sábado, 20 de fevereiro de 2021

Carnaval é liberdade


Em um dos meus primeiros textos nesse espaço, afirmei que não gosto de carnaval – essas bobagens que a gente fala e depois de um tempo percebe que não faz sentido. Segui contando sobre um ano em que aproveitei os cinco dias para me dedicar a um livro desses que mudam nossas vidas. Não me dei conta de que só pude me dedicar ao livro em tempo integral justamente por conta do feriado. Caso contrário, seriam dias de trabalho como os outros.

Hoje percebo que gosto de carnaval. Sempre gostei. Não gosto da ideia de passar cinco dias fantasiado, pulando, esmagado em meio à multidão, mas essa é só uma das infinitas formas de aproveitar o feriado.

Carnaval é liberdade. Costumo integrar o bloco do pijama e ficar em casa. Também tem o bloco da folia, que prefere enfiar o pé na jaca. Ambos são legítimos e podem integrar um bloco em comum, o da contestação.

Nos últimos dois anos os blocos de rua ecoaram gritos de protesto e resistência contra o governo, antes mesmo da postura genocida diante da pandemia. As escolas de samba desfilaram temas políticos e criticaram o fundamentalismo religioso, que ganhou força junto ao mesmo governo genocida.

Carnaval é liberdade, que somada a toda contestação da ordem, geram reação do bloco moralista. Eles martelam que carnaval é alienação até que a mentira pareça verdade. Nos dois últimos anos o feriado foi o principal foco de resistência de um país que precisa combater patriotas.

O bloco moralista é composto por patriotas que detestam os maiores símbolos do país. São patriotas colonialistas, moldados por séculos de exploração, que hoje rejeitam a ideia do próprio país ser protagonista.

Para o bloco moralista o carnaval não deveria existir. Nem nada da cultura popular, nem as religiões de matriz africana, nem o folclore nacional. É um bloco para o qual só deveria existir o trabalho, de sol a sol, enrijecido pela reforma trabalhista que, somada ao alto índice de desemprego, obriga os trabalhadores a aceitar migalhas.

Esse ano o carnaval foi triste. Não só pela falta de blocos e desfiles. Mesmo para mim, integrante do bloco do pijama, que com ou sem pandemia teria passado os dias em casa. Esse ano não teve liberdade.

Com quase um ano de pandemia, o trabalho se adaptou. Quem pode fazer uma transição para o home office passou a trabalhar em casa. Quem não tem como adaptar as atividades é obrigado a se espremer no transporte coletivo ignorando o vírus, já que não dá para ignorar o desemprego crescente.

Esse ano só o bloco moralista festejou. Os dias de folia viraram dia de trabalho como todos os outros. Sem festa. Sem descanso. Sem protestos. Sem liberdade.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

as formigas trabalham no jardim

São Paulo, quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021.

- as formigas trabalham no jardim - Cristina Santos - post 10 - Blog das 30 pessoas - 

título: as formigas trabalham no jardim

   Na infinitude do mar noturno, compreendemos que a vida é um mistério mágico que dá medo e prazer.
- que as tempestades lavam os vulcões;
- que algumas pernas possuem vasos sem flores;
- que lagartas transformam-se em borboletas;
- que só porquê uma pessoa é fã de Friends, não significa que ela seja legal;
- que as batatas das pernas são grandes fofoqueiras,e que adoram jogar conversa fora noite adentro;
- que há o tempo de cada um e também o tempo de todos.
   Friedrich Nietzsche escreveu: "É necessário um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante".
   Como mergulhar na autodescoberta que existe no caos?
   Já que não sei nadar, então apenas me resta pedir que não apaguem as luzes, pois as formigas trabalham no jardim. 

   Oiê! Espero que estejam bem 💙
   Até o próximo post.
   Beijos,
   Cristina Santos



terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Sobre o Tempo (e o vento)

  "O Guardião do Tempo e seus Capangas Relógios" 
 Jacek Yerka


    Por vezes tenho a nítida percepção de que estou inserido no tempo. Não sei se me faço entender, eu mesmo já tentei poemas e outras tessituras, mas sempre me escapa a imagem exata para descrever essa consciência. Essa: de que estou atravessado pelo tempo. Não se trata de reconhecer a marcha da existência humana, é uma sensação sem história, sem História.

    Não sei precisar a primeira vez que fui mergulhado no Tempo. Memória é coisa fugidia, como é próprio do tempo. Talvez naquela noite, criança ainda, em que deitei num domingo, pronto para dormir, e fui passando em revista como seria aquela semana. Escola. Brincadeiras. Visitas? A ideia da rotina começou a me assombrar: a visão de que se seguiriam dias divididos entre manhã, tarde e noite, enfileirados em segunda-terça-quarta-quinta-sexta-sábado-domingo, ordenados nos mesmos doze meses dos anos passados e futuros. Naquela noite não completei meu sono. Como poderia fechar os olhos sabendo que a ordem se repetiria com pequenas variações que, ao se repetirem também, seriam somente mais um aspecto dessa gagueira do tempo.

    Lembro um dia, véspera do meu aniversário de doze anos. Estava ansioso pela data, sempre gostei de aniversário, um ano-novo pessoal que deveria ser comemorado qual feriado sagrado. Calendário, eu sei, convenções para nomear aquilo que procuro compor com imagens. Ainda assim, aniversário é, para mim, um dia suspenso, o único dia que não tem nome nem número além do nome e idade de quem sopra velas. Pois bem, naqueles onze anos e 364 dias eu tomava banho, pensava no bolo que viria logo mais, as felicitações. E na fricção do sabão com a pele, o tempo me tomou outra vez (não é essa a imagem adequada) e atentei que aquela era a última vez que eu tomaria banho tendo onze anos. E segui esse mote: a última janta, o último filme, a última risada, a última meia-noite. Enfim, a primeira palavra dos doze anos...

    Pode parecer, mas não é nostalgia nem saudade, não é um olhar para trás sempre em despedida, nem uma mirada futura cheia de planos. É a pausa, ou antes, é um pouso no presente, no que chamaria de “presente absoluto” (se ao menos coubesse no meu dizer algo permanente, uma palavra estática que descrevesse a impossível fixação cronológica). Recorro sempre à busca por uma paisagem, algo que descreva esse mergulhar. 

    Houve uma vez em que, recém-apaixonado, estava abraçado com ela, conversando amenidades. Uma folha seca desprendeu-se da árvore sob nossas cabeças e veio caindo, espiral lenta rumo ao chão. Precisava contar para ela o que aquilo representava para mim, mas me atrapalhei na tradução e meu espanto transformou-se numa piada.

    Isso tudo me vem novamente no momento em que estou debruçado na janela (tentando disfarçar o isolamento numa uma tarde fresca de verão) e um vento gelado me beija o rosto. Um vento antigo, penso. A impressão de que aquele vento passou por ali, naquele mesmo espaço onde agora só os edifícios veem distâncias. Passou em outras ocasiões, assobiando para matos, levantando redemoinhos, transportando ciscos e talvez esfriando outros rostos. O mesmo vento, como se fosse o sol sobre o mesmo planeta desde o início, um vento de milhões de anos, um vento do início do ano, um vento para o próximo século, um suspiro do tempo na minha pele. E essa ainda não é a imagem que procuro.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Mês de resultados

Olá pessoal,

Todo dia 15, temos post sobre intercâmbio no UK aqui no blog. O assunto mais comentado aqui, é a bolsa de estudos Chevening para mestrado no UK. Essa bolsa de estudos tem um calendário bem regular e fevereiro é o mês dos primeiros resultados, para aqueles que se candidataram entre setembro e novembro do ano anterior.

Essa bolsa de estudos  é extremamente competitiva. Poucos dos que se inscrevem são convidados para a entrevista, e somente 2-3% efetivamente são contemplados com a bolsa. Tudo isso para dizer que matemática/estatisticamente é absolutamente normal que muita gente tenha um resultado negativo logo na primeira fase. Dos poucos que são convidados para a entrevista, também é normal que algumas pessoas não avancem para as próximas etapas. Como já dito várias vezes aqui no blog ao longo de 2020, eu mesma já compus o grupo de pessoas que recebeu uma resposta negativa do Chevening. Foi bem frustrante receber o não inicialmente, mas depois de um tempo acabou se tornando um aprendizado enriquecedor.

O post de hoje tem o principal objetivo de dizer que o "não" faz parte do processo e é normal. O resultado negativo de um processo seletivo tão competitivo como o Chevening não diz nada sobre quem você é, não te faz uma pessoa incapaz. Na verdade, o simples fato de ter tentado, mostra que você sonha alto e tem grande projetos. Certamente se você continuar tentando, seja a bolsa Chevening de novo, outras bolsas ou qualquer outra coisa que você decida fazer na vida, você achará o seu caminho e o seu lugar no mundo. 

Para os felizardos que foram convidados para a entrevista, meus sinceros parabéns! A luta ainda não acabou e agora é hora de se preparar para a entrevista. O melhor jeito de se preparar, no meu ponto de vista, é fazer o que chamamos de "mock interview", que nada mais é do que simular a entrevista. O mais legal é convidar colegas que se passem por entrevistadores e treinar com eles. Mas se não der, treinar sozinho na frente do espelho, no chuveiro, caminhando, também funciona muito bem.

As entrevistas geralmente acontecem entre abril e maio e os resultados delas começam a ser divulgados em junho.

Para quem não passou dessa vez e deseja tentar de novo, as inscrições devem reabrir em setembro. Fique atento!


Abraços apertados (de sinto muito ou de parabéns) e até o mês que vem.
Jacque.


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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Persistir

Quando eu era pequena me diziam que nada era mais importante do que persistir.
O que é persistir em um mundo tão ralo?
Ralo porque tudo parece frágil e rápido, como se escorresse pelas nossas mãos.

As pessoas insistem: persistir é o lema dos vitoriosos.
Mas o que seria a vitória em um mundo que parece se desfazer diante de nós? Onde fica o pódio? Qual é o prêmio final?

Sinto -como muitos- que o futuro ficou ralo e se desfez. Como diz o poeta ''o futuro não é mais como era antigamente''. Não é. Em alguns momentos parece não existir.

As coisas mudaram, trocamos o futuro por ''hoje está bom''. É assim que vamos, de hoje em hoje. 
Não sinto mais a necessidade de persistir em nada, já que por ''hoje está bom''.
Persistência não funciona apenas por um dia, é preciso mantê-la por anos, mas esses anos não parecem reais, então  ''hoje'' a persistência vai para a gaveta.

É só por hoje e está bom. Lidar com um dia por vez é suficiente.
Por hoje está bom.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

A descobertas das Tâmaras

Foi dia vinte três de dezembro de dois mil e vinte, eu experimentei tâmara pela primeira vez. 

Pode ser que não tenha sido “a” primeira vez, porque é comum esquecermos de tudo que provamos, pelo menos para pessoas que têm o hábito de provar. Sim, esse é um grande divisor de personalidades: pessoas que abrem a boca para o desconhecido e as que a fecham, para uma nova cor, textura e sabor. 

A tâmara é um teste perfeito para saber qual tipo de pessoa você é. A fruta geralmente é vendida desidratada, é mais comum encontrá-la em armazéns cerealistas do que nos mercados e sacolões, tem cor marrom escura e seca fica com a aparência enrugada. Minha mãe ao me apresenta-la fez o prenúncio mais impalatável possível:  "parece uma barata". O que não nego, parece mesmo. Por isso mesmo, é perfeita para o teste de personalidade. A gente descobre os alimentos pelos nossos cinco sentidos, talvez seja um dos poucos momentos que mais utilizamos todos eles. Na parte visual a Tâmara foi reprovada. 

Já a audição de um alimento, como seria? Aqueles tapinhas que damos com as pontas dos dedos para saber como reverbera lá dentro, se tem suco ou semente, ou quando balançamos a fruta próximo aos ouvidos. Bem, a tâmara fica prejudicada, pois retirada a sua água natural perde-se um pouco desse elemento, mas mesmo assim você não deixa de tentar. 

 O cheiro é bem fraco, quase inexistente, mas tem um leve odor adocicado. O que gera um bom prenúncio, para os amantes de açúcar, fui descobrir depois, a fruta é indicada na substituição de chocolate em dietas. 

E posso dar meu testemunho sobre essa parte: comigo funcionou direitinho. Já cheguei a comer uma barra de chocolate sozinha em poucos minutos, uma chocolatra, inveterada. Quando as pessoas ficavam assustadas com meu consumo de doces, em especial chocolate, eu tratava como algo indissociável a minha pessoa, um traço de personalidade. Nunca fiquei um só dia sem um bombom, ou bolo com cobertura, e confesso que geralmente consumia os dois e muitas vezes um pouco mais. Pois, consegui bater o recorde de vida, de dez dias sem chocolate, comendo uma tâmara por dia no lugar. Funciona! Inclusive na TPM, nesse caso, subo o consumo para duas tâmaras. 

Mas esse já é outro teste, super recomendo. Voltando ao nosso teste de personalidade, para avaliar uma comida pelo tato existem duas etapas, o por dentro e o por fora: a tâmara por fora, como já disse tem aquela característica de fruta desidratada, é como uma uva passa, mas o que a faz parecer a barata é sua casquinha que lembra o exoesqueleto do repugnante inseto, mas ao abrirmos a fruta sua textura interna é fibrosa e macia. Se você colocar ela inteira na boca é como se colocasse uma boa quantidade de chocolate na boca, lembra aquele momento que ele começa a derreter lá dentro? Essa é a textura da tâmara. 

O que nos leva ao sabor: a primeira vez que comi Tâmara, achei tão doce que comi meia, eu achei doce! A pessoa que come chocolate, mais do que bebe água. São os mistérios da degustação. 

 Fico pensando se tivesse me fechado a essa descoberta, abrir a boca aos alimentos significa se abrir para novas experiências e descobertas. Deixar de consumir tantos doces faz bem para minha saúde, mas não era algo que eu estava buscando. Eu só me permiti experimentar. E foi uma descoberta maravilhosa! 


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Banheira jazz

Vejo um espelho quebrado
Enquanto você me enrola 
Deve ser meu ego inflado 
De tanto olhar pra bola.

Reflito após um momento
Breja, boteco e alguém
Onde trocamos um dia 
Papo de um mês bem.

Fazia firula no campo 
Até perder o campeonato
Quando apagaram os holofotes
Me enxerguei de fato.

Mediocridade aceitação 
Posso sanar alguns defeitos 
Apago as luzes, veja só 
Vocês são tão perfeitos.

Ligo as luzes
Somos imperfeitos .

Volto num trem fantasma 
abandonado na estação 
Carga pesada dentro de um vagão
Saudades, problemas, fome, tesão
Brigo com os deuses da imaginação

Controlo as chamas desse corpo
Na quarta fase do ano 
Vinho seco e nós tomando banho 
Banheira, jazz, dois animais suando. 

Calor e carne da terra do Masquerano
Adoro blues, voz e violão
Se não tem cama
Transamos no chão 
Acaba o sonho
Saio do vagão.



segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Rotina

"Não haviam becos sem saída que não fossem magnéticos. Tudo naquela cidade parecia caótico e surreal. A. contemplava da janela do bonde a multidão que ressoava em ritmo frenético e silencioso. Desceu um ponto antes, queria o sol na cara e que o suor do corpo se espalhasse por inteiro.

Não há melhor companhia, pela manhã, do que um cigarro. Chegara a esta conclusão, um pouco antes de olhar pela enésima vez o relógio. Nunca reparara como 5 minutos, ou trezentos segundos, podem demorar a passar. O tempo sempre lhe escorreu pelas mãos. De modo que nunca soube lhe dar valor. Imaginava sua juventude como algo inesgotável. Dessa forma, jamais temeu a velhice. 

Chegara como de costume e não precisava mais dizer seu nome, nem a que viera. Subindo as escadas, ia desenrolando o lenço preso ao pescoço, deixando o cabelo cair de lado, onde se podia ver marcas deixadas pelos colares pesados. Carregava-os ora por querer sentir-se vista, ora por castigo.

Pela fresta da porta, apenas a luz fraca do corredor, cortando a atmosfera esfumaçada. Nada mais. Os ponteiros do relógio lhe torturavam com sua passada imutável. Não conseguia se concentrar. Abrira um livro, cantarolara uma música. Abriu a garrafa de black label, já perto do fim; desistiu. Acendeu mais um cigarro. A única coisa que lhe dava algum conforto.

Empurrando a porta entreaberta, flagrou cena que imediatamente soube que não era por acaso e que nem se esqueceria. T. estava sentado na poltrona, com as pernas afastadas como os homens fazem, lendo um exemplar de Factotum. Assim que percebeu sua chegada, levantou o olho e A. sentiu uma leve pontada, um golpe, uma ferida que não cicatriza. Sabia que seu tempo seria indeterminado para entender porque esta cena é daquelas que ficam.

A lufada de ar trazida pela abertura da porta lhe empurrou para fora das entrelinhas de um ensaio que analisava as decisões dos personagens de Tarantino, à luz da deontologia kantiana. Qualquer cigarro seria desnecessário. Gostava tanto de ser com A., que mesmo o simples ato de fumar um cigarro passara a ser muito melhor, se feito com ela. Um dia se perguntaria se a melhor companhia pela manhã seria um cigarro ou o colo dela. Mas só depois, talvez.

Seus pelos gritavam ao quererem sair do botão entreaberto da camisa. Nenhuma palavra quase nunca é dita. Ataque bruto e inocente, selvagem e harmonioso, incólume e perdido. A., quando pensa em seus momentos de delírio e prazer extremo ao lado de T., entende o verdadeiro sentido de seu âmago. Sabe que ele é um lobo. Mas o que seria um lobo? No alemão, é wer=ser e wolf=lobo. Não haveria de ser meia-noite e nem lua cheia para tal metamorfose".

Não esperou virar a página, ou mesmo o último trago. Sequer esperaram estarem totalmente nus. Amaram-se no sofá, envolvidos na atmosfera pesada, de fumaça e de saudade. O suor que tomava todo o corpo de A. deixou T. ensopado, sua camisa já  transparente grudada em seu corpo, e seus pelos já sentiam o roçar dos seios dela, macios, mornos e entumecidos. Sentiu seu mamilo salgado de suor ao levá-los à boca. Os mesmo cinco minutos, ou trezentos segundos, que tanto se estenderam antes da chegada dela, se desfizeram em suor, salivas e semên. Passaram rápido, na enternidade vivida na junção daqueles corpos que pareciam se encaixar em cada curva possível. 


Não se viam há apenas dois dias. Mas esse intervalo de tempo parecia ser mais do que o suficiente para arar, semear, germinar e colher o desejo que alimentavam um pelo outro desde o primeiro dia em que se viram. Fumaram o mesmo cigarro, já no chão, mas ainda com alguma roupa no corpo, uma calça pelo joelho e uma calcinha posta para o lado. Fumaram o mesmo cigarro, após fazerem amor, talvez o único momento de rotina possível em seus encontros”. 


domingo, 24 de janeiro de 2021

Crônica da vida real


Faz muito tempo que deixei de escrever e tomar a escrita como minha mais sincera expressão. Não sei dizer exatamente qual foi minha última criação. Entretanto, esse era um dos maiores prazeres que eu tinha, passava horas escrevendo em cadernos, antes mesmo dos computadores de mesa serem itens comuns nas casas das pessoas, e ficava ansiosa para a cada término de capítulo de um novo livro, ou mesmo da ideia do tal livro, ler para todos da minha família. Talvez tenha deixado de lado esse prazer quando comecei a ser consumida pela urgência das obrigações do “ser adulta”, seja lá o que isso quer dizer; mas o fato é que o desenrolar da vida foi ficando cada vez mais urgente e foi ocupando quase que a totalidade das minhas preocupações diárias e eu fui perdendo o encanto em criar novas histórias.

Claro que não me distanciei em absoluto disso, pois o trabalho que escolhi, cientista política e pesquisadora, oferece oportunidades ímpares para momentos de reflexão e posterior escrita, o que acaba por me aproximar muito de mim mesma. E foi num destes momentos, como tantos outros na vida, em que somos surpreendidos por insights que trazem em si o poder de gerar sementes a serem cultivadas (ou não) que a ideia central deste texto surgiu. A princípio como um pensamento que me rondou por dias, depois como um texto corrido no celular, daqueles que a gente escreve no momento que vem a inspiração. Sinta-se livre para entender como achar melhor, mas me deixa muito confortável interpretar este ocorrido como uma crônica da vida real.

Um dia, discutindo com meu antigo grupo de trabalho, em uma pesquisa sobre a saúde de adolescentes e jovens, acabamos nos deparando com algumas questões surgidas de uma discussão com os jovens, em que foram abordados, entre outras questões, os incômodos da famigerada pergunta “O que você vai ser quando crescer”, ao que um/a deles/as pontuou algo do tipo “Como assim o que eu quero ser? Eu JÁ não sou alguém?”. Essa observação tão profunda da existência (embora ele ou ela não tenha classificado sua frase como uma) foi suficiente para levantarmos, em um grupo de profissionais tão sensíveis ao impacto dessa colocação, questões muito mais abstratas sobre “ser” que fogem completamente do nosso raciocínio usual, e no meu caso em particular, de alguém que busca o melhor desenho para políticas públicas. Lembrei imediatamente do conto “O Espelho” de Machado de Assis, que havia lido na minha adolescência, embora naquele momento eu sequer lembrasse o título para dizer, pois ele havia ficado entre aquelas memórias de escritora que foram se apagando ao longo do tempo.

O meu comentário, naquele momento do calor da discussão, parecia fazer todo o sentido, pois lembrava com toda a clareza do mundo que o tal conto tratava da história de um “não me lembro qual patente” (hoje sei que era alferes da Guarda Nacional) que não podia mais se reconhecer sem a farda quando se olhava no espelho. O momento passou, a ideia desapareceu na pressa da vida e não muito tempo depois, na frenética e superficial visualização de posts da timeline do Facebook, eis que surge o título do conto, que havia sido adaptado a uma peça de teatro que fazia ali sua divulgação, e eu com tempo para sanar as dúvidas, corri até a estante da sala para buscar na coleção de livros do Machado - que meu pai com tanto orgulho fez para mim e minhas irmãs - o livro Papéis Avulsos II, em que se encontra o tal conto.

Confesso que reli muito mais pra afagar meu ego - pois havia ficado maravilhada por ter tão oportunamente ressuscitado o Jacobina (esse é o nome do personagem), naquele momento da discussão e precisava ter certeza de que não havia dito nenhuma bobagem - do que propriamente pelo prazer de reler Machado depois de tantos anos esquecido naquela prateleira. Ingenuidade! Não porque a história não se trata do que eu achava que fosse, de fato é, mas porque não foi eu que reli o conto, e sim ele que me releu. Parei para pensar naquele diálogo mudo que se dava na transcendência dos séculos entre o Machado e aquele/a jovem da pesquisa e percebi a quantidade de papéis e títulos que fui adquirindo ao longo da vida e que, de alguma forma, foram obscurecendo minha imagem sem a “farda”. Mas então, o que sou?

Qualquer apresentação que eu faça de mim mesma vem sempre iniciada com as minhas funções sociais, seja em que dimensão elas se encontrem mas, sobretudo, aquelas que pertencem ao mundo do trabalho: meus títulos e onde foram conseguidos, o que faço, desde quando, o que já publiquei. Mas é isso mesmo o que me define? O mais complexo quando se atenta a isso é continuar e tocar em frente sem a devida reflexão de sua totalidade depois de um mea culpa, pois ficou evidente que em um dado momento eu deixei de ser o que sou para me tornar o que estou.

Indo mais a fundo, percebo que isso realmente está impregnado em todos os setores da vida: a gente se torna o romance que fracassou, o montante de dinheiro que temos no banco, o carro que dirigimos, os ambientes que frequentamos, etc, etc, etc. Obviamente que acredito que nossa compreensão e interpretação da vida, do que é bom e o que não é, por exemplo, são moldadas de acordo com nossas experiências, sem o que seríamos incapazes de nos posicionar e nos mostrarmos ao mundo, ou mesmo tomar decisões futuras e nos auto preservar. Mas, para além disso, quando nos despimos de tudo, muitas vezes fica a sensação de que não sobrou nada, já que nos acostumamos a viver na superfície e não na essência.

Mas, retomando a razão que me fez começar dizendo que não escrevo há muito tempo, quando reli o conto do Machado percebi duas coisas muito importantes. A primeira é que ele sempre foi uma inspiração muito forte, mas tão forte, que durante muito tempo, lá na metade dos anos 1990 e início de 2000 eu acreditava que eu poderia escrever como ele, exatamente como ele, com uma linguagem própria do seu tempo e assim me tornar uma ótima escritora. A segunda e mais importante para o contexto, é que escrever sempre esteve na minha essência, ainda que sejam meus atuais textos acadêmicos, e considero que este seja apenas um dos diversos traços do meu "eu real" que andou adormecido e, além disso, tendo a acreditar que a grande arte da vida é encontrar e despertar todos eles, já que estão invisíveis na imagem que o espelho nos devolve todos os dias. Por isso, acho justo utilizar essa “mini-crônica da vida real” para prestar minhas sinceras homenagens ao Machado que me influenciou e continua influenciando até hoje, além de convidá-los/as a ler o referido conto, e também provocar os que lerem este texto a refletir sobre o que SOMOS quando não ESTAMOS sendo nós mesmos/as.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Tucanistão

Já disse Ciro Gomes, "a democracia é uma delícia (...) mas ela tem certos custos". Em São Paulo o maior custo é a falta de alternância de poder, gerada pela insistência da população em eleger o mesmo partido. Desde a última eleição para a prefeitura da capital, a população vem sentindo o peso dessa dominância.

O PSDB chegou ao poder em 1995 e desde então só não governou em dois períodos de dois anos, quando o vice-governador de outro partido assumiu o mandato, após Geraldo Alckmin abandonar o cargo.

 Atualmente o governo é de João Doria, que desde 2016, quando entrou para a política, afirma não ser político, mas gestor. Talvez por ter cara de playboy e usar roupas caras ninguém aponte a mediocridade de sua gestão, desde a breve passagem pela prefeitura de São Paulo, quando garantiu não abandonar o cargo para concorrer ao governo, até a atual gestão do governo, que assumiu após abandonar a prefeitura.

Na cidade de São Paulo, após ser prefeito João Doria perdeu a eleição para governador. O cargo só foi garantido pelos votos do interior do estado. Talvez por isso permaneceu distante de toda a campanha que elegeu Bruno Covas para a prefeitura. Doria só apareceu após a vitória ser anunciada, com todo o marketing que costuma rondar suas ações.

Com o governo e a prefeitura da capital garantidos o PSDB vem mostrando desde novembro a qualidade da gestão de quem quer ser visto como uma ‘direita moderada’, visando as eleições presidenciais de 2022.

No dia seguinte ao segundo turno das eleições para a prefeitura o governador anunciou medidas mais duras para o combate à Covid-19, que eram extremamente necessárias, mas negadas ao longo de toda a campanha. Na linha das medidas impopulares, dois dias após as eleições, sem muito alarde da mídia, o governo aumentou as tarifas de pedágio de todo o estado.

Já em dezembro, Bruno Covas, que cumpriu apenas 41% das metas de seu governo, sancionou o aumento de 46% no próprio salário, que passa de 24 mil para mais de 35 mil reais. Na mesma época João Doria decretou que todo o estado de São Paulo passaria o fim de semana de Natal e Ano Novo na fase vermelha, em uma tentativa de barrar os casos de Covid-19, que já vinham aumentando assustadoramente. Logo em seguida o governador viajou para Miami.

É evidente que políticos tem direito a férias e descanso, mas em um momento em que as contaminações já estavam em forte ascensão e havia uma preocupação em conscientizar a população sobre a importância de ficar em casa, o governador resolve pegar um avião e viajar.

Não contentes em aumentar o próprio salário em plena crise econômica ou viajar após decretar endurecimento da quarentena, os governantes do PSDB iniciaram o ano anunciando fim da isenção de ICMS no setor da saúde, com grande impacto em materiais hospitalares e medicamentos. O sindicato do setor precisou mover uma ação para barrar o fim da isenção de tarifa na justiça.

Em meio a tanta turbulência causada pela pandemia e com um presidente que sobrevive pelas confusões que cria, tantos escândalos estatais acabam logo atropelados por novas loucuras. Isso somado à devoção paulista pelos tucanos garante vida longa ao partido que vive da aparência, mas não entrega à população as belas cidades exibidas na propaganda eleitoral.

Quando comparado ao presidente, João Doria chega a parecer sensato quando faz o básico, como investir em vacinas para conter a pandemia. O marketing pessoal em torno da Coronavac foi parecido com a prefeitura de São Paulo, quando o governador só apareceu na festa da vitória.

Doria fez grande estardalhaço, misturando eficiência e eficácia para divulgar que a vacina tem de 78 a 100% de eficiência. Um carnaval midiático para depois se esconder e não participar da divulgação de eficácia da vacina, de 50,38%. A vacina não é ruim, mas a luxúria tucana deve sustentar a fama de bom gestor a qualquer custo e preferiu confundir os conceitos para abafar a eficácia mais baixa que outras vacinas.

Já em campanha para a presidência em 2022, João Doria afirma estar do lado da ciência. Mesmo após tentar cortar quase meio bilhão de verba para a Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – em plena pandemia.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

ok, então estamos em janeiro de 2021

São Paulo, segunda-feira, 18 de janeiro de 2021.

- ok, então estamos em janeiro de 2021 - Cristina Santos - post 9 - Blog das 30 pessoas - 

Título: ok, então estamos em janeiro de 2021

   Okay ou ok? Que seja. Essa palavra nem é nossa. Mas vamos de ok. Tudo bem? Ok.
   Ok, então estamos em janeiro de 2021. A Terra está girando mais rápido, por isso o tempo está correndo. Oi? Oi! Calma. Ninguém vai cair. (Será?) Ainda. O wifi está conectado, mas a mensagem que aparece é: "Conecte-se à internet. Você está off-line. Verifique sua conexão. Tente novamente". Eu já verifiquei !!! Eu estou  conectada sim !!! E nós sabemos o porquê disso. Começa com robôs dançando uma música bonitinha; o celular falando que você não está conectada, embora o sinal mostre que está sim. E aí buuummm !!! Sarah? John? Cadê vocês? Neo?
   Ok, então estamos em janeiro de 2021. E onde está a nossa vacina? Queremos Vacina! Queremos Vacina! Queremos Vacina! Eu quero fazer parte da equipe do Professor Charles Xavier. Queremos Vacina! Queremos Vacina! Queremos Vacina! E eu que sempre me achei invisível, descobri que estavam falando mal de mim. Que coisa! Coisa é uma palavra tão maravilhosamente versátil. Adoro.
   Ok, então estamos em janeiro de 2021. Os trovões voltaram. Acho que a chuva vai recomeçar o seu trabalho. A dosagem foi aumentada novamente. É sim um bom remédio, é que é necessário um conjunto de coisas (olha a palavra coisa aí, pessoal) para dar uma equilibrada na montanha russa do existir. Curti muito a minissérie: A Cor do Poder, e os primeiros episódios da série: Shippados. 
   O poema: Razão de Ser, do Paulo Leminski, começa com: "Escrevo. E pronto." E termina: "Escrevo apenas. Tem que ter por quê?"
   P.S.: 1 - O meio do poema o google te conta. Okay? Okay! 
   P.S.: 2 - Valendo !!! Okay? Okay! é uma referência a qual livro?
   P.S.: 3 - Eu preciso falar que o bebê Yoda é o serzinho mais lindamente feinho da galáxia. Quero a pelúcia. 


   Oiê! Espero que estejam bem. Acreditemos em dias melhores. 💙💙💙  Ontem, domingo, dia 17 de janeiro de 2021, a ANVISA APROVOU O USO EMERGENCIAL DA VACINA !!! 💙💙💙 UHULL !!! \0/ \0/ \0/ Feliz 2021. Sorriam. Se precisarem sair de casa, por favor, usem máscara. Respeito. Cuidado. Carinho. 
   Até o próximo post.
   Beijos.
   Cristina Santos 

sábado, 16 de janeiro de 2021

O que vem depois?




sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Representa na Gringa

Amiga leitora e amigo leitor,

Feliz 2021! Quem em 2021, o novo corona vírus nos dê uma trela e nos devolva a liberdade de andar sem máscara e no permita aglomerar com os nossos queridos.

Falando em aglomerar com queridos, em 2020 eu andei virtualmente bem próxima de uma galera muito maneira, responsável por um projeto chamado Representa na Gringa. Lembra do meu post passado sobre mentoria? Pois bem, foi através desse projeto que comecei a mentorar alguns candidatos para a bolsa Chevening.

O Representa na Gringa nasceu para combater um problema muito sério, o racismo estrutural, que infelizmente acaba se refletindo no perfil do bolsistas Chevening. Por exemplo, embora a maior parte da população brasileira seja negra (pretos e pardos), a quase totalidade dos bolsistas Chevening é composta por pessoas brancas. Eu fui uma dos poucos bolsistas negros do meu ano e também da história Chevening no Brasil. O racismo estrutural acaba afetando muito os povos indígenas também.

Para combater essa desigualdade de raça tão marcante entre os bolsistas Chevening, vários bolsistas e ex-bolsistas se reuniram e se organizaram em várias frentes de combate ao racismo estrutural. Uma dessa frentes é a mentoria para candidatos negros e indígenas, com a intenção de apoiá-los no processo seletivo Chevening. 

Se você é negro ou indígena e gostaria de se aventurar numa bolsa Chevening, fique ligado aqui nos posts. Eu vou contar para vocês quando abrirmos vagas para novos mentorados/mentoradas. Como os posts aqui são mensais, pode ser que eu compartilhe alguma coisa no Twitter (@silvajacqueline) ou no Instagram (@silvajacq) também.

É muito comum planejarmos o que almejamos para o ano que se inicia. O Representa na Gringa e as mentorias para negros e indígenas (mas não somente para eles) com certeza estão na minha lista de atividades para 2021. E você, já pensou sobre o que deseja para esse ano? Me conta aqui nos comentários. 

Se você tem intenção de estudar no exterior, especialmente no UK com uma bolsa Chevening, fique ligado nos próximos posts.

Abraços e até breve,
Jacque.

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Dezembro: Mentoria

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Onde vivem as decisões? Parte 3 - FIM

Olá, que haja vacinas em seu 2021!

Este texto tem 3 partes, está é a última, aqui a primeira e a segunda parte. Espero que a leitura seja prazerosa!


....

Donato se espreguiçou longamente na cadeira. Um sorriso fino nasceu dos seus lábios, falaria se quisesse, se quisesse, gostava de ficar saboreando as palavras na boca, as certas, as escolhidas, criadas na assembleia mental que presidira. 


Deixou o mar encher as narinas, a areia fofa brincar com os dedos dos pés, espreguiçou uma segunda vez ainda mais longamente sentado na cadeira de praia; de onde estava via na beira da água, a sobrinha brincando com a vovó e o irmão, Romeu, caminhando com Regina na areia, indo sempre à esquerda, se afastavam...


Sorriu um riso leve, sentiu tanta culpa por usar o desenho da criança para rabiscar as decisões que comprou de reposição um pacote de 100 folhas sulfite e uma caixa de lápis de cor. Não sabia se o desenho havia feito falta, não sabia que fim a arte dos cálculos de danos e ganhos tinha tomado. Qual fim teria tomado?! Não importava, foi o certo a fazer. 


O certo a fazer! Seu riso, agora, transbordava. O “certo a fazer?” impressionava como o que era derradeiro na sentença não eram as palavras que a compunham, mas a acentuação final. Não são nem três palavras que tiram o sono, que dão dor de cabeça, que causam briga, é apenas um sinal: uma interrogação ou as reticências infinitas; o quão é difícil uma exclamação, um ponto final. 


Marina, noiva de Donato, mantinha um olho nele e outro no picolé de uva que saboreava. Qual era afinal a graça?! Sabia que o noivo pensava para dentro, mas o que tanto ria de pensar? Ela quem tinha sido contra no início, virou de lado, quando o companheiro decidiu trocar de emprego. 


O trabalho de jornalista de revista sobre agronegócio, não era ruim: salário razoável, era na área de formação, CLT ( o que é cada vez mais raro), mas que tema mais chato! Pesquisar e escrever sobre tipos de bois, veterinária e tratos, a parte de economia era interessante, entretanto o tédio o consumia.   


Então, se o interesse era economia que trabalhasse com economia, ou política, ou esportes. Queria tentar, queria falar às pessoas, tocar corações e mentes.  


O céu  e o mar se encontram no infinito azul. Podia-se sentir a chuva que vinha pelo cheiro, pelos poros. 

  

Quando Romeu voltou, só, chamou Hermione, a filha, dona dos rabiscos da folha para almoçar. Era melhor sair da praia antes da revoada.


terça-feira, 5 de janeiro de 2021


sábado, 2 de janeiro de 2021

2021

 

                                                                          

Sempre existiu e sempre existirá um banco na praça de graça

 Luz desvelando nossa pequenez 

 

 Serenar a alma

Desligar a razão

Viajar sem noção

 

No banco da praça,

um segundo abarca a eternidade

de toda graça.

 

Tudo acontece,

quando um sorriso se abre,

num banco na praça de graça.

 

Por Elisabeth Guimarães

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

As primeiras vezes

O primeiro banho;

A primeira roupinha e o primeiro sapatinho;

Os primeiros passos;

A primeira queda;

A primeira palavra;

O primeiro dente;

A primeira cárie;


Tudo registrado, nas peças de roupas ou objetos guardados, fotos e vídeos que capturavam cada momento, e uma história decorada, na ponta da língua, pra ser contada em todo encontro com família que surgisse a oportunidade.


A primeira paixão;

O primeiro beijo;

O primeiro relacionamento;

A primeira vez;

A primeira briga;

A primeira decepção;

O primeiro rompimento;

O primeiro coração partido;


Tudo registrado nas memórias e até naquele aperto no coração que tanto experimentou esses momentos que o fizeram pulsar  mais rápido, e que hoje servem de aviso para as próximas experiências. 

O primeiro emprego;

O primeiro salário;

A primeira promoção ou

A primeira demissão;

A primeira viagem;

A primeira casa ou apartamento;

O primeiro casamento;

O primeiro filho;

...


Tudo registrado nos momentos compartilhados com os amigos, naquela noite bebendo e curtindo que você e seus amigos praticamente fecharam o bar.

São tantas as “primeiras vezes”.

Esse é o primeiro texto de 2021, e quero te convidar a refletir sobre isso: O que você vai se permitir fazer pela primeira vez esse ano? Com quem vai compartilhar? Que memórias vai guardar?