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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Milton, O Alter-ego do poeta que nunca existiu.

Milton acorda. Uff, estou vivo. Aqui estão  as mãos, as pernas, enxergo bem, respiro, aqui o meu pau rosa, minha pinta oculta. Está vivo, confere? VIVO!
Milton acordou pensando em poesia. A orgia no sonho o deixou inspirado. Mas sonhos não se contam, nem para terapeutas nem para leitores. Sonho é meu, somente, eu.
Milton é como eu mesmo. Nasceu no dia que aquela bruxa disfarçada de escritora jogou no lixo minhas poesias, quase literalmente. Nem eu nem Milton ficamos bravos, estávamos suficientemente entretidos em olhar pela fresta entre a saia curta e as pernas da bruxa A bruxa nunca me quis e o Milton se vingou dela.Gracias Milton por ser tão valente, negar-se a uma mulher é um dom concedido só aos alter-ego. Homens não poderiam fazer isso, vá contra as leis que ditam o fluxo do humano.
Então Milton espreguiça o corpo e sente a mulher perto dele. Milton gosta de dormir acompanhado, mesmo que o espaço no colchão fique pouco para dois corpos lado-a-lado. A pele dela é lençol de seda, crispa no tato quente do Milton. Eu fico na inveja e assopro no ouvido dele o desejo contido do meu ventre. Quero mais, Milton, você tem que querer sempre mais. Mas alter-ego não tem essa de querer mais, só quer aquilo mesmo: fémea, movimento avulso do corpo, suor, algo de raiva e gozo, muito gozo.
Milton não serve para escrever. Ele vive somente com sonhos e é feliz assim.
Passa a mão na menina que respira delicadamente sobre o rosto dele. Um tesão do caralho. Um tsunami ventando nas janelas. A fome dos dez desertos do celibato. Não aguenta, e entorta o corpo à procura de todos os cheiros.Para Milton – e para mim – não há vida sem cheiro. O que não cheira, não vida!
E assim fica, ele cheirando aquela vida toda dentro da menina, dormida e cúmplice, e eu, poeta morto escrevendo a vida que ele vive.
se quer saber mais sobre esse tal do Milton, segue o link > http://entreduaslinguas.wordpress.com/tag/milton/

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Borandá

Após quase três anos sem ir, voltarei a meu país de origem, Cuba – de visita somente. Nestes seis anos vivendo neste país, numa outra língua, numa outra realidade e cultura, estive lá ao todo menos de dois meses... pouco, pouquíssimo é pouco.

Nunca até eu sair de lá me imaginei morando num outro país. Vontade de conhecer outros lugares, obvio, sempre tive. Porém aceitar este estado  (migratório)  de emigrante, nunca me passou pela cabeça.

Emigrante é coisa de doidos. Você – eu no caso – tem que abrir mão de toda memoria, de todo passado, dos amigos, da família, dos costumes. Esquecer, não por opção, aquilo que formatou seu corpo e sua identidade – coisa dura, quase cruel. Somando, que no caso do português, aprender outra língua e toda a realidade que ela nomeia é das coisas mais intensas que jamais viverei – e eu vivi.

Nesse processo eu me descobri uma pessoa nova, uma espécie de metamorfoses que fez nascer um novo eu, este eu que sou – e escreve. Isto tomou tempo, lágrimas, pesadelos, mortes.

Eu nasci cubano, por procedência. E me fiz brasileiro, por experiência.

Mas quem já abriu mão das lembranças de infância, da adolescência, dos primeiros amores; quem esqueceu o acento cubano, a melodia que uma vez teve enraizada na memória, quem não sofre mais pela distância daqueles que uma vez foram as pessoas mais queridas, sabe e sente, que é possível começar tudo de novo... NÓMADE.

No Brasil – e este português que escrevo e me invento – tenho um filho. Estaca de tempo e espaço que marcará para sempre minha origem. Renasci no corpo de um moleque, um baixinho de hoje três anos que fala português, um pouco melhor que eu – pais aprendem sempre dos filhos, completam-se, isso é certeza. Hoje toda incerteza de aonde vim e aonde vou tem ao menos um ponto de apoio, uma bandeira em haste levantada para não perder os rumos.

Em menos de dois meses ficarei naquele país flutuante por três meses, quebrando meu recorde histórico de estadia desde que uma vez, há 6 anos, sai de lá. Irei nessa calma de quem não tem pressa em voltar. Irei no ganho de quem não tem o que perder, entregue a preguiça do amanhecer, do mar batendo no encoste sem urgência do pôr-do-sol, sem a agonia de voltar ao lugar do qual já me despedi sem sabê-lo, para nunca mais voltar – quem sabe uma surpresa do destino, esse malvado favorito. 

E o baixinho, mi hijo, abraçará a terra úmida daquele outro país. Ainda sem total consciência, ele fechará um ciclo, o do pai- filho/pai- meu filho, numa sequência sem mais lógica que a do amor paternal, e ficará registrada a existência dele num lugar ao qual, se ele escolher, lhe pertencerá.

Borandá... 



domingo, 18 de agosto de 2013

Raras maneiras de me sentir em Cuba (e um cabo submerso)

Já se imaginou Brasil meu, vivendo neste mundo moderno sem internet? Já pensou, sem nosso federal “ponto com ponto br”? Sem seus acesos a redes sociais, suas contas onlines ou aquele filminho básico no youtube? Já se imaginou sem ler o Blog das 30 pessoas
Quem nasceu em Cuba tem “um” que a mais nesse árduo treinamento contra um mundo aonde necessidades suprem outras necessidades. Vivi 27 anos sem internet e ainda hoje, pouco mais de 11 milhões de cubanos vivem sem esse recurso tão importante da comunicação e os negócios.
“Não é possível”, dirão uns.
Pois é, internet em Cuba se limita a velocidades ultrabaixas de transferência de dados numa rede interna que obviamente é controlada e vigiada pela Seguridad del Estado. Edifícios públicos, universidades, centros ligados à pesquisa médica ou técnica, alguns poucos centros culturais servem de ponto de acesso a um mundo afastado a megabytes de distancias com conexões discadas e instáveis. A interfase do poderoso google  demora mais do que passar um café para os seus convidados.  Hotéis e um que outro cybercafé, exibem com luxo seus 256 Kbps e cobram pouco mais de 6 pesos conversíveis cubanos (CUC) por hora se você quiser se usufruir do seus serviços.
Já o endereço eletrônico termina parecendo mesmo uma piada: PONTO COM PONTO CU. Um “cú” mesmo.  Uma grande bosta.
Essa internet é chamada como INTRANET, ou seja, uma conexão interna, fraca, sem liberdade de pesquisa, seja pela pouca qualidade do serviço seja pela censura de acesso a sites internacionais.
Essa pouquíssima relação com internet me faz quase um aleijado virtual. Uma relação de vítima do mundo atual. Eu, e meus onze milhões de conterrâneos nascidos e criados nos últimos anos na ilha.
Ter internet – ou mesmo Intranet - te faz uma pessoa querida, visitada, potencialmente poderosa. Os amigos ou amores ou tua família, farão comuns suas visitas na sua casa, ou mesmo, no seu emprego com o supremo objetivo de dar aquela “revisadinha” no gmail, escrever nem que seja uma frase na sua linha do tempo facebokiano, quem sabe fazer uma pesquisa de como viver num outro país, máximo resolver algo relacionado ao seu mestrado ou ao trabalho de curso de um de teus priminhos.
Eu criei minha primeira conta de correio eletrônico no ano de 2002 ou 2003. Era um yahoo que demorava no mínimo meia hora em abrir a interfase. Era meu nascimento virtual: dmisrock@yahoo.es. Assim troquei minhas primeiras mensagens com universitários norte-americanos que conhecera num intercambio de escritores em La Habana. Assim escrevi minhas primeiras paqueras virtuais. Assim, depois do arcodecello@gmail.com, me mantive em contato com a Natalia depois que nós conhecêramos numa tarde habanera e até que nós voltamos encontrar um ano depois.
Anos depois, eu já morando no Brasil e os meus pais ainda em Cuba, passávamos longas temporadas sem podermos comunicar via web. Minha mãe pouco acostumada com essa situação foi quem mais sofreu até que meu pai decidiu pagar uma “cuenta”. Isto é, pagar para alguém que tendo autorização de instituições, conseguia colocar um ponto de acesso na sua casa. A taxa correspondia a uma porcentagem do tempo total de acesso que o dono da conta possuía e com o qual, meus pais, poderiam ler e escrever correios eletrônicos, receber as fotos do seu filho na sua nova pátria e sua nova família. Se a irregularidade era descoberta o dono da “cuenta” perdia-a e ainda poderia ser reprendido pela a empresa que o empregava.
Até hoje se escuta a lenda de um tal cabo de fibra ótica submerso que vindo da Venezuela – na era Chávez – traria finalmente a liberdade virtual à ilha (isso considerando que o problema de internet é que os Estados Unidos bloqueiam o acesso). Até hoje não sei qual é a real desse cabo, porque de fato não teve em Cuba nenhuma mudança que permita aos meus pais ou qualquer outro cubano comum de acessar a internet livremente.
Nas últimas semanas tenho me sentido em Cuba. Nem o calor nem a censura política exatamente foram as causas dessa sensação. Depois que a Mari, que dividia o cafofo comigo, saiu de casa, o dono do imóvel – um quartinho num cortiço na Vila Gomes – ele tirou o wi-fi. Sem grana para novos contratos, à espera de mudar de novo fiquei sem o sagrado contato virtual. Treinado às antigas, virei usurpador de redes, minutos roubados de conversas reais para me conectar no virtual. Deixei um pouco de lado este blog. Minha mãe de novo se preocupou. Mas fazer o que, o jeito mesmo é viver. BEM VIVER... 
(abril, 2013)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Sem X no tabuleiro da morte

A MORTE é o primeiro recurso diante da crise. Sem corpo nem véus escuros, ela se apresenta quando parece que não existem saídas para a dor ou o vazio. A morte é a desistência humana para cada instante que deixamos de estar aqui, em presente do agora, prontos a fazer uma escolha e, alheios aos destinos de um passo dado ou de uma frase dita, recuamos diante das consequências: nossos destinos.

Então a morte manda um beijo e um até logo...  e faz um “xizinho” no tabuleiro.

A maioria - a maioria é gente - acha tédio ficar em cima do seu cavalinho, decidindo o que é e o que resulta da sua existência. Deve ser um saco se deparar com a frustração de viver sem sentido, guiados pelo desejo social do “angario” e pelos “modelitos” visuais do momento.  

De fato todos – nenhum de nós escapa – tem sua referência de comportamento, seus deuses, seu cartão de crédito.

Yo mismo, quando descobri minhas próprias asas, confiei na direção do vento e na temperatura da sombra ou da luz para me decidir em algumas situações. O olfato para descobrir os perigos. O olho grande aberto para resolver a bifurcação. A paz para me achar no caminho. E a simplicidade para aceitar ou rejeitar minhas decisões e suas consequências.

Até hoje dá certo – ao menos para mim – desse jeito... porém a vida e os homens pedem mais do que isso.

Quando se pensa na vida, olhando para trás, não temos escolha, sabemos exatamente o porquê de estarmos neste lugar, humano e temporal. Cada exato segundo, sem julgamento, pertence a este nosso corpo, a esta nuestra vida nossa. Aceitar essas condições é essencial para abraçar a morte, lhe dar um beijo e vê-la partir na maior paz.

Somos feitos de escolhas: nossos passos dados, nossas frases ditas.  

[música para continuar lendo] 




Até que um dia chega um filho, não importa os fluxos que nos levaram até eles. Todo feito e todo discurso, cobra um novo sentido e mais, novas consequências. Neles que se tem um reflexo daquilo que fomos quando crianças e neles que vemos nosso espelho de futuro. Qualquer alegria é dupla. Qualquer tristeza é imensa. Toda dor é gigantesca. O amor, infinito.

A morte então vira parceira porque os instantes, todos, são indispensáveis, únicos, esplêndidos e a “gente” vive – com dois ou mais corações – como se não houvesse depois, nem amanhã. Tudo é agora, dádiva.

Então a morte se desvanece; se desfaz em sorrisos e choros. Em brincadeiras. Insônias. Pequenos bocados feito aviõezinhos. Em filas, festas, frestas de sol brilhando no escuro de um quarto. Na pessoa que a partir do começo, aberta as pernas e a vida, caminhará lado a lado até certa despedida. Única despedida que, mesmo que dura ou sombria, não conhece a morte na sua partida.

Padre es hijo... y viceversa.




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