixas de e-mail contra a fofoca dos descontentes. Livrai-me das línguas ferinas que dizem coisas maldosas sobre o senhor, amém.

Ó Deus do Trabalho, guia minha mão até a fria ferramenta com que criaste teu império. Quero que minhas costas suportem tua ambição, que eu possa servir de base, cavalinho alazão. Ó, se precisares, não se furte em pedir, concedo-lhe o direito de três bicas no meu traseiro desferir. Obrigado por me fazer não sentir dor, amém.

Ó Deus do Trabalho, me ocupe, me preencha, me domine, me sodomize (se assim desejar). Só não deixes que as horas mortas contaminem meu espírito altruísta, minha obediência espartana e meu dócil jeitinho de curvar-me em reverência plena, amém.

Ó Deus do Trabalho, proteja-me das tentações e dos advogados sem pudor. Como bem me ensinaste, em todos esses anos de sincera amizade, ações trabalhistas são primas de Satanás e só trazem desarmonia às boas companhias, amém.

Ó Deus do Trabalho, poupe-me dos domingos e feriados. Almoços com a família? Namoro no cinema? Não, não, não. Imploro de joelhos, não permita que eu caia nesse tipo de armadilha. Mantenha-me no emprego, junto do seu colo quente e acolhedor. Não desejo sair deste ninho, nem da frente do computador. Transborde-me de tarefas, missões e desafios e, se possível, encurte meus prazos. Só quero ser eficiente, amém.

Ó Deus do Trabalho, saiba que a criatividade espreita feito um porco espinho em pânico. Não dê asas aos meus devaneios, não permita sequer que eu ouça música durante as horas de louvor. Faça com que eu decore e adore o meu próprio holerite - e, e isso é muito importante, não inveje o holerite do próximo. Por mais que me esforce, nunca trabalharei tanto (e tão bem) como o senhor, amém.

Ó Deus do Trabalho, perdoai meu cafezinho, meu cigarrinho em horas impróprias e até aquele desvio (que horror, que horror) denominado almoço. Faça com que eu engula minha ração diária em, no máximo, 15 minutos, amém.

Ó Deus do Trabalho, inspire-me a produzir e produzir de forma constante, contínua e concentrada. Faça de mim uma criança asiática, daquelas empregadas em fábricas de tênis ou em confecções de moda. Quero ser sua imagem e semelhança. Embora nunca, em nenhum instante, sonhe em almejar seu cargo. Serei sempre o seu servo, amém.

Porém, ó Deus do Trabalho, chegará o dia em que, carcaça cansada, vísceras retorcidas e sangue aguado, não servirei mais aos seus propósitos. Cumprirei então a profecia da sarjeta, do pires na mão e do abençoado Fundo do Poço de Garantia - que, espero, tenha sido depositado religiosamente, amém.

domingo, 6 de junho de 2010

Memória Cinematográfica



















      Sexta-feira faz chuva e sol, as raposas estão se acasalando e não querem que ninguém as perturbe, mais uma vez acordei atrasado para ir trabalhar, o relógio da porcaria da televisão estava errado, acordei vinte minutos mais tarde com a moça do tempo falando em nuvens, neblinas, sombras, dia da marmota e outras coisas que não faziam o menor sentido na minha cabeça que latejava. Minha sobrinha de um ano e meio não me deixou dormir, chorava, esperneava e se debateu até que seu carrinho descesse as escadas e encontrasse meu vizinho, um senhor que essa semana irá receber uma honraria na universidade que leciona, por seus anos, aliás, décadas de carreira, é alguma efeméride, acho que são cinqüenta anos. Ninguém se machucou apesar de meu vizinho ter achado que tinha quebrado o fêmur, mas, já esperava algo semelhante vindo dele, hipocondríaco irritante que uma vez causou tumulto porque pensara que uma mancha escura em sua camisa se tratava de um melanoma.

      Apressado, preferi ir tomar café ao lado de uma joalheria que tem perto do trabalho,  já na empresa percebi um clima de agitação, era dia de entrevistas para contratar novos empregados. Lembro me bem como foi minha entrevista...Uma serie de perguntas estúpidas e invasoras, logo de início a pessoa quis saber a minha data de nascimento, eu lhe informei, aí então o cretino inquiriu: “qual a sua idade?”, não agüentei e depois de um “faça as contas oras”  ,  preferi responder da maneira mais protocolar possível os outros questionamentos, afinal, precisava do emprego.
     Saí para almoçar um pouco mais tarde que o habitual, o restaurante já estava cheio, achei que mesmo assim conseguiria almoçar sozinho quando vi uma mesa vazia, mas, logo depois de eu me acomodar, veio um casal que pediu licença e se sentou na minha frente.  Não satisfeitos em compartilhar somente a mesa começaram a discutir sua relação, até o marido dizer: “E aquele caso que você teve não conta?”, a esposa retrucou: “Caso? Não foi um caso, foi apenas um breve interlúdio de infidelidade, e, aconteceu há anos!”, depois disso preferi deixar os dois a sós, guardei meu chocolate para o jantar e voltei pro serviço.
     Pouco antes de ir embora tive que protocolar um documento no palácio dos bandeirantes, nunca havia entrado lá, muito bonito, uma moça chamada Silvana me acompanhou até a sala em que eu deveria ir, uma excursão que me lembrou o filme “A Arca Russa”, um lugar enorme, com muitas estátuas e ornamentos, tudo muito branco e brilhante, além disso, havia uma escada bem parecida com a do hotel de “O Iluminado” (versão Kubrick).     
     Bom finalmente após isso pude voltar para casa e assim terminar de ler “Adeus Meninos”, não sei se sou aquele que sabe viver e se isso foi interessante mas é assim que me lembro do dia de ontem, e, poderia lembrar bem mais e melhor se não tivesse doente e me sentindo frágil tal como Abacuc em sua ultima jornada.

                                                              Sábado, 25 de Maio de 2010

Por Vlad Galli

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Veio um segurança procurar você

Cheguei do supermercado, carrinho cheio de compras e cabeça na lua, quando a Elisa, que trabalha comigo, falou assustada:

-Marcela, veio um segurança do shopping e uma moça aqui atrás de você.

Fiquei tão assustada quanto ela. Mas como é essa moça? O que ela disse? Que horas? Eles disseram se voltam? Na falta de respostas, fui atrás do tal segurança. Grande, forte, negro, como ela falou. Não achei.

Fiquei martelando o que seria. Na melhor das possibilidades, algum cliente procurando uma chave perdida. Mas não, perguntaram pela Marcela. Eles sabiam meu nome. Isso cheirava problema. Um carro riscado no estacionamento? Não, faz tempo que não faço barberagens. Mas e se bateram no meu? Corri lá pra verificar. Tudo certo, nenhum arranhão. Pelo menos nenhum arranhão novo.

E se fossem assaltantes disfarçados? Será que eles acham que eu tenho uma chave do cofre, algo assim? Mas aqui nem tem cofre. E se fossem seqüestradores? Eu não sou seqüestrável, mas eles não devem saber. Até explicar eu já estaria presa em um cativeiro.

Tentava me controlar, “vai ver é algo mais leve, algo que eu sai do supermercado sem pagar”. Tem aquela moça da loja de bolsas, aquela que eu briguei. Vai ver veio tirar satisfação. Mas e se ela contratou um segurança pra me bater? Melhor ficar quietinha aqui dentro.

Já estávamos no fim do dia, eu com a cabeça cheia de especulações, quando o moço da manutenção me chamou. “Ei, você é a Marcela, né?”. Era ele o tal “segurança”.

-Ah, é você estava me procurando com uma moça?

-Sim, é que falaram que você está colecionando figurinha da copa e a gente veio trocar. Você tem o Kaká?