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terça-feira, 27 de março de 2018

Homem Vitruviano

Eles estavam há mais de duas horas ali. Na mesa, garrafas de litrão se acumulavam. Seu João se aproximou cuidadosamente, como se não quisesse incomodá-los:
-O bar está fechando... Vocês podem acertar a conta?
Saíram ainda inflamados pela discussão. Ele gesticulava muito. Ela sorria ironicamente.
-Vocês não entendem! Há algo muito maior do que todas essas questões de identitarismo. Vocês estão sendo usados para nos enfraquecer, nosso alvo maior é a economia, deve ser ela, estamos brigando por bobagens – ele dizia inconformado.
-Bobagens? Minha liberdade é inegociável, vou brigar por ela no primeiro plano, não vou deixar pra depois. Você diz isso porque é homem e branco. – Após uma pausa, ela disse calmamente: “Você não entende os próprios privilégios...”.
 -Sabe, é isso que ta insuportável! A gente não pode mais conversar sem vocês apontarem o dedo “porque eu como mulher”, “porque eu como negro”, “porque você como homem branco”... Cara, não dá, a gente não consegue mais conversar sobre política ou qualquer outra coisa sem ouvir isso. Qualquer opinião que eu dou, lá vem o dedo me apontando. O cara dá uma “escorregada” e pronto! Já é linchado, sem levarem em consideração todo o seu histórico e o que ele fez pela nossa causa. A mina é assassinada porque estava brigando com os grandes da corrupção policial e política e só falam que ela era negra, da periferia, lésbica, como se isso tivesse alguma coisa a ver... Eu te amo, mas odeio quando você fica com essa sua cara arrogante! Por que a esquerda...
-A esquerda?! Diga, meu bem, como nós acabamos com a esquerda unificada e forte, pronta para iniciar a revolução!
-Tá vendo! Como vamos construir algo assim?
-Exato! Como vamos construir algo assim? Sabe qual é a novidade? Vocês, homens brancos de classe média/elite, nunca se deram conta de que são a régua padrão para tudo simplesmente porque o seu corpo tem passe livre. Vocês nunca se deram conta de que os corpos são marcados socialmente, que quando alguém me vê, o meu corpo chega antes do meu argumento porque vocês nunca viveram isso até agora. Mas se aplica a vocês também. O lance é que vocês dispõem de uma falsa neutralidade, que é de dominância.
-Eu sei, mas acho que vocês exageram, porque tem gente que é muito radical e aonde vamos parar? Você não acha?
-Não.
-Você não acha radical?!
-Não. Acho que sem questionar as coisas na raiz, nunca conseguiremos avançar. Eu não quero lutar por uma sociedade justa ao lado de pessoas que não me enxergam e não me tratam como par. Que me interrompem quando estou desenvolvendo um argumento, que me tratam como se eu fosse uma criança, explicando coisas que obviamente sei, que me assediam de forma constante e inoportuna...
-Mas e a paquera?
-Não. Eu me recuso a falar disso de novo. Chega! Estou cansada. Meu ônibus está parado ali, eu vou indo.
Ele baixou a cabeça chateado.
-Você não vai me dar nenhum beijo? – Ele perguntou sem jeito, sem se sentir seguro o suficiente para tocá-la.
Ela o encarou e sorriu.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O circo facebookiano.

Sempre que surge algum assunto polêmico, imagino o Facebook como um grande auditório abarrotado de gente e uma única pessoa no palco que, chamo mentalmente de comunicador. O comunicador informará o tema daquela reunião. Muitas vezes, o comunicador não consegue terminar de contar o assunto abordado. É interrompido por gritos, pessoas falando alto, gente subindo em cima das cadeiras tentando liderar e no meio daquele auê caótico, há aqueles que estão num canto observando e saindo discretamente, rumo ao lounge.

Ah, o lounge com um agradável silêncio, café, mesas esperando os calmos fugirem daquela loucura. É ali que estão as pessoas mais interessantes, aquelas que vão dialogar a respeito da polêmica, ouvindo uns aos outros e onde resolvo deixar minha mochila e ficar. Mesmo que antes, tenha gritado e empurrado alguns dentro do auditório.


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Polemizando na net

Se você ainda não percebeu, a moda agora é ser polêmico; e eu não estou falando em Mamééééélos, pois este sim é um assunto polêmico.

Algum tempo atrás eu tive o desprazer de assistir um vídeo anônimo que criticava o tal do kit gay que estão querendo distribuir para as escolas. O vídeo narrado por alguém que se intitula “O mascarado polêmico” deixa claro que seu objetivo é lutar por uma sociedade igualitária e mais justa – mesmo que isso seja feito por trás de uma máscara e pela militância virtual.

Pra quem ainda não se interou do assunto, o conjunto de materiais didáticos que tratam sobre a homoafetividade, apelidado de “kit Gay”, tem o objetivo de discutir a temática dentro das escolas e contribuir para esclarecimento e educação sexual das crianças. Acho interessante a iniciativa de trazer a discussão para dentro das escolas de um assunto que a vida toda existiu por baixo dos panos. O que não vejo nada de interessante é a forma como vem sendo feito, precocemente, com uma temática que é complicada para adultos e mais ainda para crianças de 7 a 10 anos.

Esse é apenas um dos pontos em que não concordo, assim como não concordo com a forma e as práticas de implementação da maioria dos projetos feitos pelo governo atual e pelo anterior. Inclua aí a já famosa cartilha didática com a (boa) intenção, entre outras coisas, de diminuir o tão presente preconceito linguístico em nosso país.

Apesar de ser uma longa e complexa discussão, o fato maior que me chama a atenção é o fenômeno da não autoria. Com a internet colaborativa 3.0, 5.0 ou #1milhãopontoodiaboaquatro, o número de pessoas que produz conteúdo ainda é muito pequeno e isso faz com que a maior parte das pessoas repassem, divulguem e dêem respaldo a conteúdos de outras pessoas. Até aí tudo normal. Quantas vezes não citamos Chico Buarque, nos descrevemos no profile do Orkut usando Vinícius de Moraes, ou exteriorizamos nosso dia no MSN com frases do Pessoa, Drumonnd ou repassamos os famosos textos que supostamente são do Jabor.

O que eu vejo de perigosos nisso é o fato das pessoas repassarem um vídeo nas redes sociais de um ser que fala em “ditadura influenciativa” e compara o ensino nazista no período de Hitler com o ensino da educação sexual – que por si só envolve as questões homoafetivas – afirmando que precisamos proteger nossos filhos dessa moda para não serem influenciados a virarem gays, como se isso pudesse ser ensinado.

Será que todos os que adoram uma polêmica e postam vídeos como esses sabem que eles estão assinando seus nomes junto de uma pessoa que se propõe a uma discussão séria e sequer tem algum conhecimento mínimo sobre o assunto, sequer tem leitura ou informação, como diz um texto de Silvio Teles que li no site do O Globo, para saber que a grande repulsa da maioria das pessoas que não aceitam a homoafetividade é pensar que ela é uma escolha, uma opção. Entendo que um programa de conscientização da sociedade quanto a esse tema precisa, primeiramente, demonstrar que as pessoas nascem, ou não, homo ou bissexuais. Não se trata de escolha, nem de opção. É mais uma característica do ser, como o é ser negro, ser alto ou ter temperamento tal. Gostar de pessoa do mesmo sexo é uma reação instintiva, somática, de atração física, de desejo sexual, que, de modo algum, pode ser ensinado ou aprendido.”

Ainda na linha do polêmico que não são maméééloss, vi um outro vídeo que defendia a legalização da maconha usando como argumento os possíveis impostos e taxas tributárias que o uso legalizado da erva poderia gerar e consequentemente, tais valores, seriam revertidos em outros benefícios para a população em geral. Claro que muitos curtiram e milhares de “LIKES” foram distribuídos; Eu pergunto que argumento é esse? Alguém acredita mesmo nisso? E mais uma vez várias pessoas deram respaldo para um assunto que sequer leram a fundo e procuraram ter uma opinião mais profunda.

Claro que de certa forma também faço isso e minha timeline do facebook está cheia de vídeos e coisas que eu concordo e repasso.

A internet facilitou e muito a vida das pessoas, encurtou distâncias e proporcionou grande disseminação de boas ideias, mas por outro lado, facilitou a superficialidade em grande parte de assuntos. Grande exemplo disso é a popularização que aconteceu nas redes sociais envolvendo os nomes de autores como o Caio Fernando de Abreu e Clarice Lispector. Dois grandes escritores complexos e profundos que as pessoas “amam” aos montes e uma grande parte sequer leu qualquer uma de suas obras. Ótimo que a internet ajude a divulgação deles e de todos os outros bons autores, mas que haja incentivo para se aprofundarem.

Agora, voltamos com nossa programação normal.

http://www.youtube.com/watch?v=uJpUhN8WW80