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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Precisamos falar sobre a Mônica

Dizem que o amor é cego. Quando amamos cegamente deixamos de olhar criticamente para o objeto de nosso amor e fazemos vistas grossas para seus defeitos, às vezes bem evidentes para um observador neutro. Penso que o mesmo ocorre com nossos ídolos, sobretudo quando ele carrega o peso da nostalgia de nossa infância. Admito que tenho grande dificuldade em criticar e "falar mal" das coisas que venerava em tempos que eu não tinha o senso crítico assim tão apurado. Somente esta cegueira crítica justifica o fato de eu sofrer quando o time de futebol para o qual torço (uma empresa capitalista) perde um jogo, ou ainda, o fato de eu achar perfeito cada verso composto por minha banda de rock favorita (reparando bem, alguns são incrivelmente ruins). Digo isso, porque o objeto de minha crítica de hoje é um grande impulsionador da cegueira crítica, justamente por dialogar com e por permear o imaginário de pessoas que, por definição, não possuem o senso crítico assim tão apurado, a saber, as crianças.

É desejável, no entanto, que a cegueira crítica acabe um dia. Argumentos do tipo "mas isso é da tradição daquele país" ou "ah, mas isso passa de pai pra filho, foi sempre assim e tem que continuar sendo" ou ainda "isso é só uma licença poética para a coisa ficar mais engraçada" são bem típicos da cegueira crítica e não combinam com uma sociedade democrática e plural. Lembremos que sociedades totalitárias também adoram a "tradição".

Por isso, amigos, precisamos falar sobre a Mônica. Sim, fui e por vezes ainda sou, leitor da Turma da Mônica. Em algumas oportunidades, inclusive, fiz vários elogios ao trabalho de Maurício de Sousa  e sua equipe (alguns desses elogios, admito, fruto de minha própria cegueira crítica). Entretanto, não posso deixar alguns problemas desastrosos passarem ilesos. Estou falando de um produto presente em uma infinidade de casas e em quase todas as escolas brasileiras e voltado para um público sem condições de dialogar de igual para igual com aquilo que está lendo ou assistindo. O que está ali é recebido como exemplo por este público.

Acredito que é bastante falacioso achar que a Turma da Mônica é inclusiva porque tem um ou dois personagens negros, uma personagem com síndrome de Down, um com deficiência visual e um cadeirante. Podia não ter nada disso e ser mais inclusiva do que é. Se a preocupação da Turma da Mônica fosse realmente respeitar as diferenças, a Mônica não seria constantemente ridicularizada por ser "gorducha e dentuça", o Cebolinha por ter pouco cabelo e língua presa, o Cascão por ter cabelo "duro" e por aí vai. E o pior, essas características são reiteradamente apontadas e são o elemento "cômico" de boa parte das histórias. Ora, crianças de 5 ou 6 anos não possuem outras características, que não as físicas, para serem retratadas? Como uma criança com sobrepeso se sente ao ver que os insultos que porventura recebe na escola são representados com tanta naturalidade na revista que sua professora acha tão bacana?

E o que dizer da sexualização precoce e das relações de gênero? Convido vocês a verem o vídeo abaixo: 


Mônica termina de tomar banho quando percebe que deixou a roupa em seu quarto. Para chegar ao quarto, no entanto, teria que atravessar a sala. A questão é que percebe atônita que no sofá de sua sala estão Cebolinha, Cascão e Ronaldinho, o "paquera" de Mônica. A grande trama da história é descobrir como Mônica fará para atravessar a sala sem ser vista pelos meninos. Em primeiro lugar, não posso deixar de questionar o estardalhaço em torno da nudez compartilhada de crianças de 5 anos (pra quem não sabe, essa é a idade que eles têm). Que o pudor existe, existe, mas justamente porque é culturalmente construído e incentivado através de historinhas como essa. 

Em segundo lugar, e para exemplificar o que já disse antes, Ronaldinho, o menino-sensação da turma, é loiro de olhos azuis e para se referir a ele, Mônica não diz "que menino inteligente" ou "que garoto simpático", mas diz "que olhos, que cabelos...", isto é, seja para depreciar, seja para elogiar, parece que na Turma da Mônica somente as características físicas é que importam. E, voltando à falácia da inclusão, os personagens negros estão lá, mas ainda são os loiros de olhos azuis que recebem o protagonismo. 

Em terceiro lugar, vocês repararam bem o que Mônica fala no instante 2:28? "Se ele me vir assim tão desarrumada, minha paquera vai pra cucuia". Sim, desde os 5 anos (ou antes) meninas aprendem em casa, na rua, nas histórias em quadrinhos,  que precisam se arrumar impecavelmente para que sua "paquera não vá pra cucuia". A fala seria a mesma se fosse um menino "o desarrumado"? Tenho certeza que não. E a coisa só piora. No instante 6:39, Mônica ("aquela boboca dentuça", conforme descrita por Cascão no instante 5:04) reflete sozinha quando finalmente consegue chegar em seu quarto sem ser vista: "Os meninos são todos iguais. A gente se arruma com carinho... se prepara toda... e na hora 'H'... eles dormem". 

Não sei bem qual seria a hora H imaginada pelos roteiristas de Maurício de Sousa, mas sei que passou da hora de olharmos para historinhas inocentes como as da Turma da Mônica com um olhar mais crítico. Se queremos uma sociedade livre de sexismo, racismo, classicismo e qualquer outra forma de autoritarismo, precisamos que isso seja feito desde a infância. E não de forma hipócrita como faz a "falácia da inclusão", mas de forma plena.


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Retrospectiva dos dias 22 em 2015

Precisamos falar sobre a Mônica

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Ode ao texto ruim

Oh, tu, que não pedistes pra vir ao mundo
Mas que foi trazido por fórceps
E tem aspecto de natimorto.

Oh, tu, que não diz nada a ninguém
Que melhor seria se não fosse
Que já vai tarde
Antes mesmo de chegar

Oh, filho do desespero
fruto da falta...
...de assunto
...de tempo
...de propósito!

Oh, dissertação escrita
no fechar das cortinas,
no limiar das horas,
no enterro de Inês...

Oh, tu, que não tens concordância,
Que não tens forma e tampouco conteúdo,
Que se perde em argumentos falaciosos
e vãs digressões...

Não te envergonhas do desperdício de tempo que me proporcionas?
Não te envergonhas do pobre papel,
que a vida lhe entregou 
para que tuas dispensáveis palavras
fossem impressas em sua pele frágil?

Oh, texto ruim...






domingo, 22 de dezembro de 2013

De como deixei de acreditar em Papai Noel

Não, "acreditar" não é a palavra. Isso porque eu jamais coloquei em dúvida sua existência. Para mim o Papai Noel existia, assim como minha mãe existia e assim como eu próprio existo. Não era o tipo de coisa que dependia de algum tipo de crença. Ele não existia. Ele ERA.

Era todo ano a mesma coisa. Conforme os ponteiros do relógio iam se aproximando da meia-noite, os adultos, devidamente mancomunados, iam trocando olhares suspeitos. Como ninguém em minha casa tinha fantasia de Papai Noel, os ardilosos mandavam minha irmã e eu nos escondermos no banheiro "já que o Papai Noel teria uma longa noite pela frente e não tinha tempo de cumprimentar cada criança de cada casa"- diziam. 

Até hoje não entendo como este argumento mequetrefe nos convencia: lá íamos nós, com o coração aos pulos e a curiosidade nas alturas, nos trancar no pequeno banheiro dos fundos. De repente uma campainha tocava (sim, os malandros pensavam em tudo e sim, minha casa não tinha chaminé), uma conversa era forjada entre os adultos e o Papai Noel (sim, ele não tinha tempo para cumprimentar crianças, mas ficava de papo furado com os adultos. Velho hipócrita!). De repente, um murmurinho indefinido e um silêncio. Daí, alguém mandava nos chamar! Atravessávamos a casa antes de alguém conseguir dizer "ho ho ho" e lá estavam os presentes que o velhinho gorducho nos deixara (os melindrosos ainda tinham a sutileza de deixar um copo de refrigerante pela metade, para simular que alguém muito apressado o bebericara).

A farsa deu certo por 7 anos. 

No início do oitavo, o SBT estreava o programa dominical Hot Hot Hot, apesentado por Silvio Santos. Este fato, aparentemente inocente, transformaria para sempre os hábitos natalinos de minha família. Numa certa ocasião, em uma atração voltada para crianças, Silvio Santos entrevistava o ator-mirim que interpretava Julinho em Éramos Seis (a melhor telenovela de todos os tempos, segundo meu próprio julgamento e sim, minha família assistia muito SBT naquele tempo). Papo vai, papo vem, até que o proprietário-apresentador pergunta: "Má oi, Julinhoam, hihi, oi, vem pra cá, quando você deixou de acreditar em Papai Noel?".

Um filme se passou na minha cabeça em questão de segundos. O banheiro. A campainha. O refrigerante.

A verdade veio à tona. Me senti como Truman (em "O Show de Truman. O show da Vida"), quando seu barco se chocou no cenário que era seu mundo.

E foi assim que deixei de acreditar em Papai Noel e passei a acreditar em Silvio Santos.


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Retrospectiva dos dias 22 em 2013



sábado, 22 de dezembro de 2012

Sincretista

Vai no macumbeiro
Na adventista
Ora o dia inteiro
Quer virar papista

Saca dinheiro
Vira dizimista
Com seu carro esporte
Vai na Metodista

Final de semana
Silas Malafaia
Mas quando se encana
crê em deusa Maia

Vai pra mesquita
até de ressaca
Vira Hinduísta
E adora vaca

Sincretista, sincretista
Sincretista, sincretista
Sincretista...
No candomblé... 

Sincretista, sincretista
Sincretista, sincretista
Sincretista...
Vai onde quer! 

Sincretista, sincretista
Sincretista, sincretista
Sincretista...
Consulta o xamã... 

Sincretista, sincretista
Sincretista, sincretista
Sincretista...
Filha de Iansã!


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Retrospectiva dos dias 22 em 2012

Sincretista